Cotidiano
Ideia surgiu quase sem querer: inicialmente, era para atender a um tradicional clube da cidade, cliente da produtora em que trabalha desde 2011
Imagem aérea da Ponta da Praia na década de 60 colorizada digitalmente / Bruno Arena
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Uma imagem da Ponta da Praia, bairro de alto padrão da orla de Santos, no litoral paulista, tomada por verde, ruas de terra e com prédios ainda contados a dedo mudou a rotina do designer gráfico Bruno Arena, 30, durante a quarentena devido a pandemia de Covid-19.
Ele deu cores reais a uma foto histórica da década de 1960, ainda com o bairro em desenvolvimento, e encontrou uma espécie de desafogo mental em meio ao período de isolamento social.
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O conteúdo viralizou com mais de 1.600 compartilhamentos em uma rede social e gerou comentários nostálgicos, com pessoas identificando antigas casas em que moraram e contando suas histórias.
"Realmente me empolga o fato de as pessoas gostarem, mas não tenho uma ambição financeira com isso, pois é uma outra linha de trabalho. Chamo isso, aliás, de higiene mental. Tenho um filho de cinco meses que não viu nem o que é o mundo fora ainda", disse à reportagem.
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O mesmo trecho da orla, atualmente, é cercado por arranha-céus e passou por amplo processo de reformas e modernização, com investimentos de pouco mais de R$ 130 milhões custeados pela iniciativa privada por meio de compensação ao município exigida por lei.
A remodelação, chamada de "Nova Ponta da Praia", visou transformar o lugar em uma referência para o turismo na cidade e na região.
A ideia do designer surgiu quase sem querer, ele conta. Inicialmente, para atender a um tradicional clube da cidade, cliente da produtora em que trabalha desde 2011.
"Tínhamos elaborado uma campanha completa para novos sócios, mas veio a quarentena e todo o material produzido caiu. Estava procurando por fotos e encontrei uma da orla, que pegava um trecho do clube. Pensei: por que não colorir? Passei a usar o tempo livre para fazer isso", conta.
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A primeira foto em que trabalhou, de 1930, retrata uma visão quase limpa da orla da praia do bairro José Menino, também sem nenhum prédio ou grande construção.
O local hoje abriga realidade bem diferente, um parque e uma plataforma do emissário submarino, conhecido reduto de surfistas da cidade e praticantes de esportes, inaugurado em 1978.
Após a carga diária de trabalhos, Bruno dedica entre três a quatro horas a revitalizar fotos antigas. Desde que iniciou, já foram cerca de 15 trabalhos concluídos. O principal deles, da Ponta da Praia, precisou de quase 14 horas para ficar pronto.
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Para dar cores a imagens antigas ele conta que primeiro busca referências atuais do lugar. Se não tem, faz uma leitura das variações de preto e branco, baseadas em técnicas que aprendeu como ilustrador. Nas fotografias, cada elemento é colorido um a um e passa por variados processos.
"Essa imagem da Ponta da Praia, por exemplo tinha muitas vegetações, telhados, ruas de paralelepípedos e terra. Vamos agrupando tudo por elementos, é como um quebra-cabeças e um processo bem longo", resume.
Outros trabalhos produzidos pelo designer também têm chamado atenção. Em um deles, deu cores a uma foto da fachada do Aquário Municipal de Santos da década de 40, na época de sua inauguração. O equipamento, localizado em frente à praia, também no bairro da Ponta da Praia, é o aquário público mais antigo do país.
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Há fotos ainda mais antigas, como a de trabalhadores no porto, de 1889, em que precisou restaurar até mesmo desgastes do tempo como furos e borrões.
Desde que iniciou, ele já recebeu diversos pedidos particulares para dar cores a fotos antigas de famílias, mas ainda não pensa em atender as demandas.
"Não conseguiria ainda dar um preço a isso. O meu trabalho é mais para levar as pessoas a lembrarem de algo bom, de momentos bons em uma época tão difícil", conta.
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"A partir das fotos vêm muitas histórias. Já ouvi muitos relatos", completa.
A maior parte das fotos tratadas é do acervo do site Memória Santista, do jornalista e escritor Sergio Willians, presidente do Instituto Geográfico de Santos, cedidas para os trabalhos.
Até que acabe a quarentena ele diz que seguirá com o novo desafogo para a mente. O novo projeto de restauração, conta, ele guarda como surpresa.
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