Cotidiano

Operação Tritão investiga fraudes de R$ 37 milhões na Codesp

O caso começou a ser investigado a partir de um vídeo gravado em setembro de 2016

Carlos Ratton

Publicado em 31/10/2018 às 16:18

Atualizado em 31/10/2018 às 20:13

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O presidente da Codesp, José Alex Botelho Oliva, foi preso na operação / Rodrigo Montaldi/DL

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Seis horas vasculhando computadores e arquivos da Presidência da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), prisão temporária do diretor-presidente da empresa, José Alex Botelho de Oliva; do ex-assessor da Presidência, Carlos Antônio de Souza, o Carlinhos de Souza; dois diretores da Codesp, Cleveland Sampaio Lofrano (Operações e Logística) e Gabriel Nogueira Eufrásio (Jurídico); e de três empresários Mário Jorge Paladino (MC3 Tecnologia), Joabe Francisco Barbosa (N2O) e Joelmir Francisco Barbosa (BRTI); além de busca e apreensão nas casas e gabinetes de dois vereadores de Guarujá.  

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Esse foi o resultado parcial da Operação Tritão (na mitologia grega, conhecido como o rei dos mares), deflagrada hoje (31) pela Polícia Federal, que investiga fraudes no Porto de Santos. Ela é um complemento da Operação Nereu, que vinha investigando todos os envolvidos. As buscas, além de Santos e Guarujá, foram também efetuadas em São Paulo, São Caetano do Sul, Barueri, Rio de Janeiro, Fortaleza e Brasília, totalizando 21. A ação ainda envolveu a Controladoria Geral da União (CGU), o Tribunal de Contas da União (TCU), a Receita Federal e o Ministério Público Federal (MPF). Todos os mandados foram expedidos pela 5ª Vara da Justiça Federal de Santos.

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Cem policiais federais, oito auditores da CGU e 12 servidores da Receita Federal participaram da ação. Os investigados poderão responder judicialmente pelos crimes de associação criminosa, fraude a licitações, peculato e corrupção ativa e passiva, com penas de um a 12 anos de prisão. Segundo as investigações, o grupo atuava em processos licitatórios das áreas de tecnologia da informação, dragagem e consultoria. Todos estão presos na PF da Capital.  

Os autos apontam irregularidades em vários contratos, com supostas fraudes envolvendo agentes públicos ligados à estatal e empresários, contratações antieconômicas e direcionadas, aquisições desnecessárias e ações adotadas para simular a realização de serviços. Os contratos sob investigação somam mais de R$ 37 milhões.

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Inquérito aberto há um ano

O inquérito foi aberto pela Polícia Federal em 21 de novembro do ano passado e visou apurar fraudes entre 2013 e 2016. As suspeitas surgiram com um vídeo postado nas redes sociais, em setembro de 2016, em que Carlos Antônio de Souza, o Carlinhos de Souza, ex-diretor da Câmara de Guarujá e, à época, assessor de José Oliva, afirmava a um policial civil (que gravou o vídeo) que teria fraudado uma licitação de serviços de digitação e pretendia direcionar a contratação de serviços de dragagem, entre outras operações.

O Diário do Litoral publicou matéria em 24 de setembro de 2016 e outra quatro dias depois (28), informando que a Codesp havia aberto uma auditoria para avaliar os contratos firmados por Carlinhos de Souza. O resultado nunca foi anunciado.

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Até o momento, a Delegacia de Repressão à Corrupção e Crimes Financeiros da PF já apurou fraude na licitação do serviço de digitalização (MC3 Tecnologia) na ordem de R$ 7,3 milhões; na aquisição de sistemas de informática na ordem de R$ 12 milhões; e diversos pagamentos indevidos. O empresário Mário Jorge Paladino (MC3 Tecnologia) também controlaria a empresa MS Administrativo. A PF verificou que ambas teriam o mesmo correio eletrônico do contador e número de telefone. A enteada do empresário foi empregada na MC3 e na Câmara de Guarujá.

O policial civil que usou uma câmera escondida para gravar Carlinhos de Souza foi ouvido pelo Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco). Ele, que foi candidato a vereador, fez a relação envolvendo o empresário e os dois vereadores de Guarujá. Um dos parlamentares chegou a oferecer dinheiro (US$ 200 mil) e um veículo, em nome dos empresários, para que outras partes do vídeo não fossem veiculadas.    

