A tendência de queda nos preços do leite iniciada na primavera deverá se manter / Nair Bueno / Diário do Litoral
Continua depois da publicidade
A Imprensa adora citar “os vilões da inflação”. O discurso é de fácil assimilação e ganha engajamento nas redes sociais. Mas, tanto a ciência da Estatística quanto a notícia têm sempre dois lados, mesmo na Era da Pós-Verdade em que vale mais o recorte do que a contextualização.
Assim, enquanto 2024 criou novos “vilões da inflação”, como a carne bovina, o café e as frutas, há também os “mocinhos contra a carestia”.
Continua depois da publicidade
E, no ano passado, itens obrigatórios na cesta básica pesaram menos no bolso dos brasileiros. Esse é o caso do arroz, cujas cotações caíram 19,58% em 12 meses, segundo a consultoria Safras & Mercado, uma das mais conceituadas do agro.
Só em dezembro, itens como o limão (-29,82%), a batata-inglesa (-18,69%) e o leite longa vida (-2,53%) tiveram baixas expressivas no levantamento de preços realizado mensalmente pelo IBGE, ajudando a compensar a alta de outros alimentos.
Continua depois da publicidade
Os dois primeiros estão em plena safra, o que derrubou as cotações no campo. E janeiro é sinônimo de abundância de abacaxis, carambolas, coco verde, figos, framboesa, fruta do conde, laranjas-pera, mamões, maracujás, melancias, nectarinas, pêssegos e uvas, o que deverá ajudar a segurar os preços na feira.
Na Ceagesp, a maior central atacadista de alimentos in natura da América do Sul, os produtos da estação chegam a custar até 30% menos no auge da safra que em outras épocas do ano. E, há pelo menos 30 dias, o melão amarelo tem surpreendido pelos preços muito abaixo do valor habitual no varejo devido à ótima safra nos principais estados produtores, o Ceará e o Rio Grande do Norte.
Até o Carnaval, a central atacadista também recebes altos volumes de abóboras, abobrinhas, beterrabas, pepinos, pimentões, quiabos e tomates, o que torna esses itens mais acessíveis ao consumidor.
Entre as verduras, a oferta fica mais restrita devido ao calor e às chuvas fortes nesta época do ano. Mas, o primeiro mês do ano é sinônimo de fartura nas alfaces, na couve, na salsa e na cebolinha.
Continua depois da publicidade
O leite também entrou no chamado período das vacas gordas, quando a volta das chuvas proporciona pastagens mais robustas, o que reduz o custo de produção para os pecuaristas e aumenta a produtividade dos animais.
Resultado: laticínios pressionam fazendeiros e sitiantes e os preços se mantém comportados até o final da chamada “época das águas”.
Assim, até meados do outono a tendência de queda nos preços do leite iniciada na primavera deverá se manter, com perspectivas de novas altas só a partir do início do inverno, quando os pastos ficam escassos devido à falta de chuvas no Interior do Brasil.
Continua depois da publicidade
Mas, o comportamento mais curioso dentre todos os alimentos em 2024 foi o do arroz. As inundações no Rio Grande do Sul, em abril/maio, pareciam ter criado o clima para uma escalada nos preços do grão.
E foi assim nas primeiras semanas após a catástrofe, afinal o Estado colhe 70% do arroz produzido no País. Falava-se até que poderia faltar arroz e os supermercados chegaram a racionar o grão para os consumidores.
Os preços dispararam, o Governo Federal zerou alíquotas de importação e chegou a promover, através da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), um leilão para importação de arroz.
Continua depois da publicidade
Aí, associações de produtores do Rio Grande “encontraram” milhares de toneladas de arroz estocado em armazéns e os preços se estabilizaram já no meio ano.
Depois, mesmo na entressafra, as cotações caíram, acumulando baixa em 12 meses na porteira da fazenda (saca de 50 quilos do arroz em casca), segundo a Consultoria Safras &Mercado.
E a colheita da nova safra já deve começar logo após o Carnaval, o que tende a manter os preços comportados ao longo de 2025. A estimativa da Conab é que o Brasil colha 11,6 milhões de toneladas, o suficiente para o abastecimento interno. E os países vizinhos do Mercosul também preveem safras abundantes neste ano.
Continua depois da publicidade
Todo esse cenário derrubou as cotações do arroz de qualidade mediana para até R$ 94,50 no interior gaúcho em dezembro. Há 12 meses, a saca do grão de melhor qualidade oscilava perto dos R$ 140,00.
No acumulado de 2024, a rubrica Alimentação e Bebidas registrou inflação de 7,69% no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial do País.
Contabilizados todos os nove grupos que compõem o IPCA, a inflação oficial medida pelo IBGE foi de 4,82% nos últimos 12 meses. Os dados foram revelados ontem (10). (
Continua depois da publicidade