Cotidiano

Outeiro e Frontaria abandonados em Santos

A Fundação Arquivo e Memória de Santos (Fams) encerrou, por tempo indeterminado, as atividades em ambas as edificações por estarem oferecendo perigo aos visitantes

Carlos Ratton

Publicado em 04/06/2018 às 09:40

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A Reportagem não conseguiu entrar no imóvel, mas a contar pela aparência externa, a situação internamente não deve ser nada diferente. / Rodrigo Montaldi/DL

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As pessoas que utilizam o Bonde Turístico de Santos devem ficar de certa forma constrangidas ao ouvir a história do Outeiro de Santa Catarina, no Centro, e virem, ao mesmo tempo, a situação a qual se encontra a edificação. O marco de fundação da Cidade é o verdadeiro retrato do abandono. Com lixo espalhado por todos os lados, mato alto, bancos apodrecendo, escadarias semidestruídas, totens, placas e fachadas corroídas e pichadas, folhas crescendo entre a alvenaria do imóvel, postes e portões enferrujados e até quadros de luz violados, estão entre os problemas externos. A Reportagem não conseguiu entrar no imóvel, mas a contar pela aparência externa, a situação internamente não deve ser diferente.

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Idêntica é a decadência de outro equipamento histórico. A Casa da Frontaria Azulejada, também no Centro, está fechada e já apresenta reflexos do abandono da interna para a externa, em que plantas brotam por entre orifícios do cimento e canos responsáveis por drenar água da chuva. Há ferrugem nas janelas e as portas estão riscadas e com sinais de apodrecimento.        

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Informações obtidas extraoficialmente pela Reportagem dão conta de que, por ambos equipamentos estarem oferecendo perigo aos visitantes, a Fundação Arquivo e Memória de Santos (Fams) encerrou, por tempo indeterminado, as atividades em ambas as edificações. Um problema comum dos prédios seriam infestação de cupins no madeiramento e telhados destruídos e condenados. Procurada, a Fams não se manifestou sobre a situação.

O Outeiro de Santa Catarina fica na Rua Visconde do Rio Branco, 48. Ele foi o sítio das duas capelas consagradas à Santa Catarina de Alexandria, a primeira erguida por iniciativa de Luís de Góis e sua esposa, Catarina de Aguillar, e que constituiu o núcleo inicial da vila de Santos no século XVI. Alicerçada sobre rocha, a edificação desenvolve-se em três níveis ligados por escadarias, acomodando-se à topografia do terreno. Portas e janelas em ogiva, bem como ameias e merlões dos muros produzem o feitio de castelo.

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Supõe-se que a arquitetura se deva à origem de João Éboli, médico que a teria mandado construir inspirado nas edificações medievais da região em que nascera, na Itália.

Quando o corsário inglês Thomas Cavendish saqueou a vila em 1591, a capela foi saqueada e a imagem da sua santa lançada ao mar. Em meados do século XVII, a imagem foi resgatada das águas por escravos e, em 1603, iniciou-se a construção de uma nova estrutura, desta vez no topo do outeiro.

Esta segunda capela acabou demolida entre 1880 e 1884. O Outeiro também foi diminuído, por conta da utilização de suas pedras para o calçamento das ruas da cidade. No que sobrou do pequeno morro, foi construída uma casa acastelada pelo médico italiano João Éboli (isso no final do século XIX). Tombado em 1985 e reformado pela Prefeitura Municipal de Santos em 1992, atualmente pertence à Fundação Arquivo e Memória de Santos. Ele foi inserido no Projeto de Revitalização do Centro Histórico, desenvolvido pela Prefeitura a partir de 1997 e, em 2000, ganhou uma praça.

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Casa da Frontaria fechada  

Uma das mais significativas obras arquitetônicas de Santos, a Casa da Frontaria Azulejada - Rua do Comércio 121 - foi construída em 1865 para residência e armazém do comendador português Manoel Joaquim Ferreira Netto (1808-1868). Desde 2007, o prédio funciona como espaço cultural, onde são realizadas exposições, eventos beneficentes e espetáculos culturais. Além disso, serve frequentemente como locação para filmagens de propagandas, novelas, minisséries e filmes de curta e longa metragens.

Sete mil azulejos em alto-relevo, importados de Portugal, revestem a fachada do prédio, de influência neoclássica, característica do Segundo Império. Mais do que uma questão estética, a colocação de azulejos, naquele tempo, tinha como objetivo assegurar vedação eficiente e evitar muitas pinturas.

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A porta principal, bastante larga, permitia o acesso de carruagens ao interior do imóvel. O andar superior abrigava, originalmente, a residência da família. Construído com pedras, óleo de baleia, saibro, pisos e forros de madeira, o prédio foi concebido em forma de “U”, com abertura voltada para o mar, o que facilitava o processo de carga e descarga das mercadorias desembarcadas nos antigos trapiches. Com o aterramento da parte posterior da casa para a construção dos primeiros armazéns do cais, em 1892, abertura da Rua Tuiuty e novas edificações, esse acesso para cargas deixou de existir.

Com a morte de Ferreira Netto, em 1868, a casa passou por mudanças funcionais. Durante muitos anos, funcionou no térreo um armazém e, no andar superior, um escritório de café. Já entre 1940 e 1960, o sobrado foi transformado no Hotel Guanabara e depois, em um depósito de adubos químicos, o que degradou bastante a construção, sobretudo internamente. Em 1973, o prédio foi tombado pelo Iphan (nível federal). Em 1987 e 1990, vieram também os tombamentos pelo Condephaat (estado) e Condepasa (município), respectivamente.

Em 1986, quando foi desapropriada pela Prefeitura, a casa estava semidestruída, sem o teto e o piso superior. A recuperação da fachada aconteceu em 1992, com a devolução da estrutura original da porta principal e dos azulejos, restaurados ou reproduzidos. Realizado pelo artista plástico Luís Sarasá, o trabalho constituiu tarefa artesanal, cujo resultado contabilizou sete mil peças novas. Desde dezembro de 2007, o sobrado vinha abrigando o Espaço Cultural Frontaria Azulejada, idealizado para receber atividades culturais e apresentações musicais de caráter intimista.

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