Cotidiano

Mantega adota discurso cauteloso, mesmo após PIB acima do esperado por mercado

Em entrevista nesta quinta-feira, 27, o ministro da Fazenda por duas vezes preferiu usar "talvez" na sua previsão sobre inflação para 2014

Pedro Henrique Fonseca

Publicado em 27/02/2014 às 19:30

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Visivelmente mais tranquilo com o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre de 2013, melhor do que o esperado pelos analistas do mercado financeiro, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, procurou reforçar um discurso mais cauteloso do que o habitual. Em entrevista nesta quinta-feira, 27, Mantega por duas vezes preferiu usar "talvez" na sua previsão sobre inflação para 2014.

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Logo no início da entrevista, Mantega projetou uma inflação "talvez" um pouco menor este ano do que a registrada em 2013, de 5,91%, e essa possibilidade decorre de medidas que o governo tem tomado. Ele citou os aumentos de juros promovidos pelo Banco Central e a meta de superávit primário de 1,9% do PIB para este ano. Depois, Mantega avaliou que o aperto monetário cria condições de controlar a inflação e "talvez" reduzi-la. Não foi categórico ao prever a queda dos índices de preços, diferentemente do que sustentou ao longo de todo o ano passado.

Em meio às discussões sobre o fim do ciclo monetário, o ministro foi além: "Em função da política fiscal que nós anunciamos e da continuação da política monetária do Banco Central, as taxas de juros de longo prazo poderão cair", afirmou. Mantega evitou fazer projeções numéricas de todos os tipos, como investimento, crédito, crescimento da economia e o carregamento da alta do PIB de 2013 para 2014. "Prefiro olhar as projeções do mercado", disse ele, que durante os quase oito anos da sua gestão foi pródigo em fazer estimativas e também muitas vezes criticado por errar.

Em tom de desagravo, Mantega afirmou que os analistas terão que passar o Carnaval revisando as suas projeções pessimistas de crescimento. Mantega admitiu, no entanto, que a sua própria assessoria foi surpreendida com o resultado do PIB no quarto trimestre.

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Guido Mantega procurou reforçar um discurso mais cauteloso do que o habitual (Foto: Agência Brasil)

O presidente do BC, Alexandre Tombini, afirmou em nota que o resultado confirma "a gradual recuperação da atividade econômica iniciada no segundo semestre de 2012". Acrescentou que "as mudanças na composição da demanda e da oferta fortalecem as perspectivas de continuidade do atual ciclo de crescimento neste e nos próximos anos, processo este que tende a se apoiar nos sólidos fundamentos da economia brasileira, na robustez do mercado interno e no ambiente de intensificação da atividade global".

Mantega também usou as palavras "gradual" e "moderada" para projetar o crescimento do PIB em 2014. Não quis nem mesmo especular sobre a possibilidade de uma alta maior este ano do que os 2,5% projetados no decreto de programação orçamentária divulgado na semana passada. Sobre a nova meta fiscal, o ministro se mostrou otimista com o seus efeitos na economia, que segundo ele aumenta a confiança e, em última instância, ajuda na inflação e no crescimento do PIB.

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O ritmo mais lento dos investimentos no segundo semestre do ano passado em relação aos primeiros seis meses do ano foi explicado por Mantega como vinculado à "menor capacidade do BNDES de atender a demanda". Segundo o ministro, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) "diminuiu um pouco a disponibilidade de financiamento no segundo semestre".

"O dinheiro do BNDES estava acabando, no fim do ano. Ainda que ele tenha desembolsado muito no ano passado, a capacidade dele ficou aquém da demanda por recursos no fim do ano. Essa demanda naturalmente vai se mover para o início deste ano de 2014, com o BNDES apresentando um novo orçamento", afirmou Mantega, que foi presidente do banco de fomento entre 2004 e 2006, antes de assumir o Ministério da Fazenda.

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