No caso da empresa N2O Tecnologia da Informação, a Polícia Federal levantou um contrato assinado pelo presidente da Codesp e o diretor Cleveland Lofrano, e descobriu 10 procedimentos irregulares e movimentações financeiras suspeitas. Há ainda pagamentos indevidos a outras empresas, com envolvimento de funcionários da Codesp. A Polícia Federal não descarta a hipótese de haver uma organização criminosa atuando na Codesp para desviar recursos públicos.                      

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Codesp substitui presidente e diretores

O Conselho de Administração, em reunião ordinária previamente programada para hoje, constatou pela manhã a realização, pela Policia Federal, da Operação Tritão, que envolveu a prisão temporária do diretor-presidente e do diretor de Relações com Mercado e Comunidade, além do superintendente Jurídico da Codesp.

Consciente de sua responsabilidade e comprometido com a governança e operação do maior Porto da América Latina, o Conselho de Administração decidiu substituir o diretor-presidente e o diretor de Relações com o Mercado e Comunidade, por, respectivamente, Luiz Fernando Garcia, e José Alfredo de Albuquerque e Silva.

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Por fim, o Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil indicou o novo presidente do Conselho de Administração, Ogarito Borgias Unhares, em razão do atual presidente do colegiado ter sido indicado para a diretoria executiva da empresa. A Reportagem tentou a versão dos dois diretores, mas advogado de ambos não retornou as ligações.

Vereadores

Também tentou ouvir os dois vereadores, mas eles também não foram encontrados no celular e nem em seus locais de trabalho até o fechamento da edição. O presidente da Codesp, José Alex Botelho de Oliva, e o assessor Carlinhos de Souza não se manifestaram por estarem presos temporariamente.  Os empresários não foram localizados pela Reportagem.

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Reportagens antecedem operação

Em 24 de setembro de 2016 (cerca de dois anos atrás), o Diário publicou reportagem sob o título “Expostas influências políticas e contratuais na Codesp”, que mostraram possível esquema irregular envolvendo contratos na Codesp. O protagonista foi o assessor da Presidência Carlos Antônio de Souza, conhecido como Carlinhos de Souza, que citou vários políticos da região.

No vídeo, Souza expôs supostas influências políticas e contratuais na empresa. Ele foi o diretor administrativo da Câmara de Guarujá. Carlinhos pediu exoneração do cargo na Codesp depois da reportagem. A gravação, foi realizada por telefone celular e dentro de um pequeno boulevard no Centro da Cidade. Na gravação, Carlinhos de Souza mencionou suposta influência de três partidos na Codesp - o PR, o PP e o PRB.

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Carlinhos de Souza confessa, no vídeo, que, no começo, não entendia e nem gostava de porto, mas que depois teria influência em contratos relacionados à Tecnologia de Informação (TI) e dragagem. Na época, ele detalhava o suposto esquema: “Eu percebi que não tem nada digitalizado. Um contrato de R$ 80 milhões de reais de digitalização que, daqui a 15 dias, tá na rua. A dragagem tem dois contratos. Um de 16 milhões e outro de 400 milhões. Só que um é medido por batimetria. Os caras medem, depois dragam e medem de novo e dá uma perda de 35%. E eu só olhando. Cheguei no diretor de logística e falei: por que a gente não faz um contrato de locação com equipamento nosso?”.

Empresas

Quase no final da gravação, Carlinhos de Souza revela: “tem que comprar empresa. Essa semana eu comprei outra empresa. Isso aí a gente vai ter que combinar. Temos que ir para cima, senão. Quer ver o dinheiro é lá. Tudo é grande na Codesp”. Depois continua: “eu estou há oito meses sem ver nada e pegando para trabalhar. Quando eu sai da Câmara estava na zona de conforto linda, mas agora vai começar a sair, entendeu? Os contratos vão começar a sair agora. Agora que nós pegamos a diretoria de finanças. Agora o time é nosso. Vamos embora, lindo, a engenharia é nossa. É a parte que tem mais condição. A parte de TI também. Temos que colocar um cara nosso na parte de TI. A dragagem eu fechei hoje. Quarta-feira estou em Brasília fechando. Mas a dragagem começa em novembro. O contrato emergencial acaba em outubro e em novembro começa o nosso”.

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