Cotidiano
Encerramento da ação levou mais de 400 mulheres às ruas e rodovias, paralisando-as em alguns trechos, em ato de denúncia às violências e violação de direitos sofridos pelas mulheres
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Neste fim de semana, mais de 400 mulheres se reuniram na cidade de Registro, localizada no Vale do Ribeira, unindo os estados de São Paulo e Paraná em dois dias de atividades de formação feminista e ato político. No encerramento, elas ocuparam as ruas da cidade, paralisando trecho da BR-116 e levando mensagens de denúncia da violência de gênero e em defesa de seus territórios e autonomia. A agenda faz parte da IV Ação Internacional da Marcha Mundial das Mulheres (MMM), mobilização que o movimento realiza a cada cinco anos em mais de 100 países e territórios onde está presente.
“O Vale do Ribeira foi o escolhido pela Marcha para receber a ação porque abriga, além das mulheres da área urbana, as mulheres de comunidades tradicionais, como as quilombolas, as indígenas, as camponesas e as ribeirinhas, que há mais de 30 anos resistem à construção de uma barragem no Rio Ribeira”, comenta Miriam Nobre, representante da MMM em São Paulo. De acordo com a ativista, a obra ameaça as comunidades de serem expulsas dos lugares onde sempre viveram e cultivam todas as suas relações, sociais e de trabalho.
O encontro reuniu mulheres interessadas na agenda da ação, que foi construída de maneira colaborativa com as moradoras da região em encontros temáticos prévios que levantaram as pautas locais. O primeiro dia (10), concentrou plenárias de formação feminista com conteúdos sobre violência de gênero, sexo e raça, especialmente doméstica, psicológica e financeira, a importância da autonomia da mulher sobre seu corpo, trabalho, sexualidade e reprodução, exploração sexual no entorno das rodovias e obras de infra-estrutura, entre outros. As alternativas da agroecologia como resistência a um modelo de produção não sustentável às comunidades da região também tiveram bastante espaço nas discussões.
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“A ideia de abordar este tema é afirmar e fortalecer a economia solidária, a agroecologia, as experiências, o conhecimento e práticas cotidianas das mulheres da região como caminho alternativo para o modelo vigente de produção, reprodução e consumo”, explica Rosana Rocha, uma das organizadoras locais da ação.
O segundo dia de atividades (11) foi de oficinas temáticas, que procuraram identificar as causas das diferentes formas de violência a que são submetidas as mulheres, discutir e definir os caminhos para resistir a elas, além de alternativas para suprimi-las, garantido a promoção de uma sociedade mais justa e equilibrada entre homens e mulheres, nas diferentes esferas de relações estabelecidas entre eles no ambiente doméstico e laboral.
Para a moradora da região, a agricultora Vera Lucia Oliveira, a ação foi um divisor de águas na vida das mulheres do Vale do Ribeira. “Temos muito pouco contato com conteúdos como o que tivemos neste fim de semana e eles são fundamentais para que possamos entender e interferir de maneira construtiva em nosso dia a dia, minimizando até podermos impedir a opressão em praticamente todos os espaços que convivemos, em casa, na roça, na rua”, comenta.
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No encerramento, todas as mulheres participaram de um ato político ocupando as ruas de Registro e trechos da BR-116 com batucadas e explanação de denúncia das violências e defesa dos “territórios das mulheres”, compostos pelos seus corpos, lugares onde vivem, trabalham e constroem suas relações sociais.
Sobre a IV Ação Internacional da MMM no Brasil – Com o lema “Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres”, a IV edição da Ação Internacional da Marcha das Mulheres acontece cinco anos após a última mobilização, quando mais de duas mil mulheres de todo o país marcharam por cerca de 100 km para dar visibilidade à luta das mulheres. Diferente dos outros anos, a edição de 2015 é descentralizada, enraizada localmente com objetivo de visibilizar as lutas das mulheres em seus territórios específicos, suas resistências e alternativas. Além da ação no Vale do Ribeira, outras duas ações descentralizadas já aconteceram este ano: em Tocantins onde as mulheres afirmaram a auto-organização e o feminismo como movimento social, e em Minas Gerais, onde cerca de 3 mil mulheres marcharam em defesa da água e de seus territórios, e contra a mineração. As próximas ações são na Paraíba, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul, Ceará e Rio Grande do Norte.
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