Cotidiano

Negros, hip hop e uma história em Santos

Em visita ao Diário do Litoral, Mauro Mariano, Preto Giba e Orlando Rodrigues, militantes de movimentos, relembram as conquistas

Publicado em 20/11/2014 às 02:53

Compartilhe:

Compartilhe no WhatsApp Compartilhe no Facebook Compartilhe no Twitter Compartilhe por E-mail

Continua depois da publicidade

As lembranças remetem ao início da década de 1990. Nos bairros periféricos, o breakdance era a novidade entre os jovens. Adolescentes, que trabalhavam como office-boys no Centro de Santos, improvisavam suas rimas na Praça Mauá. Os DJs começavam a se adaptar ao novo ritmo. Pichadores conheciam a arte do grafite. O movimento hip hop, que já era forte na Capital, se popularizava na Região. A cultura, que saia dos guetos, chamou a atenção do movimento negro. Nascia ali uma grande parceria com bandeira distinta: combater o preconceito e as desigualdades sociais.

“Fui a um show do Racionais MCs, no Vasco da Gama, em 1992. Fiquei em choque ao ver aquele espaço lotado com todo mundo cantando as músicas, gritando. Muitos jovens. Pensei: tem algo acontecendo”, lembra Mauro Mariano, 57 anos.

O músico e professor de História era membro do Conselho da Comunidade Negra de Santos na época. “Vi o potencial daqueles meninos (do movimento hip hop). A minha função dentro do conselho era organizá-los. Dar condições para que eles desenvolvessem a temática que era comum ao nosso movimento”, disse. Na Capital, os grupos de rap Racionais MCs e DMN atuavam nas escolas da periferia em parceria com a prefeitura e os movimentos negro e de mulheres.

O rapper Preto Giba, do grupo Zona de Attack, recorda a época com orgulho. Estava entre os jovens que expressavam por meio da cultura hip hop seus anseios. “O rap brasileiro da minha geração colocou para a rua uma discussão política, que até então era deixada de lado. Imagina um grupo grande de jovens falando sobre violência policial, genocídio do povo negro e desigualdade social. Éramos a voz que o movimento negro precisava. O rap colocou o dedo na ferida”, afirma.

A aproximação com o Conselho da Comunidade Negra de Santos possibilitou o fortalecimento do movimento hip hop na Baixada Santista. Logo, uma parceria com o governo municipal da ocasião, da ex-prefeita Telma de Souza (PT), foi realizada. Surgiu então a primeira rádio comunitária do país: a Rádio Rap Móvel. “Os grupos discutiam as problemáticas dos bairros onde a estaríamos, produzia as notícias e divulgava para a população”, recorda Giba. A rádio era realizada de forma itinerante nas praças e ruas da periferia da Cidade.

O hip hop também foi parar nas escolas. “Houve resistência dos professores, mas conseguimos realizar um projeto piloto. O resultado foi muito bom”, destaca Maurão. O projeto Rap nas Escolas consistia em utilizar letras de grupos nas discussões em sala de aula. Ele também destaca o Procura-se um Pichador. A iniciativa tinha o objetivo de transformar pichadores em grafiteiros.

Faça parte do grupo do Diário no WhatsApp e Telegram.
Mantenha-se bem informado.

Preto Giba, Mauro Mariano e Orlando Rodrigues relembram histórias relembram as conquistas (Foto: Matheus Tagé/DL)

Primeiro disco

A importância de Santos no cenário do hip hop no Brasil não ficou marcada apenas por essas ações, o primeiro vinil do gênero foi gravado na Cidade. “Um disco de 12 polegadas do General G. O Racionais MCs também gravou seu primeiro disco em Santos”, revelam os amigos Maurão e Giba.

Meu Nome é Hip Hop

Mais de duas décadas depois, o hip hop volta em cena nas escolas de Santos, por meio do projeto Prazer, Meu Nome é Hip Hop. Em atuação no bairro Caruara, na Área Continental, a iniciativa é desenvolvida em parceria com a Administração Municipal.

O projeto prepara um documentário com a história do movimento. “Vamos abordar a origem e a trajetória da cultura hip hop caiçara”, explica Orlando Rodrigues, coordenador do projeto. A produção é independente.

Continua depois da publicidade

Mais lidas

Conteúdos Recomendados

©2024 Diário do Litoral. Todos os Direitos Reservados.

Software