A gestão municipal disse apoiar as ações de segurança pública / Divulgação
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Na véspera do feriado do Dia do Trabalho, a orla do centro de Itanhaém era só sossego. O pai que brincava com a filha no balanço na praia e os pescadores que aproveitavam a menor concorrência em dia de semana em nada pareciam formar o cenário de uma cidade cujo Índice de Exposição à Criminalidade Violenta (IECV) é o maior do Estado.
O pedreiro Ronaldo Lopes Soares, de 43 anos, empurrava o balanço da filha de 5 anos e equilibrava o sorvete de morango na outra mão. Não tinha o que reclamar sobre segurança. “Aqui, nunca vi nada disso (violência). Sempre vejo vigilância e me sinto seguro”, disse. Para logo depois ponderar: “Só nos bairros onde tem droga, você vê isso. Uma coisa leva à outra.”
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Em 2018, a cidade de 100 mil habitantes viu 25 pessoas serem assassinadas, quantidade que forma uma taxa que chega a ser quatro vezes superior à média do Estado, que no ano passado estava em 6,9 por 100 mil. Os 71 roubos gerais e os 11 roubos de veículos registrados por mês também pesaram na conta do índice local.
No início de abril, um assassinato chocou a cidade. O comerciante Amyr Assaid Cuellar teve a residência invadida, os pertences roubados e foi morto com um tiro na cabeça quando os três criminosos que participaram da ação deixavam o imóvel. Foi o primeiro latrocínio na cidade desde julho de 2017.
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A Secretaria da Segurança disse que o caso é investigado pela Delegacia de Investigações Gerais (DIG) da cidade e que "suspeitos relacionados ao crime foram presos e os agentes identificaram outro grupo, responsável por entrar na casa e disparar contra a vítima".
Presidente há quatro anos do Conselho Comunitário de Segurança (Conseg), o policial João Carlos Tobias diz que a rotina é digna de uma cidade de interior, marcada pela tranquilidade e classifica os índices como “traiçoeiros”. “O crime às vezes é cometido pelo criminoso que desce a serra no feriado e mira justamente o turista de outras cidades do Estado que dão bobeira na praia, com relojão”, conta.
O bairro-problema, diz ele, é o Guapurá, onde centenas de moradias populares foram construídas recentemente e supostamente onde estaria enraizada parte da criminalidade local. “Mas posso dizer que me sinto seguro aqui, muito seguro”, completa.
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Gestão municipal apoia ações de segurança pública
A prefeitura de Itanhaém disse questionar a metodologia do relatório por não considerar “o crescimento populacional sazonal no verão, época em que a cidade chega a quadruplicar o número de habitantes, e a dobrar nos períodos de feriado prolongado”.
A gestão municipal disse apoiar as ações de segurança pública. “Apesar de a segurança pública ser um dever do Estado, realiza um trabalho de complementação com investimentos na área, em diversas medidas preventivas de apoio, por meio do programa Cidade Segura. Em destaque, as 61 câmeras de monitoramento distribuídas em pontos de maior movimento, sendo 14 com tecnologia OCR (que realizam a leitura de placas de automotores e identificam veículos roubados), auxiliando nas ações do Centro de Operações e Inteligência (COI), da Secretaria de Trânsito e Segurança Municipal, que funcionam 24 horas.”
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A prefeitura destacou que agora a sua Guarda Civil Municipal trabalha armada. “Também receberam novos uniformes e viaturas, e terá ampliação do efetivo com a publicação de novo concurso público nas próximas semanas. Ao mesmo tempo, criou a Guarda Patrimonial e irá reforçar seu quadro com o chamamento de 170 novos servidores.”
Por fim, disse desenvolver outras ações de prevenção à violência com “a eliminação dos pontos escuros com a ampliação da rede de iluminação pública”. “Nos últimos anos, foram eliminados mais de 5 mil pontos escuros em bairros, que melhoram as condições de visualização e inibem a ação de marginais no período noturno.”
Sobre a tese da sazonalidade, o Instituto Sou da Paz esclareceu que “ há outros municípios litorâneos cujos IECV são bastante inferiores ao de Itanhaém”. “Vale apontar, ainda, que no ano passado fizemos uma análise dos BOs de estupro registrados em Itanhaém no 1º semestre de 2018 e 54% foram cometidos por conhecidos e familiares das vítimas - ou seja, o impacto do aumento da população flutuante nos índices de estupro é bastante questionável.”
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Apesar de picos registrados no 1º trimestre de 2017 e no último trimestre de 2018, os dados do Sou da Paz apontam que no 4º trimestre de 2017 e no 1º trimestre de 2018 não há a discrepância supostamente influenciada pela sazonalidade do período. A média do 3º trimestre de 2017, por exemplo, foi a terceira mais alta da série, mesmo compreendendo o período do inverno, portanto com menor população flutuante, acrescentou a organização.