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Os mais jovens talvez não se lembrem da personagem Raquel vivida por Regina Duarte na novela Vale Tudo. Na trama exibida no ano de 1988, a atriz dá vida a uma mulher batalhadora que viu nos sanduíches uma maneira de sobreviver com dignidade. Separada e com dívidas, ela passou a vender a iguaria nas praias cariocas e, após muito esforço e trabalho, tornou-se dona de uma rede de restaurantes. A história fictícia dessa mulher é semelhante à trajetória da vida real de Selma Jorge, 55 anos, que viu no nhoque a oportunidade de sair de um terrível quadro de depressão.
“Perdi meu irmão no dia das mães de 1998. Ele era o mais velho. Éramos muito grudados. Algo impressionante. A minha mãe não suportou a morte dele e morreu também. Desse dia em diante minha vida mudou. Perdi meu chão. Durante cinco anos não fui mais a mesma”, disse Selma. O irmão de Selma foi assassinado, em Itanhaém, após uma discussão com o vizinho. “Ele estava vindo para a minha casa. Senti a morte dele. Dormi e acordei chorando. Logo depois veio a notícia”.
Mesmo sem saber lidar com a morte do irmão querido, Selma se viu na missão de ajudar a cunhada a criar os quatro sobrinhos. “Sempre gostei de agito e de repente me vi naquela situação. Emagreci e não tinha mais forças para nada, mas sabia que precisava seguir em frente. Até passou pela minha cabeça me matar”, afirmou. Considerada ‘sargentão’ e muito respeitada pela família, ela é a quarta de cinco irmãos. Enquanto a entrevista é realizada em sua casa, na Vila São Jorge, em Santos, um de seus quatros sobrinhos lhe telefona confirmando a afirmação que minutos antes fez à Reportagem. “Todos me respeitam. Tá vendo? Queria saber como eu estava”.
Para superar a perda e dar continuidade à vida, Selma buscou a ajuda de uma terapeuta. As sessões amenizavam as crises, mas não eram capazes de fazê-la se recuperar. Até que um dia uma amiga, com o intuito de distraí-la e mostrar-lhe um novo caminho, lhe pediu que fizesse um pouco de nhoque. “Gosto muito de cozinhar. Sempre gostei. Nesse dia ela me pediu para fazer nhoque. Fui lá fiz um pouco e ela levou. Um tempo depois voltou e pediu para que eu fizesse mais cinco quilos que iria vender”, relatou.
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Não sabia Selma que, naquele dia, além de encontrar a cura para a depressão teria nas mãos a ferramenta que proveria o sustento de sua casa. Mãe de um casal, Selma é separada. Criou os filhos fazendo faxina e passando roupa em casa de família. “Já sofri muito na vida. Comecei a trabalhar com 12 anos. Meu pai nos deixou quando ainda éramos pequenos. Nunca tive vergonha e nem medo de trabalhar”, contou.
Selma não concluiu o ensino fundamental, mas se declara uma autodidata. Foi fuçando que conseguiu montar uma página em uma rede social da internet, o que impulsionou a venda do nhoque que foi parar na mesa de gente famosa. Levada por uma amiga, a iguaria caiu nas graças do jogador Neymar. “Ele havia provado o meu nhoque e adorou. Depois ele encomendou e fui levar na casa dele. Um menino de ouro. Muito humilde. Me abraçou e me chamou de tia Selma. Indicou o meu nhoque para outros jogadores. Depois do Neymar conheci muita gente. Sou muito grata a ele. É um menino abençoado”, disse.
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O nhoque preferido de Neymar é o campeão de vendas. A massa recheada com queijo lidera o ranking de pedidos. Selma conta que a receita é feita a olho. O cardápio oferecido aos seus clientes, que vai desde o operário e artistas até restaurantes e buffets, foi cuidadosamente elaborado por ela e conta com recheios de ricota com espinafre, calabresa e camarão com catupiry. Todos feitos artesanalmente e com muito carinho na cozinha de seu apartamento. O produto é entregue fresco. “Eu converso com a massa. Desejo que ela fique boa e agrade ao cliente. Tenho muita satisfação em ver que alguém comeu e gostou. O nhoque me tirou do fundo do poço”.
O nhoque consegue manter as contas de Selma em dia. Vende de 40 a 50 quilos da massa por semana. A cozinheira abriu sua própria empresa, mas continua trabalhando sozinha. Após quase três anos de intenso trabalho, a ideia agora é ampliar o negócio e gerar empregos. “Tenho o sonho de abrir uma portinha e empregar outras pessoas. Outro sonho também é fazer com o que o meu nhoque chegue ao Bixiga (bairro paulistano que evidencia a culinária italiana). Eu tenho fé que vou conseguir”.
Geminiana e autêntica, Selma é do tipo de mulher que não leva desaforo para casa e tem como sua principal característica a sensibilidade. Livre da depressão, hoje ela preza a vaidade e não dispensa um bom baile voltado à dança de salão. Sobre a sua história acredita que possa servir de exemplo para outras mulheres: “Acredito que outras mulheres possam estar passando pelo mesmo problema que enfrentei. A dica é não desanimar. É ter determinação, garra, força de vontade e acreditar sempre que é possível. Hoje nada mais me abala. A dor que senti foi muito grande, mas estou aqui. Venci”.
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O nhoque da Selma pode ser encomendado pela Facebook, por meio da página Massas Selma Jorge ou pelos telefones (13) 3299-5788 e (13) 98822-4245.
Neymar gravou uma mensagem para Selma Jorge. Confira:
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