Cotidiano

Moradores do Rabo do Dragão reclamam da retirada de um coletivo da Linha 5

População está há uma semana sem entender porque ônibus que trafegam pela região foram retirados de circulação. Vereador Luciano China (PMDB) foi conhecer de perto o martírio dos trabalhadores e estudantes

Carlos Ratton

Publicado em 20/04/2014 às 00:10

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O velho e sábio ditado já dizia: na luta do rochedo com o mar, quem se ferra é o marisco. Pois é isso que está ocorrendo em Guarujá, com a retirada, desde o último sábado (12), de um ônibus da linha cinco, que atende dezenas de moradores dos bairros localizados numa área conhecida como Rabo do Dragão – que se estendem às margens da Rodovia Ariovaldo Viana (estrada Guarujá-Bertioga).

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Após receber inúmeros telefonemas, a reportagem buscou informações sobre quem seria o “pai” da iniciativa e acabou se deparando com uma situação inusitada: a Prefeitura afirma que a retirada foi a pedido da Translitoral que, por sua vez, garante que foi a pedido da Administração. No final, é a população que vem sofrendo.      

A concessionária do transporte público em Guarujá diminuiu um veículo durante o período diurno, dos três que operam a linha. O fato se agrava porque, segundo os moradores, além de aumentar o intervalo entre os carros, no período noturno, a empresa passou a colocar apenas um carro à disposição dos moradores da região, que não têm condições de bancar outro meio de locomoção. O resultado não podia ser pior: no mínimo uma hora de espera.

Sem qualquer consulta pública, dias atrás, a empresa andou distribuindo um panfleto dentro dos ônibus sobre a mudança, que vem acarretando a perda da integração das passagens, obrigando a população a pagar uma segunda tarifa.

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Pontos cheios

Falta de passageiros não existe. Desde sábado (12), inúmeros moradores vêm ligando para a redação do Diário do Litoral (DL) reclamando que a iniciativa acarretou prejuízos, tornando a vida dos usuários um verdadeiro inferno. Muitos estão perdendo consultas médicas, atrasando no trabalho e na escola. Outros chegam no serviço estressados por serem obrigados a viajar de pé e apertados.

Na última terça-feira (15), no plenário da Câmara, o vereador Luciano Lopes da Silva, o China (PMDB), do mesmo partido da prefeita Maria Antonieta de Brito, foi o único parlamentar a se mostrar sensível à situação. Ele apresentou um requerimento pedindo providências urgentes e, principalmente, exigindo detalhes da reunião entre a Prefeitura e a empresa que decidiu pela retirada de parte do transporte.

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Em área às margens da Rodovia Ariovaldo Viana, linha deixa de atender moradores (Foto: Luiz Torres/DL)

Mais do que se manifestar na tribuna da Casa, China resolveu ir até o Rabo do Dragão, onde colheu o depoimento de mais de 50 pessoas, que se aglomeravam em um dos pontos da rodovia. Ele também conversou com motoristas. “Estão castigando gente trabalhadora, que precisa do transporte para ganhar o pão. Isso não se faz. Vou lutar para reverter essa situação, nem que precise usar a Justiça”, disse o vereador, que já foi responsável pelo Procon de Guarujá.

Ação

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Não é de hoje que China busca melhorias no transporte público. Em julho do ano passado, ele ingressou com uma representação no Ministério Público (MP) solicitando ao órgão a assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) que obrigasse a Translitoral a cumprir o básico: o contrato realizado com a municipalidade.

O vereador resolveu tomar para si o papel que deveria ser da Prefeitura, que é o de zelar pelo cumprimento do contrato em sua totalidade e não, segundo informava ao MP, de forma equivocada e parcial. Cinco dias depois da denúncia, a 4ª promotora de Justiça, Silvia de Freitas Denari, encaminhou ofício para a Prefeitura e para a empresa para que enviassem respostas para os problemas levantados pelo vereador que apontava, entre outras coisas, falta de higiene nos veículos. “Até fezes nos assentos dos ônibus estão sendo encontradas de forma a impedir o uso do transporte e tornar insalubre a viagem, em total desrespeito aos usuários”, revelava o vereador no documento.

Abrigos

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Ele informava que existe um decreto municipal (8633/2009) que obriga a empresa a manter 338 abrigos cobertos na Cidade. No entanto, a Translitoral só possui 218. Além disso, a empresa não estaria cumprindo a obrigatoriedade de informar os itinerários e somente uma linha possui veículo com elevador para acesso de deficientes.

China afirma que a Translitoral ainda seria obrigada a ter os pontos sinalizados, com placas informativas contendo o percurso de cada uma das linhas, horários dos ônibus e intervalos dos coletivos, bem como informar o telefone do Procon e locais de recarga do cartão transporte. “O fato é que os usuários continuam sofrendo com o transporte lotado em horários de pico, há poucas linhas em funcionamento, falta informação e de linhas que atendam os deficientes, dificuldades na compra de passes escolares e outros problemas”.

China também preiteava a redução das tarifas mas, ao que tudo indica, nada mudou. Hoje, o morador de Guarujá e Vicente de Carvalho paga R$ 2,90 – um dos bilhetes mais caros da região. Em muitos pontos, o cidadão pega chuva e os ônibus continuam em péssimo estado de conservação. Agora, ainda falta carro.

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Translitoral e Prefeitura

Procurada, na ocasião, a Translitoral, por intermédio de sua Assessoria de Imprensa, resumiu alertando que estava respondendo a todos os questionamentos diretamente ao Ministério Público. Já a Prefeitura de Guarujá disse que o Departamento Jurídico não havia recebido a representação do MP e, por desconhecer teor, não tinha como se manifestar sobre o assunto. Nem a Administração, nem a empresa manifestaram preocupação com os usuários.  

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