Crianças são as que mais sofrem. Cartão alimentação da Prefeitura de Santos é de suma importância neste momento difícil / Nair Bueno/DL
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A pandemia que assola o País já há um ano, agora em seu ponto mais alto e letal, aliada à falta de um programa forte de assistência social, realizado por todas as esferas de governo - Federal, Estadual e Municipal - está castigando centenas de famílias que moram na periferia de Santos. A fome está batendo às portas. É preciso urgente uma ação local emergencial.
Bem longe do maior jardim de praia do Mundo, sem comida e sem trabalho, muitos santistas - boa parte crianças - estão passando por situações desumanas. Desde novembro, os centros de Referência de Assistência Social (CRAS), responsáveis por fornecer cestas básicas às famílias em vulnerabilidade social, não estão conseguindo atender a demanda. Agora, a situação piorou em função da alta procura.
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Conforme apurado pela Reportagem, lideranças dos bairros não estão conseguindo obter mais ajuda. As famílias mais vulneráveis são as moradoras de palafitas e Santos tem a maior concentração de moradores nessas condições da América Latina.
Por causa do coronavírus, trabalhadores informais não essenciais não podem sair de casa para buscar o pão. Muitos não aparecem em cadastros porque, há meses, a assistência social não consegue chegar a suas residências. Outros sequer sabem onde tirar documentos ou procurar ajuda.
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Leia Siqueira, da Central dos Movimentos Populares (CMP) da Vila Gilda, disse que um grupo de mulheres de diversas comunidades está se organizando para tentar sensibilizar a Prefeitura de Santos. "Só não fizemos manifestação pública por conta da pandemia. Precisamos de cestas básicas, cartões alimentação e uma renda mínima. As pessoas estão sem alternativa", revela.
SEM CARTÃO.
Tatiana de Oliveira, que mora no Caminho São Sebastião, tem quatro filhos e está sobrevivendo por conta do pouco que consegue de mantimentos junto a um supermercado próximo e de vizinhos. Sobre a cama com os filhos e a geladeira com pouca comida, diz: "eu pego legumes deixados pelo supermercado para ajudar as famílias e faço uma sopa para as crianças".
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Juliana da Silva Barbosa, que mora no Beco Sete, na Vila Telma, implora por ajuda. Ela tem três filhos que estão estudando à distância, mas a comida é escassa. "O cartão alimentação não vem sendo carregado. Meus filhos acordam e eu não tenho sequer um café com pão para dar a eles. Ganhei farinha e consegui fazer um bolo, que eles comeram com água".
Christiane Gonçalves dos Santos, moradora da Rua Fausto Lourenço Gomes, 54, no Jardim Rádio Clube, revela que tem oito filhos e paga aluguel. "Ainda estou recebendo uma cesta-básica de um projeto (Tia Egle), mas não tenho como pagar o aluguel. O cartão alimentação não está sendo carregado e o CRAS não está fornecendo alimentação. Tem muitas mães nessa situação. O pouco que vier, ajuda", afirma.
Lucilene Maria da Silva, moradora da Rua Brigadeiro Faria Lima, 1.143, também no Rádio Clube, com sete filhos, garante: "no CRAS, alegam que as cestas básicas não chegaram". Ela é acompanhada por Daiane Costa da Silva, do Caminho São Sebastião, Beco Um, com três filhos e desempregada. "Os cartões alimentação não estão sendo carregados e nem estamos recebendo as cestas-básicas".
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ESPECIAIS.
O presidente do Conselho Municipal de Pessoas com Deficiência (Condefi) de Santos, Francisco José Moreira da Silva Júnior, afirma que as pessoas com necessidades especiais também estão passando por situação semelhante. Ele já procurou a Secretaria de Ação Social e não obteve retorno algum. Então, resolveu encaminhar a situação à Defensoria Pública.
"Estive na Vila Pantanal, no Saboó, e verifiquei um autista que vive num buraco pois não tem nenhuma ajuda do poder público, inclusive do CRAS, porque as assistentes sociais não entram em nenhuma comunidade. O CRAS, desde novembro, não entrega cestas básicas e não faz novas inscrições. Sempre quando há uma grande procura, o serviço fecha às portas", afirma.
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PREFEITURA.
A Prefeitura garante que criou programa Bolsa-Alimentação e distribuiu cestas básicas: "Desde o início da pandemia até agora, foram mais de 74 mil para famílias com filhos matriculados na rede municipal de Ensino; 19.437 nos oito CRAS e auxílio-emergencial de duas parcelas de R$ 1 mil para 457 trabalhadores entre outros benefícios".
O Município oferta ainda dois núcleos Integrados de Assistência Social (NIAS) para garantir que os serviços de assistência social estejam implantados nos territórios de maior vulnerabilidade social e forneceu cestas básicas para as famílias que não têm inscrição no Cadastro Único do Governo Federal. "No mês de março estão sendo distribuídas 2.712 pelos CRAS e NIAS", garante em nota.
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Sobre o cartão Bolsa-Alimentação, informa que a ação foi realizada em caráter emergencial e cumprida na íntegra nos meses de maio a julho de 2020, conforme a legislação. Porém, foi prorrogado por mais um mês.
Em dezembro de 2020, a Prefeitura liberou ainda mais quatro parcelas para as famílias de 8,3 mil estudantes da rede pública.