Cotidiano

Papa Francisco diz que igreja deve encontrar novo equilíbrio ou fracassará

O pontífice advertiu que a estrutura moral da igreja católica pode "cair como um castelo de cartas" se não equilibrar suas regras

Publicado em 19/09/2013 às 15:24

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O papa Francisco advertiu nesta quinta-feira que a estrutura moral da igreja católica pode "cair como um castelo de cartas" se não equilibrar suas regras divisionistas sobre aborto, gays e contracepção com a necessidade maior de torná-la um lugar misericordioso e mais acolhedor para todos.

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Após seis meses de papado, Francisco falou sobre sua opinião sobre a igreja e suas prioridades como papa em uma entrevista longa e extremamente franca à La Civiltà Cattolica, revista italiana jesuíta, que foi publicada simultaneamente nesta quinta-feira em jornais jesuítas em 16 países.

Na matéria, Francisco amplia seus comentários inovadores sobre gays e reconhece alguns de seus próprios erros. Ele falou sobre seus compositores, artistas, autores e filmes favoritos (Mozart, Caravaggio, Dostoiévski e "La Strada", de Fellini) e disse que reza mesmo quando está no consultório do dentista.

Mas sua opinião sobre o que a igreja deve ser destaca-se, principalmente, porque contrasta fortemente com muitas das prioridades de seus antecessores imediatos, João Paulo II e Bento XVI, que eram intelectuais, para quem a doutrina era suprema, uma orientação que guiou a seleção de uma geração de bispos e cardeais em todo o mundo.

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Na matéria, Francisco amplia seus comentários inovadores sobre gays e reconhece alguns de seus próprios erros (Foto: Divulgação)

Francisco disse que o ensino dogmático e moral da igreja não são equivalentes. "O ministério pastoral da igreja não pode ser obcecado com a transmissão de uma série incoerente de doutrinas a serem impostas insistentemente", disse o papa. "Temos de encontrar um novo equilíbrio, caso contrário até mesmo o edifício moral da igreja deve cair como um castelo de cartas, perdendo a frescura e a fragrância do Evangelho."

Em vez disso, afirmou, a igreja católica deve ser como "um hospital de campo após a batalha", cuidando das feridas de seus fiéis e saindo para encontrar os que foram machucados, excluídos ou que se afastaram.

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"É inútil perguntar a uma pessoa seriamente ferida se ela tem colesterol alto ou seu nível de açúcar no sangue!", disse Francisco. "Você tem de cuidar de suas feridas, depois podemos falar sobre o restante."

"Algumas vezes a igreja se fecha em pequenas coisas, em regras mesquinhas", lamentou ele. "A coisa mais importante é a primeira proclamação: Jesus Cristo nos salvou e os ministros da igreja devem se ministros da misericórdia, acima de tudo."

A advertência deve ter fortes reverberações nos Estados Unidos, onde alguns bispos já expressaram publicamente que Francisco não atacou alguns dos ensinamentos da igreja sobre aborto, contracepção e homossexualidade, questões sobre as quais os bispos norte-americanos geralmente se colocam na linha de frente

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Na semana passada, o bispo Thomas Tobin, de Providence, Rhode Island, disse em entrevista a jornal de sua diocese que "estava um pouco desapontado" com o fato de Francisco não ter falado sobre abordo desde que foi eleito.

O papa reconheceu que foi "repreendido" por não ter falado sobre tais questões, mas disse que não tem de fazer isso. "Não podemos insistir apenas em questões relacionadas ao aborto, casamento gay e uso de métodos contraceptivos. Isto não é possível", disse ele. "O ensinamento da igreja, nesta questão, é claro e eu sou um filho da igreja, mas não é necessário falar sobre essas questões o tempo todo."

Francisco, o primeiro jesuíta a se tornar papa, foi entrevistado pelo editor da Civiltà Cattolica, reverendo Antonio Spadaro, durante três dias de agosto no hotel do Vaticano onde Francisco escolheu viver. O Vaticano examina todo o conteúdo da publicação e o papa aprovou a versão em italiano da matéria.

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Nada do que Francisco disse indica qualquer mudança nos ensinamentos da igreja, mas ele estabeleceu um tom diferente e assinalou novas prioridades se comparado a Bento XVI e João Paulo II, prioridades que já ficaram bastante visíveis por causa de seu estilo simples, sua abordagem aos mais marginalizados e sua insistência de que padres sejam pastores e não burocratas. 

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