Cotidiano

Morte de brasileiro na Australia teve participação de policiais, diz a Justiça

A acusação formal será feita na próxima semana, quando também será determinada a data para o julgamento no Tribunal Central de Sydney no começo do próximo ano

Pedro Henrique Fonseca

Publicado em 13/12/2013 às 18:06

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A Promotoria de Justiça do Estado de Nova Gales do Sul na Austrália decidiu nesta sexta-feira, 13, que quatro dos onze policiais envolvidos na perseguição, detenção e morte do estudante brasileiro Roberto Laudisio Curti em 18 de Março de 2012 em Sidney serão processados criminalmente.

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A acusação formal será feita na próxima semana, quando também será determinada a data para o julgamento no Tribunal Central de Sydney no começo do próximo ano. Em decisão inédita na história da policia australiana, a Comissão de Integridade Policial pediu à Promotoria de Justiça em maio deste ano que considerasse o julgamento criminal dos policiais com base na conclusão de suas investigações.

Denominada Operação Anafi (pronúncia literal da palavra inglesa "enough", no sentido de limite de tolerância), o volume de mais de cem páginas detalhando o resultado das investigações tem evidências de como os acusados "transgrediram gravemente o regulamento de conduta policial e possivelmente agiram criminosamente".

O Diretor da Promotoria decidiu que de acordo com a constituição estadual os policiais Eric Lin e Damien Ralph serão julgados por agressão, enquanto que os policiais Scott Edmondson e Daniel Barling serão julgados por agressão e lesão corporal.

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Eric Lin foi o primeiro a disparar a arma Taser contra Roberto, atirando pelas costas e contra as instruções da policia local que recomendam que a arma não seja utilizada em perseguições. O policial também atirou em Roberto já caído no calçada.

Roberto Laudisio Curti morreu em 18 de Março de 2012 em Sidney (Foto: Arquivo Pessoal)

Damien Ralph aplicou três tubos de gás pimenta a cerca de 10 centímetros do rosto de Roberto já algemado, também contra o regulamento que recomenda pelo menos 60 centímetros de distância Scott Edmondson e Daniel Barling aplicaram seguidos choques elétricos diretamente na pele de Roberto já detido e algemado.

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Até agora a Policia havia se recusado a afastar os policiais de suas funções. A única medida interna contra os envolvidos havia sido a perda temporária da licença para utilizar tasers. O julgamento poderá levar ao afastamento definitivo e penas de prisão.

O único policial de graduação oficial envolvido na morte do estudante não será processado. O inspector Gregory Cooper imobilizou Roberto Laudisio no chão com seu corpo enquanto os outros policiais aplicavam choques elétricos e gás de pimenta. Gregory Cooper foi promovido de sargento a inspetor antes do julgamento preliminar.

A irmã de Roberto, Ana Laudisio, e seu marido australiano Mike Reynolds disseram nesta sexta em Sidney que "as acusações são mais um passo na direção certa mas não são suficientes". Eles lembraram as "falhas da investigação policial apuradas pelo ouvidor geral" e as "inconsequentes e excessivas ações dos policiais de acordo com a magistrada do estado".

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Domingos Laudisio, o tio de Roberto que acompanhou as duas semanas do julgamento preliminar dos policiais em outubro do ano passado em Sidney, foi mais longe. "É pouco. Há muitos outros pontos que ainda precisam ser investigados, principalmente com respeito à tortura e homicídio", disse. "Como a própria magistrada do estado afirmou, a morte de Roberto foi causada pela ação policial. Portanto, é um caso claro de homicídio", afirmou. "As instituições legais australianas também devem ser mais transparentes quanto ao abuso e brutalidade policiais", disse.

A família de Roberto está em contato com a Comissão de Direitos Humanos da ONU em Genebra para tratar do assunto em termos de tortura e tratamento desumano. "As evidências de tortura são muito fortes e não podem ser ignoradas", disse Domingos. "O nosso pedido formal para que a Comissão de Direitos Humanos solicite ao governo e às autoridades judiciais australianas que investiguem os indícios de tortura permanece", afirmou.

A Policia se recusou a dar entrevistas e divulgou um curto comunicado dizendo que está ciente da decisão da Procuradoria e que "ações administrativas internas continuam em vigor para os policiais citados" e "não comentará sobre o caso enquanto houver um processo legal em andamento".

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A decisão judicial quase dois anos depois da morte de Roberto Laudisio foi a notícia de maior destaque nos principais jornais e noticiários da TV australiana.

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