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A melhora nos níveis dos reservatórios que abastecem a região metropolitana de São Paulo no período de chuvas provocou alívio temporário, mas a chegada do inverno e do período seco assusta especialistas, que apontam que a situação da crise hídrica este ano é pior do que a registrada no ano passado, ainda que o clima político seja de maior tranquilidade do que em 2014. Além de enfrentar a falta de chuvas, a Sabesp ainda lida com obras atrasadas, dificuldade para manter investimentos e com a possibilidade de o Sistema Alto Tietê secar até novembro.
Entre as obras mais importantes e atrasadas previstas com recursos da Sabesp estão a que levará água da Represa Billings para o Alto Tietê, cuja conclusão foi adiada de maio para setembro, e a transposição da Bacia do Rio Paraíba do Sul para o Cantareira, prevista para ser concluída em 2017 após ter sido anunciada pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) para este ano.
Para o engenheiro José Roberto Kachel, ex-funcionário da Sabesp e integrante do Comitê da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê, a interligação da Billings com o Alto Tietê pode não ficar pronta a tempo de ajudar o sistema, que abastece 4,9 milhões de pessoas na Grande São Paulo, incluindo a maior parte da zona leste da capital. "É uma obra complexa e tenho dúvidas se vão terminar em dois meses. Ela está atrasadíssima e tem que ficar pronta para ajudar. O problema sério hoje é no Alto Tietê, mas nesse ritmo vai sobrar para o Cantareira com certeza", disse Kachel, que tem acompanhado o andamento da obra.
O engenheiro aponta que, após meses chuvosos para o Alto Tietê em abril e maio, junho tem sido extremamente seco, reduzindo a vazão afluente do sistema de 12 para 6,5 metros cúbicos por segundo. "No fim do mês passado, a vazão afluente do Alto Tietê despencou para abaixo da mínima da série histórica e o sistema vai chegar em outubro ou novembro com volume baixíssimo, com risco até de zerar", afirmou. "Parece que está todo mundo anestesiado."
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Os sistemas Cantareira e Guarapiranga também devem passar por estresse hídrico no período seco. "No Cantareira, ainda não conseguimos devolver a primeira cota do volume morto, acionada em maio do ano passado. E o Guarapiranga é o sistema mais demandado, que mais perde água por dia", afirmou o especialista em água da ONG The Nature Conservancy, Samuel Barreto. "Este ano a situação é mais grave por que o estoque de água é menor do que em 2014."
Para Barreto, as campanhas de conscientização do uso da água precisam ser retomadas. "As pessoas deram uma aliviada na percepção da crise", avalia, destacando que a economia de água precisa continuar, por não ser possível contar com chuva. Segundo a Sabesp, em maio, a companhia registrou o maior porcentual de adesão ao programa de bônus desde sua implantação, em fevereiro do ano passado. No mês passado, 83% dos clientes na região metropolitana reduziram o consumo de água, acima dos 82% registrados em março e abril. No entanto, as campanhas de conscientização do uso de água pela Sabesp não são mais veiculadas nos meios de comunicação.
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A Sabesp afirmou ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, que a campanha Guardiões das Águas, com equipes que distribuem folhetos e cartazes em pontos estratégicos da região metropolitana, continua neste inverno. A companhia ressaltou que desde o início de 2014, o governo do Estado e a Sabesp têm realizado campanhas publicitárias para alertar e orientar a população. "Foram mais de 3 mil inserções de TV, mais de 13 mil de rádio e milhares de publicações em veículos online e impressos, o que permite estimar que cada paulistano foi impactado mais de 40 vezes pelas mensagens de economia de água", disse a empresa.
Especialistas lembram, ainda, que este inverno não é o último da crise e que 2016 ainda preocupa. "Tudo indica que essa situação só vai se normalizar, se tivermos condições pluviométricas normais, daqui a dois ou três anos", avalia o pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Ronaldo Serôa Motta.
Além do desafio de terminar obras a tempo de compensar o impacto do período seco, a Sabesp ainda enfrenta dificuldades para manter seu nível de investimento. A companhia informou recentemente que vai suspender as obras na rede de esgoto por 120 dias. A estatal afirmou que "remaneja seu orçamento para dar prioridade às obras que garantam a segurança hídrica da região metropolitana".
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Mesmo assim, no mês passado, a empresa reiterou a projeção de realizar investimentos de cerca de R$ 2,4 bilhões ao longo de 2015. Desse total, R$ 579,5 milhões foram aplicados nos primeiros três meses do ano. Mas o presidente da Sabesp, Jerson Kelman, afirmou que adiaria o início de obras previstas para este ano por falta de dinheiro, priorizando as que já estão em andamento. Segundo ele, a medida é consequência da revisão tarifária de 15,2% na conta de água autorizada pela agência reguladora, índice inferior aos 22,7% solicitados pela estatal para compensar as perdas provocadas pela crise hídrica.
No entanto, nem o aumento de 15,2% na conta de água está totalmente garantido. A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) entrou este mês na Justiça com pedido de liminar contra o aumento, em um processo no qual a Sabesp e a agência reguladora Arsesp figuram como réus. A Sabesp, cuja ação vem reagindo em queda ao fluxo negativo de notícias, afirma que o reajuste extraordinário da tarifa obedeceu a todos os preceitos legais. O juiz Claudio Campos da Silva, da 8ª Vara de Fazenda Pública, deve julgar a questão nos próximos dias.
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