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Por conta do aumento no número de cesáreas para a chegada dos bebês, muitas correntes se formaram para lutar contra a maré. Incluindo a Baixada Santista, grupos em todas as partes do País tentam informar e conscientizar futuras mães de que o parto natural é a melhor opção.
Conforme já publicado pelo Diário do Litoral, há cinco anos, o Brasil cruzou a linha dos 50% de partos por cesárea. E de lá para cá só tem aumentado, distanciando-se cada vez mais dos 15% recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Considerada a maior pesquisa sobre parto realizada no país, Nascer no Brasil, divulgada recentemente pelo MS e pela Fiocruz, entrevistou 23.894 mulheres atendidas em maternidades públicas, privadas ou conveniadas ao Sistema Único de Saúde (SUS), entre fevereiro de 2011 e outubro de 2012. Foram coletados dados em 266 hospitais de 191 municípios, incluindo todas as capitais e cidades do interior de todos os estados. Os resultados comprovam que não há recuo nas cesáreas.
Na contramão do que as pesquisas e os números revelam, mães buscam informações e caminhos para humanizar o parto e transformar a experiência menos traumática para o bebê. Em Santos, o grupo “Caminhando para o Parto Natural” tenta esclarecer ao máximo as dúvidas das mulheres que optaram não ter intervenções cirúrgicas durante o nascimento do filho.
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Há duas semanas, o DL ouviu profissionais do parto humanizado que fazem parte deste grupo e atuam na Baixada Santista para o Papo de Domingo. Hoje, a reportagem mostra as mães que passaram pela experiência do parto humanizado domiciliar.
Evelin Agria, mãe da Marina
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“Desde que fiquei grávida, tinha claro na minha mente que queria um parto normal. Isso era algo muito certo. Para mim, gestação era algo natural, fisiológico, e como tal, não havia a necessidade de intervenções médicas e/ou cirúrgicas. Mas nunca imaginei que seria tão difícil conseguir meu sonhado parto normal. Nunca imaginei o quão complicado é o sistema de saúde, que te leva a fazer coisas que você não quer, por conveniência de toda uma rede.
Ainda com 20 semanas, lendo muito sobre parto, decidi que não queria fazer parte desse sistema. E então eu e o marido decidimos: nossa filha nascerá em casa.
Era sábado de manhã quando as cólicas começaram a dar sinal, pareciam cólicas menstruais. A animação e o medo começaram a invadir. Mas foi o dia todo apenas com pequenas cólicas. As dores começaram a se intensificar mesmo durante a madrugada. Às nove da manhã do domingo já estavam bem mais intensas. Resolvi tomar um banho quente para aliviar. Quando saí do chuveiro, ainda enrolada na toalha, sentei na cama para conversar com o marido sobre as dores. Ao levantar, surpresa! A bolsa havia estourado! Entrei em contato com a doula, que pediu que eu descansasse e que meu marido fosse monitorando as contrações. Enquanto não ritmassem, nem estivessem com intervalo menor que 10 minutos, não estaria em trabalho de parto.
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As dores irradiaram para as costas e entraram num ritmo. Estávamos em trabalho de parto. Eufóricos, ligamos para a doula que veio para casa. Ao chegar, foi monitorando as contrações e me auxiliando a aliviar a dor, sem usar qualquer medicação: usamos água quente, bola de pilates, exercícios (caminhada, agachamento, “reboladas”), massagem, acupuntura. O espaço entre uma contração e outra foi diminuindo, diminuindo. Quando as contrações estavam de três em três minutos, a enfermeira e a obstetriz chegaram. Fomos ao exame de toque: cinco centímetros. Elas montaram uma banheira com água bem quentinha. Quando entrei na banheira, relaxei muito. Durante todo o tempo do trabalho de parto, além da equipe, tive meu marido ao meu lado. Acordei na banheira com uma contração muito forte. Quando ela passou, a enfermeira pediu que eu fosse para cama para verificar novamente a dilatação. Dilatação total. Mas a bebê ainda estava muito alta. A cada contração, eu me segurava no marido e agachava, ficava de cócoras. Contração, eu descia. Contração de novo, descia novamente. Voltamos para banheira novamente. Sentei num banquinho e, quando meu corpo pedia, eu juntava todas as minhas forças e empurrava o máximo que conseguia. Não sei quantas vezes foram isso, para mim pareceram apenas dez minutos – depois descobri que levou uma hora – quando comecei a sentir a cabeça. Pediram que eu ficasse de quatro. Fiquei e a senti saindo. Não sabia o que estava acontecendo. Era muita coisa junta e eu estava na verdadeira “partolândia”. Sai daquela posição, o cordão foi cortado, e ela veio para os meus braços. Marina, morena, linda, com aqueles olhos expressivos e aquela boca em formato de coração. Não consegui chorar, estava anestesiada demais de emoção. Marina chegou ao meu mundo em 23 de março de 2014, às 20 horas, dentro do nosso quarto, pesando 3,135 kg de muito amor e medindo 49 cm de felicidade”.
Bruna Leite, mãe de Rudá
“Escolhi o parto natural domiciliar porque tive uma experiência do parto normal hospitalar, há cinco anos, que não me agradou. No hospital acontecem procedimentos de rotina e intervenções desnecessárias que tiram o protagonismo da mulher, fora os procedimentos de rotina feitos com o bebê que são desnecessários e, ao meu ver, muito violentos para um bebê que acaba de nascer. Da minha primeira filha, eu já queria um parto natural, mas não tive apoio da família e do pai na época. Meu segundo filho é do meu segundo casamento e ele me apoiou desde sempre. Descobri as informações por um parto mais humano e saudável após o nascimento da minha primeira filha. Fiz todos os exames de sangue e ultrassom e também tive acompanhamento com parteiras que orientaram muito bem a questão de respiração e de posições que facilitaria o meu parto. A experiência foi pura poesia”.
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Dica
É possível assistir o parto de Bruna no Youtube: “Nascimento de Rudá”
Bruna Golegã Kaitzor, mãe de Pedro
“Eu conheci o termo “humanizado/natural” nos grupos pró- humanização no Facebook. Entrei em vários antes mesmo de engravidar. Acompanho muitos blogs também e neles que descobri que ter um parto normal era difícil, humanizado então, quase impossível e então optamos pelo domiciliar, com equipe particular, assim sabíamos que seria intervenção zero. Eu fiz pilates desde 16 semanas, fazia caminhadas também, isso fisicamente, mas o maior preparo foi psicológico mesmo. Devorei textos sobre fisiologia do parto, dores, a importância de ter uma doula, como se dá o processo do nascimento e assim fui me tranquilizando e entendendo o que aconteceria no meu corpo no momento do nascimento. A experiência foi maravilhosa, doeu mais do que eu esperava e também me transformou muito além das expectativas. Você trazer o seu filho ao mundo sem intervenções e protocolos é indescritível. Você se sente capaz de qualquer coisa depois disso”.
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Dica
É possível conferir todo o relato de parto de Bruna no blog http://loucaeu.wordpress.com