Justiça obriga SUS a operar idoso acamado

Depois de ter sua triste história contada no Diário do Litoral, o aposentado Horst Ulmer, de 73 anos, finalmente conseguiu operar o joelho direito e, agora, junto com a esposa, Olga Petty Ulmer, já se prepara para fazer o mesmo com o joelho esquerdo, renovando a esperança de, um dia, voltar a andar.

Até fevereiro passado, o casal Ulmer só conhecia uma palavra: sofrimento. Após ter sofrido, um ano antes, uma queda na escadaria de seu prédio, Horst, apesar de nunca ter cometido crime algum, vivia sob “prisão domiciliar”, depressivo e sem esperança, porque, mesmo ganhando na Justiça o direito de ser operado urgente, era obrigado a engrossar uma interminável fila de espera pela cirurgia.

Com fortes dores, Ulmer - que ainda possui problemas no coração e na próstata - dividia sua angústia com a esposa, de 71 anos, que se superava em dar assistência ao marido e visitas periódicas ao Setor de Ortopedia e Traumatologia da Santa Casa de Misericórdia de Santos e na Diretoria Regional de Saúde IV – DRS-IV (órgão do Estado) para fazer valer a decisão judicial.

Foram meses de luta para garantir o benefício que chegou parcialmente dias atrás, com a operação do joelho direito, depois que o drama do casal foi publicado no jornal. Antes, Horst tinha que voltar a cada seis meses para marcar nova consulta e era o 40º em uma lista para operação.

“Dizem que não receberam intimação alguma e que não existe ordem judicial para operar meu marido. Tenho que reunir forças para não perder as esperanças”, afirmava Olga, em fevereiro passado, quando a reportagem esteve na residência do casal.

Na ocasião, o advogado Daniel de Lima Antunes explicou que havia conseguido, em segunda instância, o direito de Horst Ulmer ser operado imediatamente. Porém, a DRS-IV vinha se negando cumprir ordem judicial.

Câmara

A situação desesperadora do casal Ulmer chegou à Câmara de Santos, por intermédio do vereador Antônio Carlos Banha Joaquim (PMDB), que vinha tentando mudar a realidade dos idosos e, no último dia 30, acompanhou a reportagem.

Na ocasião, procurada pela reportagem, a DRS-IV havia informado, por intermédio da Assessoria de Imprensa, que a consulta précirúrgica estava agendada para dia 21 de março, na Santa Casa de Santos, e a cirurgia realizada no início de abril, o que acabou acontecendo.

Esta semana, Horst e Olga Ulmer eram só alegria. “Estou aliviado. Acredito que logo estarei me locomovendo pelo bairro e andando no calçadão da praia. Enfim, voltarei a ter uma vida digna. Gostaria de agradecer os corpo clínico da Santa Casa e a todos que me ajudaram”, disse, sentado ao lado de seu cachorrinho da raça Basset, xodó do casal.

Olga estava feliz, mas ainda não satisfeita. “Precisamos operar o outro e, depois, entraremos em fase de recuperação. Minha luta ainda é muito grande e eu estou pronta para ela”, disse ao lado do marido.

O vereador Banha não escondia a satisfação. “Infelizmente, neste País, somos obrigados a apelar à Justiça e à Imprensa para resolver questões que deveriam ser facilmente equacionadas pelo poder público. Esse caso deve ser um exemplo para que outras pessoas busquem seus direitos”.

O vereador disse que agora é cobrar da Secretaria Municipal de Saúde a assistência para Horst dentro do Programa de Atendimento Domiciliar (PID), visto que o aposentado ainda não pode andar. “Nosso trabalho acaba a partir de momento que ele for novamente operado e conquiste o direito de ser assistido em casa, como todo cidadão que paga seus impostos”, finaliza.