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Victor Jackson da Silva, 22 anos, nunca recebeu uma correspondência em casa. O produtor musical chegou a Santos com apenas três anos de idade. Ele e a mãe sairam do nordeste e fixaram moradia no Morro Tetéu, na Caneleira. Lá não existe serviço de Correios. A comunidade faz parte da Zona Noroeste, que hoje completa 39 anos. A região, que possui mais de 100 mil habitantes, passou por grandes avanços ao longo de quase quatro décadas, no entanto ainda concentra boa parte dos problemas de infraestrutura e socioeconômicos existentes na Cidade.
“Nunca recebi uma carta na minha casa. Para pegar as cartas os moradores precisam ir até o posto dos Correios da Nossa Senhora de Fátima (avenida). Hoje, o que a população mais necessita é do serviço de Correios”, disse Silva.
Morar no Tetéu, para o produtor, é sinônimo de felicidade. Mas, segundo ele, não há motivos para comemorar o aniversário da Zona Noroeste. “Não tem o que comemorar pelos problemas da região. No morro não tem escola, não tem saúde, não tem saneamento básico. É tudo feito na Vila São Jorge. Temos uma boa quadra de esportes, mas que foi construída pelos moradores”, destacou.
Ana Bernarda mora na Vila Pantanal há 25 anos. Ela preside a Associação de Moradores da comunidade, que fica no bairro Saboó. Para ela a data é de reivindicações. “Aniversário de sofrimento. Infelizmente não tem nada para comemorar. Temos que lutar e buscar vida digna para a Zona Noroeste”.
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A líder comunitária relatou os problemas da Vila Pantanal. Na comunidade falta saneamento básico, asfalto, áreas de lazer e vagas em creches. “Moramos em uma favela e não é pavimentada. Não temos cultura, recreação e oportunidades para os jovens, que ficam à mercê da criminalidade. Existem apenas duas creches no Saboó e as listas de espera são enormes. Estamos falando de crianças com risco social grande”, disse Ana.
Um pouco distante do Tetéu e da Vila Pantanal, próximo à Via Anchieta e ao lado do polo industrial da Alemoa, mora a diarista Ana Paula Azevedo dos Santos, na Vila dos Criadores, também Zona Noroeste. A comunidade erguida junto ao antigo lixão abriga aproximadamente duas mil pessoas. Os problemas são muitos. “Ficamos distante de tudo. Procuramos outros bairros para fazer as nossas coisas. As crianças vão para a escola a pé por ruas sem sinalização e sem segurança. O esgoto é a céu aberto. Não temos escola, médicos e nem creche. Seria bom que as melhorias chegassem, pois gostamos de morar lá”, afirmou.
A dona de casa Lucileia Siqueira dos Santos mora há 28 anos no Caminho São José. A comunidade, que fica no Dique da Vila Gilda, foi palco de um grande incêndio na semana passada. O fogo destruiu 150 barracos. Por sorte ninguém se feriu. “Sou vizinha de onde aconteceu o incêndio. Vivemos uma situação de risco. Os projetos habitacionais chegam a passo de tartaruga. Não há fiscalização. Não há diagnóstico social e nem controle para congelar a favela. Até quando vai ficar essa situação?”, questionou.
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No último dia 9, domingo de Dia dos Pais, o Diário do Litoral contou a história do desempregado Luiz Carlos de Jesus, de 40 anos. Morador do Caminho São José, o filho de 13 anos queria lhe dar de presente um emprego. Os dois, que já passavam sérias dificuldades, perderam o barraco no incêndio.
Promotoria Comunitária
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Os relatos de Victor, Ana Bernarda, Ana Paula e Lucileia foram ouvidos durante a reunião de agosto da Promotoria de Comunitária, em Santos. A iniciativa, que teve início na Capital, chegou à Cidade há seis meses. Promotores de justiça intermediam casos coletivos apresentados por moradores nas reuniões que acontecem uma vez por mês no auditório da Universidade Católica de Santos (Unisantos).
“A nossa ideia é fazer a aproximação entre a comunidade e as autoridades que eventualmente possam resolver os problemas das comunidades. O Ministério Público na Promotoria Comunitária tem como principal ideia ser a voz da comunidade, porque muitas vezes as pessoas ou se deixam inibir ou não sabem exatamente a quem procurar”, disse o promotor Ivan da Silva, coordenador do projeto. O objetivo é resolver as questões sem a necessidade de judialização.
Na reunião que o Diário do Litoral acompanhou, representantes da Prefeitura de Santos levaram respostas aos questionamentos dos moradores, apresentados no encontro anterior. Em seis reuniões realizadas na Cidade foram apresentados 27 casos, maior parte deles relacionados à Zona Noroeste.
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“Acredito que a maioria das demandas é da Zona Noroeste. São demandas variadas, desde a falta de acesso à internet até o problema de enchente, falta de estrutura no colégio, da comunidade ter estrutura de lazer e de segurança, que afeta todo mundo”, destacou o promotor.
Qualquer pessoa pode participar das reuniões da Promotoria Comunitária. Os encontros são realizados mensalmente, na última quinta-feira do mês, das 17h às 19h no auditório da Unisantos, que fica na Avenida Conselheiro Nébias, 589, no Boqueirão.
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