Cotidiano
Na abertura do Festa, eles devem manifestar ao público os problemas com relação ao festival. Artistas afirmam que o secretário de Cultura sabia de verbas frutos de emenda parlamentar para o Festa e Festes
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O relacionamento do secretário de Cultura de Santos, Raul Christiano, com o Movimento Teatral piorou, principalmente após o chefe da pasta ter declarado na Imprensa que existe uma política para desestabilizar a Secretaria de Cultura (Secult). Hoje, às 20 horas, no lançamento do 56º Festival Santista de Teatro (Festa) e do 12º Festival de Cinema de Santos - Curta Santos, no Sesc, os artistas prometem expor o verdadeiro muro entre as partes ao público presente na abertura dos eventos.
Em entrevista ao Diário do Litoral, três representantes do Movimento Teatral da Baixada Santista — Júnior Brassalotti, Caio Martinez Pacheco e Platão Capurro Filho — garantiram ter documentação que, segundo eles, comprova a falta de transparência do secretário com relação às verbas do Festa e do Curta Santos.
Ontem, o Movimento publicou nas redes um novo comunicado contra Christiano fazendo acusações graves, como um suposto alto número de comissionados recebendo por cachê (o que pode acarretar futuros problemas trabalhistas) enquanto funcionários de outras áreas recebendo pela Secretaria de Cultura (Secult); “imposição das organizações sociais numa votação obscura no Conselho Municipal de Cultura (CMC)” e não cumprimento do Plano Nacional de Cultura (PNC).
Os artistas de Santos afirmam que Christiano sempre teve ciência da existência da emenda parlamentar de R$ 60 mil do deputado estadual Luciano Batista (PTB), como também de outra, no mesmo valor, para a realização do Festival Estudantil Paschoal Carlos Magno (Festes). “Portanto, não houve ‘mal entendido’ algum por parte do Movimento. Mas sim, uma ação premeditada para confundir a opinião pública e justificar a ida dos recursos para outros eventos”, afirmam.
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Segundo contam os membros do movimento, o secretário também “tentou confundir” a população com relação à emenda da deputada Telma de Souza (PT), que há três anos é destinada à Mostra Regional do Festa (Motim), que agrega grupos de todas as cidades da região. “O Motim é realizado no final do ano, justamente para não misturar com o Festa. Portanto, não usamos esta verba para o festival, como ele declarou recentemente na imprensa”, garantiu Martinez.
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Conversas e mensagens
“Além do próprio deputado anunciar as duas emendas em seu jornal, eu troquei mensagens com o Raul e ele me confirmou que já sabia das emendas e que iria cuidar da liberação do dinheiro”, disse Capurro, acompanhado de Martinez que completou: “um assessor do deputado também comunicou o movimento que a verba já estava disponível na Secult. Temos até o número do processo”.
Júnior Brassalotti garantiu que o Festa será realizado mesmo sem a verba, mas com outro formato. “Essa situação é apenas a gota d’água diante da total falta de respeito com a classe teatral”, disse Brassalotti que, junto com os demais, acredita que Raul não cumpre promessas e que no começo do ano, com o prefeito Paulo Alexandre, foi acordado que a Prefeitura não só repassaria também R$ 70 mil para o Festa deste ano, como haveria um aumento progressivo do valor nos anos seguintes. “Mas, no dia 25 de agosto último, o secretário nos comunicou que não haveria aumento na verba como ainda o valor disponível para o Festa seria de apenas R$ 4 mil”, afirmou Martinez, enfatizando que o comunicado prejudicou todo o planejamento do Festival.
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“Vale a pena enfatizar que o Movimento não pega em dinheiro. A gente apresenta uma planilha de gastos e a Secult a executa. Em agosto último, ao apresentarmos a planilha, fomos surpreendidos pelo secretário com a informação que as emendas não existiam e muito menos a verba municipal”, disse Capurro, alertando que os dois principais eventos culturais de Santos, mantidos pela sociedade organizada, pela primeira vez não obtiveram apoio da Prefeitura.
Barreira
Diante do que eles chamam de descompromisso com a cultura, com os artistas e com seus principais incentivadores, o Movimento garante que não há mais clima e segurança no relacionamento com o atual secretário. “Fizemos uma manifestação no Mirada, vamos enviar um ofício ao prefeito e expor tudo à sociedade. O Raul construiu uma barreira entre ele e a classe artística da Cidade”, finaliza Martinez.
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Os artistas apontam outros problemas, entre eles corte de projetos; atrasos constantes no pagamento dos professores da Escola de Artes Cênicas Wilson Geraldo e de parte dos funcionários da Secult e falta de políticas públicas na área da Cultura.
Prefeito garante que recursos estão disponíveis
Procurado pela Reportagem, o prefeito Paulo Alexandre Barbosa (PSDB) esclareceu que os “recursos pactuados estão disponíveis para os eventos tradicionais como o Festa e o Curta Santos e a possibilidade de transferência para outros eventos é zero. Os compromissos assumidos estão mantidos e serão ampliados”, disse o prefeito, completando: “não pudemos fazer da maneira que pretendíamos por conta de ajustes financeiros que tivemos que fazer na Prefeitura”.
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Barbosa garante que em contato com o deputado estadual Luciano Batista obteve a informação de que a emenda seria apenas para o Festes e não para o Festa. “Ele (Batista) reconheceu o equívoco publicado em seu jornal de prestação de contas. A parte da Prefeitura para este ano está mantida e à disposição dos artistas. Nossa meta é ampliar os recursos e isso irá acontecer no próximo ano de forma bastante intensa”, disse o prefeito.
Em contato ontem com a Reportagem, o secretário Raul Christiano contestou todos os pontos e endossou as palavras do prefeito com relação aos ajustes e à confusão da assessoria do deputado Luciano Batista. “Não havia nenhuma emenda para o Festa, mas sim, para o Festes. E, em nenhum momento, houve desvio de verbas para outros eventos. Os recursos do Festa — R$ 50 mil da Prefeitura e R$ 10 mil do vereador Igor (Martins de Melo – PSB) — estão à disposição”, confirmou Raul Christiano.
O secretário ficou magoado com uma suposta obscuridade na escolha do CMC. “Foram quatro reuniões abertas e democráticas. Todos puderam opinar e escolher. Com relação aos cachês, eles são pagos para instrutores que ministram oficinas, nunca para funcionários. Não há nada de errado e eu estou sendo penalizado injustamente, pois sempre mantive um diálogo aberto e franco com os artistas”, finalizou o secretário.
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O Movimento
O Movimento Teatral da Baixada Santista é um coletivo de artistas, profissionais e estudantes de artes, que busca dar coesão e voz à categoria, agregando forças em prol da classe e do fazer teatral, em todas as suas instâncias: teatro de pesquisa, teatro infantil, de rua, circo e performances. Ele visa também garantir espaços de cultura mantidos pela municipalidade e pelo Governo do Estado e conscientizar e fortalecer ações de natureza cultural, além de zelar pela manutenção de serviços existentes e pela criação de outros espaços e ampliação das ações voltadas para a cultura.
Ele surgiu no final dos anos 40, através da militância de Patrícia Galvão, nome emblemático para esse coletivo. Surge em um momento de transição política, buscando a garantia de espaços culturais em um momento que Pagu e o marido Geraldo Ferraz passam a viver na cidade e agitar a cultura do município.
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