Veja vantagens e desvantagens do horário de verão, que pode voltar em 2023

Luiz Inácio Lula da Silva, presidente eleito, sequer iniciou o novo mandato e já tem ideias que prometem mudar a rotina de muitos brasileiros. Entre elas, o retorno do horário de verão. Nesta terça-feira (8), o petista lançou uma enquete em seu perfil no Twitter perguntando aos usuários da rede quem era a favor ou contra o retorno da medida e a maioria dos respondentes afirmou que esta seria uma boa ideia.

O horário de verão foi extinto no Brasil após decisão do presidente Jair Bolsonaro (PL) em 2019. Com a decisão, passou a ser desnecessário no País adiantar o relógio em uma hora entre os meses de outubro e fevereiro, uma medida que visava economia de energia em todo o território nacional.

História do horário de verão 

O horário foi usado pela primeira vez no Brasil em 1931, durante o governo de Getúlio Vargas. Sobre a novidade, um jornal da época, o Diário de Notícias publicou: "a prática dessa medida, já universal, traz grandes benefícios ao público, em consequência da natural economia de luz artificial".

Somente depois de 1985, após experienciar uma seca severa, inclusive com apagões, foi que o País passou a adotar o regime de horário especial todos os anos. Mas o horário de verão só foi regularizado em decreto em 2008, quando Lula (PT) era presidente. 

Bolsonaro, ao extinguir em 2019 o decreto de Lula disse: "O horário de pico hoje é às 15 horas e [o horário de verão] não economizava mais energia. Na saúde, mesmo sendo só uma hora, mexia com o relógio biológico das pessoas".

População está dividida

Uma pesquisa realizada em julho deste ano pelo PoderData, para o jornal Poder360, revelou que 50% dos brasileiros entrevistados não quer a volta do horário de verão. Outros 46% disseram que apoiam a ideia e 4% afirmaram não sabiam opinar.

O levantamento consultou pessoas nos 27 estados brasileiros, com 2,5 mil entrevistas, e margem de erro é de 2 pontos percentuais.

VANTAGENS

1. Economia de energia

Segundo informações da BBC, a economia de energia com o horário especial usado no verão chega a 5% da demanda no horário de pico. Isso acontece porque, com o adiantamento dos relógios em uma hora, as regiões ganham uma hora "extra" de luminosidade no fim da tarde, o que leva as pessoas a adiarem o acionamento de lâmpadas.

"Diante da crise hidrológica deste ano, o horário de verão faz todo sentido, porque ele evita um consumo a mais, do que numa situação em que não haja horário de verão." explicou o professor do Instituto de Economia da UFRJ e coordenador do Gesel (Grupo de Estudos do Setor Elétrico), Nivalde de Castro, à BBC News Brasil, em julho deste ano.

2. Mais vendas no comércio

Diversas associações e entidades que representam o comércio defendem a volta do horário de verão. Segundo essas organizações, ao terem uma hora a mais à luz do dia, as pessoas estão mais dispostas a sair e comprar. Além disso, muitos comerciantes argumentam que, com o impacto sofrido pela economia durante a pandemia de Covid-19, a medida seria muito bem-vinda neste momento de recuperação.

Entre as entidades que defendem o regime especial de horas estão a Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), e a CNTur (Confederação Nacional de Turismo), que criaram um movimento em junho pela volta do horário de verão. Em setembro, o varejo também aderiu à causa, com o apoio de entidades como CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas), Unecs (União Nacional de Entidades do Comércio e Serviços), Abras (Associação Brasileira de Supermercados) e Abrasce (Associação Brasileira de Shopping Centers).

3. Mais segurança nas ruas

Uma pesquisa realizada em 2016 pela UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) analisou dados de ocorrência de acidentes nas estradas entre 2007 e 2013. Os resultados mostraram que, nos Estados em que o horário de verão era adotado, houve queda de 10% dos acidentes em rodovias federais.

"A evidência empírica sugere que uma hora a mais de luminosidade reduz homicídios, roubos e acidentes de trânsito", afirma Claudio Frischtak, sócio da consultoria Inter.B e especialista em infraestrutura, que divulgou em 2019 um artigo sobre o assunto em coautoria com os pesquisadores Miguel Foguel e Renata Canini.

DESVANTAGENS

1. Dificuldade de adaptação

Brasileiros que não apoiam a ideia da volta do horário de verão frequentemente costumam argumentar que existe dificuldade na adaptação do corpo ao novo esquema. De fato, uma mudança neste sentido tende a mexer com relógio biológico.

Pesquisadores brasileiros descobriram em 2017 que menos da metade dos brasileiros consultados (45,43%) diziam não sentir nenhum desconforto com a mudança de horário. Cerca de 25% diziam continuar desconfortáveis durante todo o período de horário de verão. O estudo foi publicado na revista Annals of Human Biology, e foi feito com mais de 12 mil participantes.

Mudanças no ciclo agropecuário

Um segundo impacto negativo causado pelo horário de verão, segundo os contrários à medida, ocorre no setor agropecuário. 

O gado, por exemplo, é sensível à mudança de horário das fazendas, e isso pode inclusive afetar a produtividade leiteira.

"Os bovinos são animais de hábito, todos os dias eles se alimentam num mesmo horário, são animais de rotina. Se os horários mudam repentinamente, isso causa um estresse no animal. No caso da vaca de lactação, pode inclusive diminuir o leite", explica à "BBC", José Carlos Ribeiro, da Boi Saúde, consultoria especializada em saúde bovina.

Horários diferentes Brasil afora 

Ainda entre as desvantagens está a maior assincronia entre os horários pelo Brasil, país que já possui quatro fusos horários. 

No horário de verão, as regiões Norte e Nordeste não adotam a mudança, pois nesses locais a medida não faz diferença devido à proximidade delas com o Equador. 

Logo, quando o horário de verão está em vigor, Roraima, Rondônia e Amazonas passam a ter duas horas de diferença em relação à Brasília e o Acre, três horas. 

Isso impacta, por exemplo, na realização de eventos nacionais, como o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) que será realizado neste domingo (13). Nas edições anteriores à 2019, a prova teve de ser aplicada de forma assíncrona, em algumas regiões do País.