Divulgação/Prefeitura de Santos
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Há 150 anos, Santos fazia jus à sua tradição vanguardista ao inaugurar o serviço de bondes para transporte de mercadorias, com carros então puxados por burros. Foi o primeiro do País e pode ter sido também da América do Sul. A data precisa do feito não tem consenso entre historiadores, 8 ou 9 de outubro de 1871. A linha veio para ligar a Vila Mathias à barra do Boqueirão, passando pelo caminho hoje conhecido como Avenida Conselheiro Nébias.
Desde a inauguração até a última viagem, foram 100 anos, durante os quais os bondes construíram um capítulo especial na história da Cidade e marcaram época. Ainda hoje os charmosos veículos fazem parte da memória afetiva de muita gente, santistas ou não.
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“Quando criança, andava de bonde com meus pais. Pegávamos a Linha 01 para irmos ao Centro de São Vicente. Era muito maravilhoso”, recorda Regina Teixeira Dias, 60 anos, auxiliar administrativa. Ela conta que andou tanto no bonde aberto como no “Camarão”, fechado.
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Os carros fechados chegaram ao sistema em 1954 e passaram a ser fabricados pela antiga SMTC (Serviço Municipal de Transportes Coletivos), inspirados em modelos de origem europeia. Aos 81 anos, a mãe de Regina, dona Terezinha, ainda se lembra das viagens diárias para a escola. “Morava no Campo Grande e estudava no Colégio Cesário Bastos. Eu ia e voltava no bonde 17”.
LINHA NA ORLA
A primeira linha para transporte de passageiros entrou em operação em 1875. Ligava Santos a São Vicente e tinha itinerário pelo então chamado matadouro - foi por ela que estrearam os bondes elétricos, em 28 de abril de 1909. Uma segunda linha entre as duas cidades surgiria depois, com percurso pela praia.
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O transporte por bondes se desenvolveu cada vez mais, impulsionando também o crescimento econômico da Cidade. Ainda em 1898, o movimento do sistema foi de 7 milhões de passageiros, conforme registra Waldemar Corrêa Stiel, em seu livro História dos Transportes Coletivos em São Paulo.
A admiração pelos veículos se faz presente até por quem nem viajou neles enquanto circularam regularmente. “Minha avó falava muito sobre os bondes. Ela morava em Guarujá e contava que muitas vezes a família vinha para Santos apenas para passear de bonde”, revela o pesquisador Paulo Monteiro, hoje vice-presidente da Associação Brasileira de Preservação da Memória dos Transportes.
Os relatos da avó despertaram no menino interesse em conhecer mais sobre o modal e, principalmente, a vontade de viajar a bordo de um exemplar. O sonho virou realidade em 1984, exatamente no dia 19 de junho, quando uma linha turística passou a circular pela orla, no trecho entre o canal 5 e a Igreja do Embaré.
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Na inauguração, então com 13 anos, Paulo esteve lá e tem guardado o registro fotográfico do momento. A linha na orla circulou por quase dois anos, até fevereiro de 1987. O bonde é o mesmo que agora ornamenta a Praça das Bandeiras, no Gonzaga.
HISTÓRIA RESGATADA
O transporte por bondes em Santos teve sua última viagem em 28 de fevereiro de 1971, mas as histórias de quem com ele conviveu seguem guardadas nas lembranças. Muitos têm hoje, com o passeio na Linha Turística do Centro Histórico, criada em setembro do ano 2000, uma verdadeira fonte de inspiração para reviver momentos pessoais.
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“Na época que comecei andar, eram bondes abertos, e gostava muito. Viajar e ver pela janela a paisagem da Cidade. Era uma delícia. Depois vieram os fechados. A gente ia para a escola a pé e voltava de bonde”, recorda a aposentada Iraci da Conceição, 65 anos. “Até hoje eu gosto. Os bondinhos do Centro da Cidade são iguais aos que eu andava no passado”, diz ela.
Em seus 21 anos, a Linha Turística já levou mais de 1,8 milhão de passageiros no passeio por 40 pontos de interesse cultural e histórico na região central da Cidade e ganhou reconhecimento internacional. Atualmente, seis elétricos se revezam (dois por dia) nas viagens.
PATRIMÔNIO PRESERVADO
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Todos os bondes que fazem o passeio pelo Centro Histórico de Santos foram submetidos a uma completa restauração antes de iniciar a operação no circuito. Um trabalho realizado por equipe especializada da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), baseado em pesquisas históricas.
O grupo de profissionais, que reúne mecânicos, eletricistas, carpinteiros, funileiros, pintores e engenheiro, realiza a manutenção diária dos veículos antes que comecem a circular e também se encarrega da reforma pela qual passa cada carro, após longo período em circulação.
No mês passado, em comemoração ao Dia do Bonde, o elétrico 32, o mesmo que inaugurou o circuito pelo Centro Histórico, voltou à ativa com os seus 108 anos, após reforma geral. O próximo a retornar à linha turística será o 01, o chamado reboque pequeno, uma réplica do carro que inaugurou o serviço em 1871.
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A história dos bondes está também preservada com o Museu Internacional Vivo dos Bondes de Santos. Do acervo fazem parte 13 carros de várias nacionalidades. Do total, nove passaram pelo processo de restauração.
Os bondes do acervo de Santos:
Bonde Votorantim - Fabricado na década de 1920, nos Estados Unidos, operou no antigo Distrito de Votorantim, voltado ao transporte de operários. Atualmente está aguardando recursos para sua restauração.
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Bonde Porto 137 - Operava na cidade do Porto, tendo sido fabricado na década de 1920, nos Estados Unidos.
Bonde Gilda - Fabricado em 1938, percorreu as principais avenidas de Nova Iorque até o ano de 1946. Chegou aos trilhos de São Paulo no final dos anos 40. Ganhou o apelido de Gilda em alusão à atriz Rita Hayworth, diva do cinema americano que encantou o mundo com o filme Gilda.
Bonde do Porto 193 - Fabricado nos anos 20 nos Estados Unidos, possui 23 lugares, se encontra em fase final de restauração.
Bonde Café - O elétrico de 1958, doado pela Prefeitura de Turim (Itália) é uma autêntica cafeteria sobre trilhos.
Bonde do Porto 224 - Construído no final dos anos 1920 para Portugal, tinha sistema de janelas 'semi-convertibles', que melhorava a circulação de ar evitando doenças pulmonares da época.
Reboque 38 - Com capacidade para 42 passageiros, entrou em operação na linha em 2016.
Bonde 46 Praia - Fabricado pela SMTC nos anos 50. Está na Praça das Bandeiras, no Gonzaga.
Bonde Arte - Com decoração interna inspirada na arte concreta, que remete aos anos 1930 e 1950. Tem 36 lugares para eventos e ocasiões especiais.
Bonde Japão/Café - Construído em 1953, foi doado pela cidade de Nagasaki (Japão), onde circulou durante 60 anos. O veículo de prefixo 206 atualmente circula como bonde café.
Bonde fechado 40 ou Bonde Camarão - De mecânica original escocesa, de 1911. Foi projetado nas oficinas da SMTC.
Bonde aberto 32 - Construído em 1911, o bonde 32 é o mais antigo elétrico em circulação no País. De procedência escocesa, pode levar até 45 passageiros e inaugurou a Linha Turística em 2000. Uma das principais características dele é a presença de estribos duplos laterais, que facilitavam o acesso das mulheres ao transporte público da época.
Reboque pequeno 01 - Réplica do antigo bonde de tração animal, de 1871, adaptado para funcionar como reboque. Está em fase final de reforma/restauração para voltar a integrar a frota da linha turística em breve.
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