Cotidiano
Recurso para treinamento de portuários é administrado pelo Comando da Marinha e faturou R$ 57 milhões em 2023 só com juros sobre empréstimos concedidos
o Fundo que deveria capacitar trabalhadores avulsos dos portos faturou R$ 56,8 milhões em 2023 / Divulgação/PMS
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O Fundo de Desenvolvimento do Ensino Profissional Marítimo fechou 2023 com um patrimônio líquido de R$ 660,9 milhões. Só em juros e encargos sobre empréstimos concedidos, o Fundo que deveria capacitar trabalhadores avulsos dos portos faturou R$ 56,8 milhões em 2023. No primeiro trimestre de 2024, essa rubrica rendeu mais R$ 17,7 milhões.
Toda essa verba é administrada pelo Comando da Marinha e os dados constam do Balanço Patrimonial elaborado pela Secretaria do Tesouro Nacional. Porém, só 4% do que o Fundo arrecada acaba sendo investido, efetivamente, na capacitação dos portuários avulsos.
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Desembargador do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região, Celso Ricardo Peel Furtado de Oliveira, apontou esse desvio de finalidade como um “problema a ser enfrentado”.
Durante audiência pública realizada em Brasília no dia 21 de maio, o desembargador defendeu “a utilização efetiva do Fundo de Desenvolvimento do Ensino Profissional Marítimo”.
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Relator da Comissão de Juristas para Revisão Legal da Exploração de Portos e Instalações Portuárias (Ceportos), Furtado de Oliveira sugeriu ainda a transferência da tarefa de capacitar os avulsos da Marinha para o Serviço Social do Transporte e o Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (SEST/SENAT).
Durante a audiência pública promovida pelo Ceportos na Câmara dos Deputados, o contra-Almirante Ferreira de Mello, superintendente do Ensino Profissional Marítimo da Marinha do Brasil, admitiu o problema.
Segundo o representante da Autoridade Marítima Brasileira, “as demandas de capacitação dos Órgãos Gestores de Mão de Obra, atualmente não são atendidas plenamente, visto que os recursos transferidos para o Fundo de Desenvolvimento do Ensino Profissional Marítimo e destinados aos cursos de portuários são insuficientes”.
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Já o presidente da patronal Federação Nacional dos Operadores Portuários (Fenop), Sérgio Aquino, acusou o Governo Federal, numa crítica direta aos esforços do ministro Fernando Haddad para conter o déficit nas contas públicas.
Durante a audiência sobre “gargalos e entraves burocráticos enfrentados pelo setor portuário brasileiro”, Aquino disse que “apenas 4% do valor arrecadado retorna para treinamento efetivo, visto que o Governo deixa de aplicar os recursos, fazendo contingenciamento para alcançar metas fiscais”.
Aquino também considerou que essa “baixa aplicação é grave problema do setor portuário” e também propôs “o direcionamento de recursos de treinamentos para o Sistema
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A Comissão de Juristas para Revisão Legal da Exploração de Portos e Instalações Portuárias foi formalmente criada por iniciativa do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lyra (PP/AL) em 22 de dezembro de 2023. O objetivo era propor medidas “para revisão e atualização do arcabouço legal que regula a exploração direta e indireta pela União de portos e instalações portuária brasileiras”.
O Ceportos foi formado por 16 membros, entre advogados e juristas, incluindo o presidente, ministro Douglas Alencar Rodrigues, e o relator, desembargador Celso Ricardo Peel Furtado de Oliveira. Ao longo de dez meses de trabalho, foram realizadas seis audiências públicas, em Santos, Itajaí, Rio de Janeiro, Recife, Vitória e Brasília.
Mas, em visita a Santos no último dia 8, o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, disse que o Governo Federal não foi convidado a participar das discussões. Costa Filho também citou que a Comissão não levou em consideração as contribuições dos trabalhadores portuários avulsos. Nas audiências públicas, foram ouvidos, majoritariamente, representantes do setor patronal.
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O anteprojeto com as conclusões do Ceportos foi formalmente a Arthur Lyra no início deste mês. Entre outras propostas, o documento sugere o fim de quatro categorias nos portos brasileiros: conferentes de carga e descarga, consertadores, trabalhadores de bloco e vigias portuários.
Outra sugestão que afeta os trabalhadores avulsos é o fim da exclusividade do Órgão Gestor de Mão de Obra (OGMO) na escala dos portuários e a possibilidade de terceirização dos serviços hoje executados por estivadores e demais categorias de avulsos. Essas mudanças enfrentam a resistência dos portuários, que já realizaram uma greve de advertência de 12 horas, além de manifestações em vários portos brasileiros durante o mês de outubro.
“Vemos essa iniciativa como uma oportunidade para promover um setor mais eficiente, justo e sustentável, permitindo-se a implementação de princípios e diretrizes que podem resultar em melhorias significativas nas operações portuárias e nas relações com as comunidades locais. Além disso, a revisão do arcabouço legal pode contribuir para a atração de investimentos e a geração de empregos no setor”, diz o relatório do Ceportos. (Nilson Regalado)
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Aprovado em dezembro do ano passado pelo vice-almirante Sergio Renato Berna Salgueirinho, o Programa do Ensino Profissional Marítimo para os Portuários (PREPOM) previa a realização de 121 cursos e 36 treinamentos “ostensivos” ao longo deste ano.
No documento assinado pelo vice-almirante, atual comandante do 4º Distrito Naval, está definido que “o Ensino Profissional Marítimo para Portuários tem, como premissa básica, a formação e qualificação profissional do trabalhador portuário avulso, habilitando-o para o exercício das atividades referentes à operação portuária”.
E esse conteúdo custeado pelo PREPOM seria oferecido por 24 Órgãos Gestores de Mão de Obra (OGMOs) em vários portos brasileiros. A programação previa a oferta de 1.852 vagas.
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Para os trabalhadores do cais santista, a projeção era de 25 cursos ao longo de 2024, a serem ministrados pelo OGMO Santos. No total, seriam 570 vagas disponíveis. E uma das exigências é que os interessados na capacitação tenham ao menos dez anos de registro ou cadastro atestado pelo OGMO.
Dentre os cursos projetados para Santos em 2024, 15 versam sobre segurança e saúde no trabalho portuário (CESSTP), três são dirigidos a interessados em operar tratores e pás carregadeiras (COTPC), três à operação de empilhadeiras de pequeno porte (COEPP) e outros três ao trabalho com escavadeira hidráulica (COEH).
Para os futuros operadores de empilhadeiras de pequeno porte, a carga horária é de 33 horas, mas os cursos ocorreram em julho/agosto. Já para os interessados em operar as escavadeiras hidráulicas, a carga é de 21 horas, com início previsto para outubro e novembro.
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O CEESSTP tem carga de 24 horas e uma turma iniciando no final deste mês. A última turma para o curso em trator e pá carregadeira começaria na última quarta-feira (13), com carga de 24 horas.
Espírito Santo (14), Rio Grande (9) e Paranaguá (9) vinham a seguir com a maior quantidade de cursos disponíveis. O outro porto paulista, em São Sebastião, contaria com apenas um curso e dez vagas.
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