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O estivador Donizete Machado Júnior, de 39 anos, conhecido na beira do cais de Santos popularmente por Maguila e demitido sem justa causa pela empresa portuária Santos Brasil após supostamente descobrir sua opção sexual, disse hoje (16), na sede do Sindicato dos Estivadores de Santos (Sindestiva), estar bastante deprimido pelo assédio moral e a intolerância os quais teria sido submetido. “Falaram que eu poderia contaminar os demais funcionários e que a empresa não quer gente de minha laia”, disse Maguila, ao lado do companheiro e professor de dança Maycon Lopes Simões.
O estivador, que se diz vítima de homofobia, trabalhava há mais de 20 anos como avulso e foi admitido 30 dias atrás na empresa que o desligou em 11 de abril último após Donizete ter indicado o parceiro como dependente nos planos de benefícios. O fato causou indignação dos demais profissionais, pois Maguila sempre teve uma conduta exemplar, ratificada por mais de 30 cursos de especialização na Marinha do Brasil.
Recrutado pelo maior terminal portuário do País em 16 de março passado, após ter atendido todas as exigências e pré-requisitos estabelecidos pela empresa, Donizete explica que foi retirado do navio, escoltado para o Departamento de Recursos Humanos (RH) da Santos Brasil, submetido a uma série de situações discriminatórias e, por fim, levado à Avenida Governador Mário Covas por volta da uma hora da madrugada.
“Sem condução, tive que ir para casa a pé. Eu moro em São Vicente. Nunca imaginei passar por essa humilhação. A empresa deixou claro que não quer ver seu nome atrelado a um homossexual”, disse Maguila, que chegou a chorar durante a entrevista. “estou desde domingo sem me alimentar direito. Isso abalou até minha relação”, completa.
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O estivador e o professor estão juntos há 15 anos, sob um contrato de união estável. Ele disse que quando deu o nome de Maycon para o seguro de vida, os representantes da empresa me falaram: “coloca como dependente até de um cachorro, mas um homem não. Se você é homossexual, porque não falou antes?”. Maguila continua: “eu amava a empresa, levava ela no peito. Eu não tenho mais condições psicológicas de voltar, mesmo que ganhe esse direito na justiça”, completa, revelando que a rescisão será assinada na próxima terça-feira (22).
Vale a pena ressaltar que o Sindestiva aguarda apenas o fim do pequeno recesso judiciário, na próxima terça-feira (22) para denunciar na Justiça do Trabalho a Santos Brasil por assédio moral e intolerância sexual. O Sindicato garante que o trabalhador foi admitido após um processo rigoroso e nunca teve qualquer problema que o desabonasse. Donizete e Maycon estão inseridos no plano de saúde oferecido pelo sindicato, que reconhece a situação do casal.
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Parceiro
Maycon Simões disse que o companheiro nunca sofreu preconceito por parte dos colegas de trabalho e por ninguém de suas relações. “Estamos no Século 21 e não acredito que isso ainda esteja ocorrendo. Vamos até o final nessa luta. Preconceito é terrível. Donizete nunca deixou nada faltar em nossa relação. É um trabalhador exemplar”.
Advogado
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O advogado do Sindicato Renato Vieira Ventura, que também defende o trabalhador, acredita ser “deplorável a atitude da empresa” e a Justiça já vem repreendendo situações como a que aconteceu. “Há decisões que tratam de discriminação por cor, religião e opção sexual. A indenização varia de 100 a 300 salários do funcionário, a título de dano moral”, disse o advogado, salientando que já obteve testemunhas e inúmeras provas sobre o delito. “Todo terminal possui câmeras e vamos requisitar esse material durante o processo”.
Nei da Estiva
O presidente da categoria, Rodnei Oliveira da Silva, o Nei da Estiva, acredita a empresa está agindo de maldade, pois nunca impôs qualquer restrição no momento da contratação. “Fomos surpreendidos com a situação e disponibilizamos todo o aparato do Sindicato para os dois, inclusive um psicólogo. O Sindicato defende a igualdade”, explica. ,
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Segundo o sindicalista, a notícia logo se espalhou gerando revolta e indignação dos demais profissionais da categoria e da direção do Sindestiva. "É inadmissível essa política discriminatória, preconceituosa e pouco civilizada enquanto o mundo inteiro discute o fim da homofobia", finalizou.
O Ministério Público do Trabalho também será acionado para acompanhar o inédito impasse no Porto de Santos. Localizada na margem esquerda do complexo santista, a Santos Brasil pertencente aos grupos Opportunity, de Daniel Dantas, e Multi, de Richard Klien, movimentou 1.171.726 contêineres em 2013.
Empresa
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Em nota oficial, a Santos Brasil confirma o desligamento do portuário Donizeti Aparecido Machado e refuta a acusação de que tal ato esteja ligado à opção sexual do ex-funcionário. A empresa repudia qualquer acusação de homofobia e informa que possui em seu quadro funcional profissionais com relacionamentos homoafetivos, cujos companheiros estão devidamente inclusos como dependentes em plano de saúde e outros benefícios sociais.
A companhia salienta que sempre teve seus negócios pautados por uma conduta ética inspirada em valores como transparência, valorização do indivíduo e respeito à diversidade. Desde 2012, conta com um Código de Conduta, que determina o respeito e cordialidade nas relações profissionais e proíbe quaisquer manifestações discriminatórias em suas dependências.
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