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Três meses após a Academia Brasileira de Ciências ter apresentado uma carta aos governos federal, de São Paulo, do Rio e de Minas Gerais com um diagnóstico e possíveis ações para enfrentar a crise hídrica, a situação piorou e os cientistas ainda não foram procurados por autoridades. O documento defende mudanças na gestão e aponta problemas como falta de transparência, além do risco de "agravamento da instabilidade social".
"Falta fazer o que (Winston) Churchill (1874-1965, ex-primeiro-ministro do Reino Unido) fez na Segunda Guerra Mundial, ou seja, informar brutalmente à população que a crise é muito séria', afirmou José Galizia Tundisi, presidente do Instituto Internacional de Ecologia, que coordena há 5 anos na Academia o grupo de estudos sobre recursos hídricos.
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Segundo ele, a chamada Carta de São Paulo, produzida por 16 cientistas, foi entregue em novembro. "Não recebemos nenhuma resposta. Acho que deveríamos ser ouvidos", disse.
A bióloga Sandra Azevedo, diretora do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), afirmou acreditar que há uma "barreira praticamente intransponível" que impede a transferência do conhecimento científico. "Ainda existe no País a questão do imediatismo, de fingir que nada está acontecendo. O que aconteceu nas eleições foi varrer para baixo do tapete uma crise que estava na cara", afirmou ela.
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Segundo a especialista, estava nítido desde janeiro do ano passado que faltaria água. "Já que a academia não está conseguindo ser ouvida da forma que gostaria pelos tomadores de decisão, vamos buscar um canal direto com a população."Todos os cenários indicam que não estamos saindo de uma crise, estamos cada vez mais entrando nela. O desperdício que temos hoje já seria suficiente para resolver problemas."
Paulo Canedo, chefe do Laboratório de Hidrologia da Coppe/UFRJ, sugere a criação de metas semestrais para redução das perdas de água tratada no sistema, que no Rio chegam a 32%. Os cientistas defenderam mudanças no modelo de cobrança, com sobretaxa para alto consumo e desconto para quem economizar água, medida já descartada pelo governo do Rio. "O cenário para 2015-2016 é catastrófico", disse. Tundisi alertou para o risco de "convulsão social" caso haja conexão entre problemas econômicos e climatológicos com falta de abastecimento de água e alimentos. "Já tivemos exemplos de cidades brasileiras em que a população perdeu a paciência e botou fogo na Câmara."
O precário tratamento de esgoto foi um dos temas do debate. Luiz Pinguelli, secretário-executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, disse que o racionamento de energia deveria ter sido adotado há três anos. No caso da água, os especialistas defendem mudança de hábitos e redução do consumo, mas evitam falar em rodízio. "Sou contra. Com a redução da pressão no sistema, ocorrem infiltrações, aumentando a contaminação. O rodízio também é injusto socialmente, porque quem está na ponta nunca vai ter água", disse Sandra.
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