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Jorge Mario Bergoglio lançou um projeto de "conversão do papado", propôs a "descentralização" da Igreja e apresentou o plano da maior reforma feita no Vaticano em pelo menos meio século. No primeiro documento de próprio punho apresentado nesta terça-feira, 26, o papa Francisco explica em mais de 200 páginas o projeto para o futuro da Igreja, lançando duros ataques contra sacerdotes e denunciando a guerra pelo poder dentro dos muros da Santa Sé.
"Desejo dirigir-me aos fiéis cristãos para convidá-los a uma nova etapa de evangelização marcada por esta alegria e indica direções para o caminho da Igreja nos próximos anos", escreveu na Exortação Apostólica publicada nesta terça-feira, o Evangelii Gaudium do Santo Padre Francisco aos Bispos, Presbíteros, Diáconos às Pessoas Consagradas e aos Fiéis Laicos sobre o Anúncio do Evangelho no Mundo Atual. "É uma nova evangelização no mundo de hoje, insistindo nos aspectos positivos e otimismo", afirmou o cardeal Rino Fisichella, presidente do Conselho Pontifical para a Nova Evangelização e que admite que o papa é "franco". "O centro é o amor", insistiu. "Sem isso, a Igreja é um castelo de cartas e isso é o nosso maior perigo", declarou.
No texto, Francisco apela à Igreja a "recuperar a frescura original do Evangelho", mas encontrando "novas formas" e "métodos criativos". "Precisamos de uma conversão pastoral e missionária, que não pode deixar as coisas como elas são".
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Uma parte central de seu trabalho será o de "reformar as estruturas eclesiais" para que "todas se tornem mais missionárias".
O recado é claro: promover uma "saudável descentralização" na Igreja, num gesto inédito vindo justamente da pessoa que representou por séculos a centralização da instituição e sempre lutou contra repartir poderes. A esperança é de que as conferencias episcopais possam contribuir para "o sentido de colegialidade".
A descentralização apontaria até mesmo para a abertura de espaços para diferentes formas de praticar o catolicismo. "O cristianismo não dispõe de um único modelo cultural e o rosto da Igreja é multiforme", escreveu. "Não podemos esperar que todos os povos, para expressar a fé cristã, tenham de imitar as modalidades adotadas pelos povos europeus num determinado momento da historia." Para o papa, teólogos precisam ter em mente "a finalidade evangelizadora da Igreja".
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Nem o próprio papa estaria isento da reforma. Sua meta é a de promover uma "conversão do papado para que seja mais fiel ao significado que Jesus Cristo lhe quis dar e às necessidades atuais da evangelização". A burocracia e a aristocracia da Santa Sé também precisa ser revista. "Nesta renovação, não se deve ter medo de rever costumes da Igreja não diretamente ligados ao núcleo do Evangelho, alguns dos mais profundamente enraizados ao longo da história." Bergoglio insiste que prefere "uma igreja ferida e suja por ter saído às estradas, em vez de uma igreja preocupada em ser o centro e que acaba prisioneiras num emaranhado de obsessões e procedimentos".
Abertura
Um dos pontos centrais é ainda a abertura da Igreja aos fiéis. "Precisamos de igrejas com as portas abertas" para evitar que aqueles que estão em busca de Deus encontrem "a frieza de uma porta fechada". "Nem mesmo as portas dos Sacramentos se deveriam fechar por qualquer motivo", escreveu. A escolha dos fiéis que deveriam comungar também é atacado pelo papa. "A Eucaristia não é um prêmio para os perfeitos, mas um generoso remédio e um alimento para os fracos", alertou.
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Poder
O documento ainda lança severas críticas a padres e sacerdotes. O papa pede que se evite as "tentações" do individualismo e alerta que "a maior ameaça é o pragmatismo incolor da vida quotidiana da Igreja, quando na realidade a fé se vai desgastando". Pedindo uma "revolução de ternura", o papa critica "aqueles (religiosos) que se sentem superior aos outros" e que apenas fazer obras de caridade não seria o suficiente. O papa também ataca os sacerdotes que "em vez de evangelizar, classificam os outros", adotando um "certo estilo católico próprio do passado".
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