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A história da humanidade se divide em antes e depois de Cristo. A história do futebol também tem sua divisão, e ela acontece no momento em que Nilton Santos cruza a bola na área da Suécia, em 29 de junho de 1958, em Estocolmo, e encontra um jovem de 17 anos, que friamente domina a bola no peito, dá um chapéu desconcertante no zagueiro sueco e faz o terceiro gol do Brasil na final daquela Copa do Mundo. O futebol tem sua dualidade em antes e depois de Edson Arantes do Nascimento, o imortalizado Rei do Futebol, Pelé.
Como todo rei tem seu castelo, faltava à realeza do futebol o seu templo. Localizado no Centro de Santos, no Largo Marquês de Monte Alegre, número 2, o visitante que chega ao casarão do Valongo se depara com o monumento dos “pés da fama” do Rei do Futebol ainda na calçada do museu, que já recebeu mais de 2 mil pessoas desde sua inauguração.
Dividido em dois grandes blocos, o antigo casarão apresenta aos visitantes a vida e a carreira de Pelé. Passando pelas bilheterias, o público é recebido por ele que dá boas-vindas, através de uma projeção na parede. A partir disso, o visitante pode escolher por onde começar: ou pelo prédio interativo ou pela Linha do Tempo. A reportagem começou pelo prédio da Linha do Tempo, ou Bloco 2, seguindo a orientação do monitor André Iozzi que guiou o DL pelos 4.134 metros quadrados do museu.
Da caixa de engraxate ao gol mil
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Cronologicamente organizado, o público percorrerá desde o nascimento de Pelé até os dias atuais, parando na Bola de Ouro da FIFA entregue este ano, em homenagem ao rei. Nessa seção dois objetos se destacam: o rádio do pai do ex-jogador e a caixa de engraxate que Edson utilizava para trabalhar e ajudar a família. Alternando peças estáticas e monitores com gols, depoimentos e lances do jogador, a Linha do Tempo apresenta relíquias históricas, como o segundo contrato oficial assinado por Pelé com o Santos Futebol Clube, em 8 de abril de 1957.
Entre troféus, medalhas, chuteiras, bolas de futebol, camisas do Santos e da Seleção utilizadas à época, destacam-se uma bola autografada pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter (1977-1981), o troféu de Atleta do Século, e a coroa de ouro recebida em sua despedida dos gramados. O ponto de emoção dessa parte fica por conta de Pelé, que comenta o seu 1000º gol, marcado contra o Vasco no Maracanã. Enquanto as imagens são transmitidas, Pelé narra os minutos que antecederam a cobrança do pênalti que marcou a história do esporte. No meio do bloco 2, há um grande painel sensorial que o visitante vê a história de Pelé pelo mundo. Escolhendo o país, o público vê vídeos do rei por gramados do mundo.
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4 Copas e 1 Rei
Exposição temática que ficará nos mezaninos do museu até novembro, “4 Copas e 1 Rei” ocupa quatro andares do bloco 2, e conta a história de Pelé nas quatro edições de Copa do Mundo (1958, 62, 66 e 70) que ele atuou, sendo campeão em três ocasiões. A exposição apresenta painéis, camisas utilizadas nas Copas, além de curiosidades e vídeos inéditos. A exposição foi organizada pelo, em um minucioso trabalho, pelo jornalista, escritor e historiador Odir Cunha e uma equipe de colaboradores.
A exposição é uma viagem ao passado e a história do futebol. Destacam-se a exposição “Suécia 1958” e “México 1970”, considerada por Pelé sua melhor Copa. Os visitantes compartilham as imagens do tricampeonato com uma estátua de Pelé, além de fotos e um painel descritivo da seleção perfilada no estádio Azteca, na Cidade do México. É nesse piso que os visitantes encontram a réplica da Taça Jules Rimet.
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As imagens do tri emocionam não somente brasileiros, mas também admiradores de outros países, como o mexicano Javier García que está em Santos para acompanhar a seleção mexicana na Copa. “Gostamos de Pelé e do Brasil, nessa ordem. O museu está organizado e a exposição é uma aula de história e futebol, que emociona pela beleza”.
Odir Cunha conta que além de emocionar, o objetivo do museu Pelé é se tornar um local para todos os públicos e não somente para amantes do futebol. O “Museu Pelé é vivo, interativo e temático, e a tendência é que ele se torne um ambiente para todos os públicos”.
Sala Interativa
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Atração para todos os públicos, o bloco 1 conquistou a preferência das crianças que visitaram o museu em sua primeira semana de funcionamento. Nele há o simulador de dribles, na qual o desafio é repetir no menor tempo possível uma sequência de dribles de Pelé que é transmitida em um telão. Ao lado, recriando o milésimo gol do rei, a sala interativa tem um espaço para bater pênaltis, onde o gol e o goleiro são virtuais, e o visitante entra em uma cabine para repetir Pelé em seu milésimo gol.
Neste bloco, ainda há duas salas de vídeos e projeções de fotos sobre a vida do craque. No 2º andar há um auditório em formato de cinema, onde os visitantes assistem a curto documentário sobre a Copa de 1970. Ao sair do auditório, o curitibano Fernando Soares comenta emocionado que “é muito bom ter um espaço assim. O Brasil está chegando ao nível de reverenciar seus ídolos, e estava mais que na hora do maior ídolo e jogador brasileiro ter um lugar que guarde e preserve sua história. Ele (Pelé) merece essa reverência”.
“Pelé é o brasileiro que mais divulgou o Brasil”
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O jornalista, escritor e historiador Odir Cunha, curador das exposições temática e permanente do Museu Pelé, conversou com a equipe do DL para falar da montagem do acervo.
Diário do Litoral: Como foi compactuar isso tudo em uma exposição?
Odir: Você tem que selecionar por tema. O Pelé tem um acervo grande, de 2500 peças, e não dá para expor todas as peças. Tem que selecionar as principais e trabalhar por temática.
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DL: Onde vocês encontraram o vídeo que mostra o Ghiggia fazendo um gol semelhante no Brasil e na Espanha na Copa de 1950?
Odir: Aquele vídeo, por incrível que pareça, é um vídeo oficial da Fifa. Quando vi achei muito interessante e curioso. Quem ama o futebol nunca mais esquecerá esse vídeo, porque o gol que o Ghiggia faz na Espanha, na semifinal, é o mesmo que ele faz no Brasil. Se o Barbosa tivesse visto aquele lance, talvez a final da Copa de 1950 tivesse outro resultado.
DL: Por que ir à exposição 4 Copas e 1 Rei?
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Odir: Acredito que por vários motivos. Primeiro que o Pelé é o brasileiro que mais divulgou o Brasil. Depois, porque aqui você terá detalhes da vida dele e vai entender porque ele virou o Rei do Futebol.