Cotidiano

Orquidário de Santos é vítima de furtos e desatenção pública, afirma bióloga

Marizete afirma que há anos o equipamento vem sendo coordenado por amigos do secretário de plantão, inclusive pastor

Carlos Ratton

Publicado em 28/10/2024 às 06:15

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Um papagaio e três saguis foram furtados do Orquidário de Santos / Divulgação/Prefeitura de Santos

O furto de um papagaio e três saguis do Orquidário de Santos, por dois meninos, um de 11 e outro de 13 anos, recuperados pela Polícia Civil e para Guarda Civil Municipal (GCM) de forma até eficiente, é apenas a ‘ponta do iceberg’ dos problemas que envolvem o equipamento público nos últimos anos, por suposto descaso e falta de gestão técnica.  Essa é a opinião da bióloga Marizete Fernandes Bandini, ex-funcionária pública, que trabalhou 14 anos como chefe de Botânica do equipamento e por mais de 10 anos ministrou aulas de Biologia em universidades da Cidade.

Ela revelou ao Diário que há tempos que o equipamento público, que já foi referência nacional, com status de zoológico e certificação nacional e internacional para receber e tratar animais silvestres ameaçados, vem sendo coordenado não por técnicos, mas amigos do secretário de plantão. “Até pastor de igreja já comandou o equipamento”, dispara.

Orquídeas

Segundo a bióloga, há anos o equipamento vem sofrendo total descaracterização como unidade zoobotânica de conservação. Ela revelou que o mostruário de orquídeas está fechado desde a pandemia. “A área virou depósito de material de construção e entulhos”. A Reportagem confirmou a informação no local na última terça-feira (22).

Disse também que o único exemplar da Cattleya Intermedia Variedade Suavissima - uma espécie de orquídea da Mata Atlântica, que não se tinha registro há 40 anos (provavelmente está extinta na natureza), morreu por falta de cuidados e que as orquídeas do equipamento estão num pequeno espaço na parede, criado pelos funcionários. O Diário percebeu que, além do pequeno espaço, só há orquídeas na entrada do equipamento.

Gatil

Segundo a bióloga, o Orquidário passou a abrigar um Gatil. “Chegou-se ao cúmulo de instalarem um Gatil no Orquidário. Para esclarecer melhor o significado disso, a presença de gatos junto aos primatas é fatal para esses animais. É um absurdo técnico e ambiental”, disse, alertando que os gatos acabam circulando livremente pelo orquidário, próximos de bebedouros e comedouros dos demais animais. O Diário constatou o Gatil e até um gato próximo a uma espécie de trator, que também ocupa espaço no equipamento.   

Em uma breve pesquisa, o Diário levantou que entre as doenças está a esporotricose, que pode ser transmitida por meio de arranhões, mordidas e secreções de gatos infectados. A esporotricose causa feridas localizadas na face, orelhas, patas ou em qualquer parte do corpo do animal. Pode também haver áreas de alopecia (sem pelo). A esporotricose é causada pelo fungo Sporothrix brasiliensis, que está presente no solo, palha, vegetais, espinhos e madeira.

Viveiro

A bióloga lembra que na grande reforma que foi feita na época do prefeito David Capistrano foi construído um recinto de imersão, seguindo a tendência dos grandes zoológicos internacionais na época. Era chamado de Viveiro de Visitação Interna (VVI). O VVI era um recinto grande, onde os visitantes entravam e lá ficavam bem próximos dos animais. O recinto ficava perto da entrada do parque, e era uma área relativamente grande envolta por uma tela. Assim, os animais podiam ficar soltos sem o risco de fuga.  

“Dentro deste recinto tinha um pequeno lago, com uma ponte sobre ele, que era de onde os visitantes observavam as muitas espécies de aves e pássaros, incluindo até um casal de flamingos. Além destes, tinha patos selvagens, marrecos, casais de sabiás, tiê sangue e muitos outros. O VVI tinha passado por uma pequena reforma, com a impermeabilização da ponte sobre o lago. Também tinham sido feitos reparos nos pequenos buracos existentes na tela. Mas tudo foi feito com produtos de qualidade duvidosa. Acho que no final de 2022 ou início de 2023, uma grande ventania derrubou várias árvores e algumas caíram sobre o VVI”, lembra.

Revelou que as árvores do recinto também foram danificadas e a tela foi rompida em diversos pontos. Os técnicos e funcionários da Zoologia correram para retirar os animais e abrigar junto com outros nos demais recintos e o VVI ficou parecendo uma estrutura fantasma, toda quebrada. Disse que visitantes perguntavam quando seria reaberto ao público e a Coordenação do parque não tinha argumentos porque seria necessário nova reforma, com dinheiro vindo de outra pasta, já que a Secretaria de Meio Ambiente não teria orçamento para reforma.

“Então, decidiram: coloca tudo abaixo, assim ninguém vai ficar esperando ou perguntando daquele recinto. Então a Secretaria de Serviços Públicos colocou tudo no chão. As vigas que sustentavam a tela, as árvores onde ficavam os ninhos dos pássaros, as plantas ornamentais, tudo. Tudo no chão”.

Sobre o furto dos animais, propriamente, Marizete acredita que teve que ocorrer uma queda de braço interna por conta da disposição ou não das imagens. “E olha que o Orquidário deve ser o equipamento com mais câmeras de toda a Prefeitura. Enfim, tem vários outros exemplos da total ausência de gestão e conhecimento do é um parque de conservação”, completa.

Prefeitura

A Prefeitura informa que o Orquidário está com suas certificações nacionais e internacionais em dia, inclusive a de Bem-Estar Animal, que está sendo ampliado e funcionará como mais um equipamento de educação ambiental para o púbico visitante, com material explicativo sobre as ações de enriquecimento e estímulo aos 450 animais, de 50 espécies, que vivem no parque.

Recentemente, o parque passou a funcionar como um Centro de Triagem de Animais Silvestres (CETAS)), unidade que recebe, identifica, trata, recupera e reabilita animais silvestres. Todas as áreas técnicas de Biologia, Botânica e Veterinária são chefiadas por servidores concursados e habilitados para as respectivas funções.

O Gatil existente é cercado. Os animais são oriundos de descartes clandestinos e a Codevida já castrou, vermifugou e fez análises clínicas em todos os animais, que são acompanhados pelo órgão e fazem parte do plantel disponível para doação.

O Viveiro de Orquídeas encontra-se, no momento, fechado. O projeto executivo para reforma do telhado está em fase de conclusão para início da obra. O local, onde não há depósito de materiais externos, passa por limpeza regular.

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