Cotidiano

Papo de Domingo: “É difícil lidar com sonhos”

O Papai Noel Augusto Matias revela como faz para manter firme o espírito natalino

Publicado em 20/12/2014 às 23:00

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Há 15 anos ele atua como Papai Noel — 12 deles exclusivamente no Shopping Parque Balneário, em Santos. Corintiano roxo, o metalúrgico aposentado Augusto Matias Tomas, 66 anos, utiliza todo o seu carisma para manter firme o espírito natalino. Casado há 40 anos, pai de três filhos e avô de três netos, o pisciano irreverente tem como principal marca a voz e a dedicação, que já encantaram pelo menos duas gerações de crianças. Em entrevista ao Diário do Litoral, o Papai Noel, também conhecido como Zico Noel, revelou como é lidar com sonhos, ainda que impossíveis.

Diário do Litoral - Há quanto tempo o senhor atua como Papai Noel? Como surgiu a ideia?

Augusto Matias Tomaz –
Neste shopping, há 12 anos. No total são 15 anos já. Nunca atuei como Papai Noel. Era metalúrgico e o que me motivou é que precisavam de um Papai Noel para uma creche em Cubatão. Perguntaram: cara, o rapaz que faz o Papai Noel não vai poder ir, será que você não pode quebrar esse galho para a gente não? Respondi que nunca tinha feito esse papel, mas que toparia. Compraram roupa, cabelo, barba e eu fui. Peguei gosto. Adorei. Nunca mais eu parei.

DL - Notei que a sua barba é natural. Sempre foi assim? Como o senhor a mantém ao longo do ano?

Augusto –
Eu nunca tive barba. No começo era com barba e cabelo artificial. Notei que a minha barba era branca e já que eu gostava de ser Papai Noel deixei crescer. O cabelo também acompanhou. Uso só um shampoo especial diferente. Não corto, apenas dou uma aparadinha de vez em quando.

DL – Quais os principais requisitos para ser um bom Papai Noel?

Augusto -
Acho que precisa gostar. Gostar de gente. Não é fácil ser Papai Noel não. Tem que ter sensibilidade. O pessoal fala: senta lá, põe as criancinhas no colo e está tudo certo. Mas não é só isso. Se não tiver carisma você não consegue ser um bom Papai Noel. Eu adoro gente. Eu adoro brincar e conversar. Não tenho tristeza. Nunca fui triste, graças a Deus. Tive momentos tristes, mas no dia a dia sou um cara muito feliz. Duro, mas feliz (risos).

DL - A barba e o cabelo chamam a atenção na rua?

Augusto -
Costumo ouvir olha o Papai Noel. Criança não se engana. Fala para a mãe que é o Papai Noel. Uma vez fui ao supermercado e uma mulher me cumprimentou dizendo que conheceu a minha voz. Ela já tinha vindo ao shopping. Quando eu coloco a roupa de Papai Noel eu incorporo. A minha mulher até diz “você tem cheiro de Papai Noel”.

Há 12 anos, Zico Noel atua no mesmo shopping em Santos (Foto: Matheus Tagé/DL)

DL - Durante os 15 anos em que o senhor atua como Papai Noel houve alguma história que tenha marcado?

Augusto -
Tem muita coisa. Muitos pedidos tristes de crianças que pedem o pai e a mãe de volta. Este ano, uma criança falou bem baixinho: Papai Noel, sabe o que queria realmente, que esse ano a minha mãe passasse o Natal comigo. Disse a ele, olha a sua mãe aí. É mas ela não passa o Natal comigo. Aí eu falei com a mamãe, a senhora é médica? Não, sou enfermeira e eu estou de plantão no Natal. Poxa é uma pena. A criança falou quase chorando para mim. Eu fico sem ação. Você não espera um pedido assim. Sou um cara muito emotivo, a gente se desmancha à toa. E quando pedem a mãe e eu digo: a sua mãe não está casa? Não, ela morreu está no céu (Augusto se emociona). Abraço, beijo e mudo de assunto. Não tenho como trazer a mãe dele de volta. A gente tem que ter jogo de cintura.

DL - Como é lidar com sonhos?

Augusto -
É difícil você lidar com sonhos. Teve uma criança que me pediu para trazer a Mamãe Noel para ela ver. Ele me perguntou o que ela faz. Disse que ela fica em casa cuidando dos meus duendes e das renas, e que um dia vou mostrar ela para ele. O legal é não destruir essa imagem. Uma hora esse encanto do Natal vai acabar. Como sou Papai Noel há 12 anos aqui, um rapaz veio com a esposa e o filho e disse que sentou no meu colo. Trouxe o filhinho para eu ver. Isso não é legal?

DL - Quando o Natal acaba e o Papai Noel sai de cena, ele dá o lugar a quem?

Augusto -
Ao Augusto. Um aposentado folgado, que fica o dia inteiro na internet, não sai de casa e não gosta de andar (risos). Sou muito caseiro. Gosto de música (qualquer tipo). Eu não gosto de futebol, só gosto de um time: o Corinthians. Não perco nenhum jogo. Um cara medroso, manhoso, amoroso, carinhoso e sentimental demais. Esse é o Augusto.

DL - Qual a mensagem de Natal que o Papai Noel, ou melhor, o Augusto deixa?

Augusto -
Mensagem é um negócio sério. Eu acho que a gente se esquece do fator principal do Natal, que é o nascimento de Cristo. A gente pensa no presente, pensa na bola da árvore de Natal (...). O Natal é o nascimento de Cristo e vejo pouca homenagem a ele. O meu papel é dar presente e falar com as crianças, mas a gente nunca deve esquecer que nesse dia nasceu Jesus Cristo. A gente precisa pensar que dinheiro é importante, mas não é tudo. Que a principal mensagem de Natal é amar ao próximo.

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