Cotidiano

Histórias de Itanhaém: Caiçara relembra o modo de vida nos anos 1950

A afirmação é do engenheiro civil e caiçara Manoel Martins Poitena, de 79 anos, que relembra o modo de vida da população de Itanhaém, entre as décadas de 1950 e 1960

Luna Almeida

Publicado em 22/04/2025 às 10:20

Compartilhe:

Compartilhe no WhatsApp Compartilhe no Facebook Compartilhe no Twitter Compartilhe por E-mail

Manoel e sua irmã Marilene mostram o quadro com o seu pai Zeca Poitena e a rede de pesca / Nayara Martins/DL

Continua depois da publicidade

O engenheiro civil Manoel Martins Poitena, de 79 anos, morador em Itanhaém, relembra como era o modo de vida da população caiçara entre as décadas de 1950 e 60, época em que a maior parte dos moradores vivia do comércio e da pesca.

Faça parte do grupo do Diário no WhatsApp e Telegram.
Mantenha-se bem informado.

Apesar de ter nascido em Santos, o caiçara Mané Poitena, passou a infância e sua juventude na cidade de Itanhaém, onde mora até hoje.

Continua depois da publicidade

Leia Também

• Itanhaém 493 anos: Cidade encanta com sua história e patrimônio

• Itanhaém 493 anos: Cidade se destaca por suas belezas naturais e trilhas

• Prefeito de Itanhaém anuncia investimentos a serem feitos neste ano

Na opinião de Mané, os principais fatores para o desenvolvimento econômico de Itanhaém foram a Estrada de Ferro, a produção de bananas, a pesca, a igreja católica e a construção civil.

“Itanhaém era uma cidade muito pacata, as famílias tinham suas casas cercadas com madeira e nos quintais tinham galinhas e árvores frutíferas. As famílias eram bastante simples e se visitavam. As crianças brincavam nas ruas e praças até a noite”, conta.

Continua depois da publicidade

Os principais bairros eram a Vila, onde hoje é o centro; a Vila Operária, hoje, a Vila São Paulo, e o bairro do Poço, hoje, o Belas Artes. O bairro mais distante era o Suarão, mas todos levavam uma vida simples. As famílias de maior poder aquisitivo moravam na Vila.

“A única escola que existia era a Benedito Calixto que oferecia até o primário. Ao se formar, para cursar o ginásio ou colegial, o aluno tinha que ir estudar em Pedro de Toledo, onde havia o ginásio. Ou ainda em São Vicente ou Santos”, explica.

O transporte de pessoas também era feito de ônibus pela praia, com o trajeto Itanhaém-Santos (ida e volta). “Muitas vezes, a maré subia e avançava na areia e, assim, o ônibus não conseguia passar”.  

Continua depois da publicidade

A rodovia Padre Manoel da Nóbrega foi inaugurada apenas no ano de 1961. 

Relembre a história encantadora da cidade de Itanhaém.

Estrada de ferro

A partir de 1913, a empresa inglesa Southern São Paulo Railway iniciou o tráfego da linha Santos a Itanhaém, contribuindo para o desenvolvimento da região.  

Continua depois da publicidade

A partir de 1927, a linha de trem passou a ser administrada pela Estrada de Ferro Sorocabana que fazia o trajeto Santos-Juquiá. 

Havia ainda o ramal Mayrinq-Santos, trem que vinha de São Paulo e parava em Samaritá. O trem que vinha de Santos também passava em Samaritá e pegava os passageiros para Itanhaém.

A Estação Ferroviária era uma atração aos moradores da Cidade que iam até o local para ver o trem chegar. 

Continua depois da publicidade

“O trem trazia jornais de Santos, pois a Cidade não tinha bancas. Helvécio de Souza ia pegar os jornais e os vendia em um espaço na janela de sua casa, na rua Cunha Moreira, no centro”.     

Banana

Outro grande fator de desenvolvimento da região foi o cultivo e o comércio de banana, entre as décadas de 1940 e 1970.

