Cotidiano

Mães de Maio fazem manifestação na Areia Branca

Durante cerca de 30 minutos, a Avenida Nossa Senhora de Fátima ficou congestionada no Dia de Finados

Agência Brasil

Publicado em 03/11/2015 às 11:28

Atualizado em 13/12/2021 às 00:23

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O Dia de Finados, ontem, em Santos foi diferente dos anteriores. Enquanto centenas de pessoas visitaram os túmulos de parentes e amigos que faleceram, do lado de fora do Cemitério da Areia Branca, na Zona Noroeste, cerca de 20 mulheres e jovens do Movimento Mães de Maio — que reúne familiares de vítimas de violência do Estado — fez um protesto pacífico para que a população não esqueça o episódio que tirou a vida de mais de 500 jovens em maio de 2006.

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Por volta das 12 horas, exibindo faixa com os dizeres ‘Nossos mortos têm voz’, fotografias das vítimas e lenços pretos nos rostos, o grupo saiu da Igreja Santa Maria (Na Praça Júlio Dantas) e seguiu caminhando bem devagar pela Avenida Nossa Senhora de Fátima (sentido Centro-São Vicente) até o cemitério. O trânsito ficou interrompido por cerca de 30 minutos.

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Um agente da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) de Santos acompanhou o trajeto. Durante o percurso, os manifestantes convocavam as pessoas a acompanhar o manifesto gritando: ‘Vem para a rua contra o extermínio’ e ‘Cada dia uma história diferente. É a PM matando gente inocente’.

Em frente ao cemitério, diante de equipes da Polícia Militar e da Guarda Municipal, a representante do Movimento, Débora Maria Silva, fez um discurso emocionado ao lado de Jurema Carvalho Oliveira Campos cujo filho teria sido assassinado pela polícia em 24 de julho último, no BNH da Aparecida. Também estava na passeata Elvira Ferreira da Silva. Seu filho (auxiliar de limpeza da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) também teria sido morto por policiais. Os casos encontram-se abertos na Justiça.

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“Tem sempre que lembrar que nossos filhos foram vítimas do braço armado do Estado. Estamos recorrendo à Organização dos Estados Americanos (OEA) porque consideramos que esses crimes são contra a humanidade. Segurança pública está falida e a maneira de mostrar serviço, dar uma resposta rápida à sociedade, é torturando e matando jovens da periferia”, afirma Débora Silva, que informa que em 2016 irá ocorrer no Brasil o primeiro encontro internacional de mães e familiares que lutam pela desmilitarização da América Latina.

Com a foto do filho em uma das mãos, Elvira Ferreira disse que a morte do rapaz repercutiu bastante na Região, principalmente entre os alunos, mas não foi suficiente para que a Justiça fosse estabelecida. “Eu busco avanços sobre o caso e nada. Meu filho foi perseguido e exterminado com oito tiros na porta de casa. Na Corregedoria, em São Paulo, não me dão mais atenção”.

Em 7 de abril último, foi realizada uma audiência pública com a participação do Ministério Público para debater o caso do filho de Elvira. As Mães de Maio conseguiram que o crime fosse definido como de tortura, mas os policiais sequer foram indiciados e o caso se arrasta na Justiça.

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Jurema Carvalho estava chorando muito. Segundo conta, o filho era motoboy. Apavorado diante de uma batida da Polícia, o rapaz foi cercado, levou pontapés e um tiro que atingiu a região do peito. “Eu tentei visitá-lo na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do hospital e não deixaram. Quando liberaram, meu filho já não tinha mais salvação. Morreu 48 horas depois que eu consegui visitá-lo, em 3 de agosto passado, de falência dos órgãos. Eu só quero justiça”.

Na Baixada morreram 74

Segundo o Movimento Mães de Maio, no ano de 2006, grupos de extermínio promoveram o assassinato de 562 pessoas: mais de 400 jovens negros, afro-indígena-descendentes e pobres incluindo Ana Paula, grávida de nove meses.

A maioria foi executada no intervalo de pouco mais de uma semana, configurando o episódio que ficou conhecido como “Crimes de Maio”.

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Entre as vítimas, Edson Rogério Silva dos Santos, filho de Débora, que estava entre os 74 que morreram somente na Baixada Santista.

Desde então, Débora e as Mães de Maio fortalecem os debates sobre desmilitarização da segurança pública e reparação para os familiares de vítimas de violência institucional. Sua força é reconhecida por movimentos de familiares em todo o País, inspirando ações de resistência e de denúncias de violações de direitos humanos, especialmente em regiões de favelas e periferias dos grandes centros urbanos brasileiros.

Movimento pede reabertura dos casos

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O Movimento Mães de Maio tem buscado dar visibilidade aos crimes, exigindo correta investigação e julgamento dos fatos. Em maio de 2010, foi apresentado às autoridades o pedido de incidência de deslocamento de competência para que os casos fossem reabertos e passassem a ser investigados pelo Governo Federal.

Neste mesmo ano, a partir da pressão do movimento, foi criada uma comissão especial junto ao Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH) para apurar o caso, sem resultados concretos.

Prêmios

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Em 2011, o Movimento Mães de Maio foi contemplado com o Prêmio Santo Dias de Direitos Humanos e, em 2013, além do movimento ter recebido a Medalha Chico Mendes de Resistência, Débora recebeu o Prêmio de Direitos Humanos 2013 (a mais alta condecoração do Governo brasileiro a pessoas e entidades que se destacam no enfrentamento às violações de Direitos Humanos no País) na categoria “Enfrentamento à Violência”.

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