Cotidiano

Nas águas de dezembro, o Natal do recomeço

Relatos de quem perdeu tudo o que tinha e em meio aos estragos comemora a vida

Publicado em 24/12/2014 às 11:04

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“O que me chamou a atenção foi a camisa que ele usava. Nas costas tinha o número 25, que me lembra o Natal. Saiu de casa para retirar o lixo que estava amontoado em frente à ponte”.  O caminhoneiro Laercio Firmiano registrou a cena da janela de sua casa e postou em uma rede social da internet. O homem a quem ele se refere é o proprietário de um bar, na comunidade do Sá Catarina de Moraes, em São Vicente, que foi tomado pela água das chuvas. Já as vicentinas Nilza, Ruth, Rosáurea e Simone tiveram suas casas alagadas e pertences destruídos. Enquanto muitos celebram o Natal com a famosa troca de presentes, a data para elas será apenas de recomeço.

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“Estava deitada quando começou a chover. Ouvi os passos do cachorro na água e quando olhei para o corredor estava tudo cheio. Não deu tempo de subir nada. Perdi todos os móveis e roupas. Apenas a geladeira, que encheu de água, se salvou. Nem comida sobrou”, disse Nilza Brito dos Santos, de 34 anos.

A faxineira mora na comunidade do Sá Catarina de Moraes há 17 anos. O canal que existe no local é conhecido pelas enchentes. “Nunca tinha visto uma coisa dessas aqui. Sempre enche, mas essa foi a primeira vez que entrou água na minha casa. Minhas filhas, que moram com a minha mãe, passariam a morar comigo. Mas vou ter que adiar, pois perdi a cama e o guarda-roupa delas. Vou ter que trabalhar triplicado para comprar tudo de novo”, ressaltou.

A auxiliar administrativo Ruth Soares não estava em casa quando a chuva da noite da última segunda-feira (22) teve início. “Quando cheguei do Centro a minha casa estava toda cheia. Geladeira, fogão, sofá e estante tudo dentro da água. O meu tio que mora em frente também perdeu tudo. O que podemos fazer? É a natureza”, questiona a moradora da Vila Fátima. A moradora desconhece alagamentos como esse há pelo menos 20 anos.

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No bairro de Ruth muitas pessoas perderam tudo – ou o pouco - que tinham. O espírito natalino foi escoado junto com a água da chuva. “Não temos o que comemorar. Temos que limpar e jogar fora o que não presta mais. Não tem clima de comemoração. Temos apenas o desejo que Deus nos dê bastante paz, saúde e força para encarar e ir à luta. Não temos Natal”, ressaltou.

A também moradora da Vila Fátima Rousáure Ventura não perdeu tudo. Mas em um relato emocionado destacou seu meu maior bem: a vida. “Limpei a casa com os meus filhos. Só perdemos coisas materiais e isso a gente consegue de volta. Estamos todos bem”. A telefonista disse que a água danificou três camas – dela e dos dois filhos – e dois guarda-roupas. “O restante que molhou só o tempo de sol para secar”. Ela contou que o Corpo de Bombeiros foi chamado para resgatar moradores do bairro, que estavam ilhados dentro de casa.

O marido de Rosáurea não conseguiu retornar para casa na noite da segunda-feira. Dormiu no carro, em Cubatão, e de lá mesmo retornou para o serviço. Centenas de pessoas Região passaram a madrugada da última terça-feira nas ruas ou dentro dos ônibus. Com o trânsito congestionado e as ruas alagadas, muita gente chegou em casa apenas quando o dia amanheceu.

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Não foram registradas mortes em decorrência dos fortes temporais que atingiram a região (Foto: Matheus Tagé/DL)

Com a certeza de que terá o marido em casa no Natal, Rosáurea encara a data como um dia comum, simples e familiar. “Nem roupa especial eu comprei. O mais importante as pessoas esquecem que é o aniversário de Jesus”, ressaltou.

A dona de casa Simone Simão, que mora no bairro Jóquei Clube, também perdeu alguns móveis. Com a casa tomada pela água da chuva foi obrigada a colocar oito crianças em uma beliche. Enquanto deixava os netos em segurança, o marido tentava ajudar os vizinhos a erguer os móveis. “A gente até perde a noção. As crianças ficaram agitadas a noite toda. O sobrinho do meu marido tirou uma senhora de casa de barquinho e a levou até a casa do neto”, disse.

O Natal de Simone acabou, no entanto aproveita o momento para agradecer a chance de estar viva. “Graças a Deus estamos vivos e com saúde. O que a gente perde é bens materiais. A gente batalha e consegue de novo. Levanto as mãos para os céus e agradeço por ter saúde”, destacou.

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Doações

Assim que os relatos de destruição e perdas começaram a surgir nas redes sociais, a pensionista Regina Bessa lançou um desafio aos amigos: “Urge uma corrente de solidariedade aos desabrigados! Quem vem nessa comigo?”. A moradora da Rua do Colégio, no Centro de São Vicente, não teve o apartamento atingido, mas já se acostumou a ver o drama de quem nada tem. Imediatamente o post recebeu centenas de comentários positivos.

“A gente nunca sabe o que pode acontecer conosco. Temos que ter uma visão macro de tudo e não podemos pensar apenas em nossos umbigos. Moro em frente a um prédio abandonado e já entrei lá por diversas vezes para acudir alguém vítima de overdose. Se a gente for depender do poder público estamos mortos”, disse Regina. As doações serão destinadas à famílias que foram atingidas pelas chuvas dos últimos dias.

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Quem estiver interessado em colaborar com doações de móveis, roupas e alimentos não perecíveis é só entrar em contato pelo telefone (13)99145-9000 falar com Ronaldo. Os produtos serão doados

Chuvas alcançam índices elevados

As chuvas, que tiveram início na tarde da última segunda-feira (22) e seguiram por toda a terça-feira (23), causaram muitos transtornos na Região. Estradas ficaram congestionadas e bairros completamente alagados. Não foram registradas mortes em decorrência dos temporais. A previsão é que o sol volte a aparecer nos próximos.

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Em Santos, o índice pluviométrio acumulou 231,4 milímetros. Todos os morros estão estado de atenção. A Defesa Civil atendeu diversas ocorrências envolvendo quedas de árvores, muros e escorregamento em diversos morros.

Em São Vicente a situação ficou crítica em muitos bairros. A Cidade está em estado de atenção. Houve deslizamento de encostas no Morro dos Barbosas, mas nenhuma moradia foi atingida. Segundo a Defesa Civil, a Cidade não registrou desabrigados.

Em menos de um dia, Cubatão recebeu 72% das chuvas previstas para todo o mês de dezembro.  Ainda assim, não houveram casos de desabrigados devido a enchentes ou deslizamentos de terra. A Cidade está em estado de atenção.

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A Defesa Civil de Bertioga registrou dois chamados de alagamento, que afetou duas residências, no Centro. O Município está em estado de alerta. Em Guarujá, foram identificados pontos de alagamentos em diversos bairros.

As chuvas causaram diversos transtornos em Mongaguá, devido ao alagamento de diversas ruas do município. Não há registro de desabrigados.

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