Lavanderia comunitária, em Santos, dá dignidade para pessoas em situação de rua

"Hoje minhas roupas não são mais descartáveis. Trabalho limpo, com a higiene corporal em dia e tenho muito mais autoestima. Isso faz toda a diferença no meu dia a dia". A declaração do reciclador Carlos Eduardo Lopes, de 40 anos, demonstra a importância da lavanderia comunitária que funciona no Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua, o Centro POP (Rua Amador Bueno, 446, Paquetá).

O equipamento, que voltou a funcionar com capacidade máxima neste mês, após um período de atendimento reduzido em razão da pandemia de covid-19, está com novo maquinário. O espaço agora atende até quatro usuários por dia, cerca de 80 por mês. As pessoas em situação de rua podem levar as peças de vestuário, roupas de cama e banho para lavar de segunda a sexta, das 8h às 12h e das 15h às 17h.

O processo de colocação da roupa na máquina é acompanhado por um operador, que orienta quanto ao funcionamento do equipamento. Como o processo de lavagem leva algumas horas, elas costumam buscá-las no período da tarde, quando as deixam de manhã, e no dia seguinte, se as peças são deixadas à tarde.

A lavanderia está situada no terceiro andar do prédio. São disponibilizados três tanques de roupa, duas máquinas de lavar, duas secadoras, sabão em pó e em pedra, além de amaciante. Quando os usuários escolhem buscar as roupas posteriormente, os operadores guardam as peças num armário com chave, para que os pertences de cada um não se misturem com os demais nem sejam perdidos ou furtados.

"A estrutura oferecida é maravilhosa. Além de lavar, ainda temos as máquinas de secar, que vejo como um diferencial. É muito boa essa sensação de, em apenas duas horas, sair com nossas roupas limpas e cheirosas", destaca o reciclador.

Os atendidos podem, ainda, passar pelo atendimento no Centro POP enquanto aguardam a lavagem das roupas. É possível tomar banho no local, se alimentar, ter as demandas atendidas pelos assistentes sociais e/ou participar das atividades em grupo, assistindo a filmes ou debatendo sobre assuntos diversos na companhia de assistente social e psicólogo.

“ABRAÇADO”

Carlos Eduardo é um dos usuários mais antigos do Centro POP. Ex-morador do Estuário, saiu de casa aos 19 anos após problemas familiares por conta do uso abusivo de drogas. Hoje, sente-se abraçado pelo serviço e, inclusive, elogia a estrutura oferecida. "Cheguei aqui logo após a inauguração, ainda em 2019. Tomo banho, café, recebo atendimento técnico e já fiz até documentação. O trato com a gente é excelente e muito respeitável. Digo para todos que é uma referência, como a própria sigla (POP) diz".

Atualmente, Carlos vive na Seacolhe-AIF (Seção de Acolhimento de Adultos, Idosos e Famílias em Situação de Rua), na Vila Nova, após encaminhamento pelo próprio Centro POP. Graças ao suporte recebido nos equipamentos públicos, agora ele consegue trabalhar para depósitos e ferros-velhos da Cidade, coletando metais, ferros e alumínios diariamente.

AUTOCUIDADO
Mais do que a lavagem de roupas, o espaço da lavanderia visa a valorização do ser humano, conforme explica a chefe do Centro POP, Margareth Ferreira Sales. “O que tratamos aqui não é só a questão de lavar as roupas. Já trabalhamos o autocuidado e a responsabilidade consigo mesmo e com o meio ambiente, de não usar as peças de vestuário como se fossem descartáveis. Quando o usuário cuida da roupa, ele acaba cuidando dele mesmo também”.