“Itanhaém foi o maior produtor de banana da região. Havia sítios de bananicultores na região do Rio Acima e a banana era transportada por chatas (barcos), pelos rios Branco e Preto. As chatas paravam nos portos do Baixio e do Guaraú – onde tinha um ramal ferroviário para levar aos vagões do trem que ia para Santos. As bananas eram levadas ao Porto de Santos e exportadas para outros países”, destaca. 

Continua depois da publicidade

Além da venda das bananas, Itanhaém era bastante conhecida pela fábrica de doces de banana, fundada pela família de Luíza Forssell, na década de 30. O comércio existe até hoje ao lado da Estação Ferroviária.    

“Itanhaém recebia muitos empresários e veranistas que tinham casa na Cidade. Eles gostavam da tranquilidade, das ruas de terra, das praias preservadas e de passear pelos rios. Passavam até três meses na cidade em férias. A energia elétrica funcionava somente até às 22 horas”, recorda. 

Pesca

A maior parte das famílias da Cidade também vivia da pesca artesanal. 

Continua depois da publicidade

O pai de Mané, José Rodrigues Poitena, mais conhecido como Zeca Poitena, foi um dos pioneiros na pesca em Itanhaém. De família caiçara, ele aprendeu a pescar com o seu pai ainda na infância.

Ele tinha um barco chamado “Cambeva”, movido a remo. Ficava guardado na praia do centro em um barracão, junto com as redes de pesca.

Zeca Poitena e mais cinco pescadores saíam para pescar no barco a remo. O barco saía com uma corda e as redes e seguia após a arrebentação das ondas.  

Continua depois da publicidade

A pesca era de arrastão e, no final do dia, o pessoal puxava as cordas com as redes para ver o resultado da pescaria. 

“Muitos turistas gostavam de puxar as redes, na época havia peixes em abundância. Ao chegar na praia, os pescadores separavam os peixes, como robalo, pescada, camarão, caratinga e os vendiam na praia”, lembra. 

A pescaria também acontecia no rio Itanhaém, onde os pescadores usavam o cerco. As canoas e os remos eram fabricados por eles. Os peixes eram vendidos nos portos do Guaraú e Baixio.

Zeca Poitena foi morar em Santos e trabalhou no cais santista, entre os anos de 1955 e 1961, já que os filhos precisavam estudar. Ao voltar para Itanhaém, ele retornou à pesca, mas com a rede de espera, a tarrafa. 

Foi eleito vereador em duas ocasiões – entre 1952 a 1955 e no final da década de 1960. Na época vereador não recebia salário. Poitena casou-se duas vezes e teve seis filhos.

Festas religiosas

As festas religiosas ligadas à Igreja Católica eram tradicionais na Cidade, atraindo as famílias e romeiros de toda a região. Entre elas, a Festa do Divino, a da Padroeira Nossa Senhora da Conceição e o Reisado.

Marilene Martins Poitena, de 81 anos, irmã de Mané, lembra que cantava na procissão da Sexta-feira Santa, na década de 60, pelas ruas do centro histórico.    

O carnaval de rua era bastante animado com o “Banho à Fantasia da Tia Nena”, tradicional na Cidade. Os foliões se vestiam com fantasias de papel crepom e desfilavam no centro. Ao final, todos entravam no rio, na Boca da Barra. 

Construção civil

Mais uma área que contribuiu para o crescimento foi a construção civil, com a vinda de empresários e turistas, gerando empregos e renda à população. 

“Muitos empreiteiros vieram para Itanhaém para construir as casas de veranistas. No início eram poucos os loteamentos, mas depois, surgiu o bairro Cibratel, onde houve o “boom” da construção civil com a vinda dos veranistas”, lembra.

As eleições também eram movimentadas, mas a apuração dos votos acontecia em Santos, pois a Cidade ainda não era Comarca, na década de 50. 

“Nossa vida era muito mais tranquila e não havia violência. Nós tínhamos uma vida mais feliz”, conclui Mané.

Mais Sugestões

Conteúdos Recomendados

©2025 Diário do Litoral. Todos os Direitos Reservados.

Software