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Operários que trabalhavam na construção do prédio que desabou na última terça-feira (27) no bairro São Mateus, zona leste da capital paulista, disseram, em depoimento à polícia, que a estrutura usada para erguer o prédio não suportaria o seu peso. O acidente matou dez operários e deixou 26 feridos. O inquérito policial, conduzido pelo delegado Luiz Carlos Uzelin, do 49° Distrito Policial, já ouviu 11 operários. A polícia pretende ouvir mais quatro funcionários da obra.
Ontem (29), o armador de ferragem Sanivaldo Silva declarou à polícia que a estrutura usada na construção era frágil. “Posso afirmar que, em razão da habilidade e conhecimento que tenho em armação de ferro para edificações, as bitolas dos ferros utilizadas naquela obra não correspondiam com a estrutura que foi edificada”. Segundo ele, para esse tamanho de prédio, o ideal seria que se utilizassem bitolas com 16, 20 ou 25 milímetros (mm). Porém, Sanivaldo constatou que estavam sendo empregadas bitolas de 10 mm e de 0,5 polegada, que corresponde a 12,7 mm.
O operário informou também que a empresa responsável pela construção havia feito uma escavação para verificar a consistência do solo e constatou que o terreno não era firme o suficiente. “Um engenheiro, que não me recordo se era Marco Aurélio ou Davi, recomendou que não mexesse na obra, pois sua estrutura não prestava”, disse no depoimento. Ele confirmou, além disso, que o mestre de obras temia pelo desabamento da obra e passou a recomendar aos funcionários que ficassem próximos à saída, no caso de alguma emergência.
Sanivaldo estava na obra durante o desmoronamento. Ele sofreu fratura na costela e escoriações pelo corpo. Naquele dia, ele trabalhava na instalação da ferragem de uma escada que daria acesso ao pavimento superior. “Fui atingido na cabeça, tendo o capacete partido”, relatou. A laje, contou, ficou apoiada em um pilar, o que fez com que ele não fosse esmagado. “Acabei saindo daquele local e resgatando outros companheiros”, disse.
Ele trabalhava na construtora Salvatta Engenharia há quatro anos, mas estava nessa obra há 15 dias. De acordo com Sanivaldo, mais de 30 pessoas trabalhavam no momento do acidente, mas algumas delas haviam sido contratadas pelo proprietário da obra.
Outro operário, o pedreiro Cleuto Nunes da Silva, contou que, dez dias antes do acidente, o engenheiro mostrou preocupação com a estrutura. “O engenheiro Marco Aurélio mandou a gente parar de trabalhar, dizia que precisava ser feita uma análise na estrutura da obra, pois, provavelmente, ela não suportaria o peso”. Ele também estava na hora do acidente e escapou por um vão entre os escombros e o escoramento da escada.
Segundo o depoimento do armador de ferragem José Abreu Júnior, mesmo com a estrutura comprometida, o piso superior da obra suportava o peso de pilhas de tijolos, sacos de cimento, além de várias paredes já construídas. Trabalhando há 17 dias no local, José contou que, em razão do acidente, teve perna e ombros atingidos por escombros. “Acabei saindo por um vão onde só cabia uma pessoa”, relatou.
Ontem, a prefeitura de São Paulo abriu uma investigação para apurar suspeitas de fraudes no processo de fiscalização da construção do prédio. Por meio de nota, a prefeitura informou que vai averiguar o porquê de não ter sido registrado boletim de ocorrência quando a construtora desrespeitou um embargo à obra, emitido no dia 25 de março. Segundo a administração municipal, no dia seguinte ao embargo, o Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC) recebeu uma denúncia anônima apontando irregularidades na fiscalização.
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