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Em 31 de maio último, o Diário do Litoral, na matéria 'Em Cubatão, mãe suplica: “Eu preciso de ajuda”', publicava a triste história de Gabriel, terceiro dos quatro filhos de Janeide Santos da Conceição, portador de Síndrome de Down, autismo e cego em função de um acidente ocorrido no fatídico dia 7 de agosto do ano passado, em Santos.
Ontem, porém, passados 75 dias da reportagem ouvir de Janeide o drama de cuidar de um menino especial em condições insalubres e a importância da família sair da moradia improvisada no bairro da Água Fria, em Cubatão, uma nova página foi virada, trazendo muita alegria para os pais do menino.
É que Janeide e o marido, José Pierri, assinaram o contrato com a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), do Governo do Estado, permitindo a aquisição de uma nova moradia no Conjunto Habitacional do Bolsão Nove, no mesmo município, confirmando o que já havia sido anunciado pela gerente de Ações de Recuperação Urbana da CDHU, Walkyria Marques de Paula, numa segunda reportagem publicada em 10 de junho passado.
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Segundo Janeide, a mudança está marcada para o próximo dia 22 (quinta-feira). A família irá morar numa casa térrea, com quintal, três dormitórios, sala, cozinha, banheiro e área de serviço, minimizando o sofrimento do menino Gabriel, cuja vida virou um verdadeiro martírio em função de uma queda ao sair do ônibus após uma consulta no Hospital Guilherme Álvaro (Avenida Siqueira Campos), em Santos.
Cansada em função dos cuidados com o filho especial, Janeide não percebeu que o motorista parou um pouco à frente do ponto, onde havia uma guia rebaixada de garagem. Ao tentar desembarcar, Janeide não atentou à distância entre o último degrau do ônibus e o chão, caindo com Gabriel. Após ter sido atendida no Hospital Municipal de Cubatão, Janeide ligou para a empresa com o objetivo de buscar responsabilidades sobre o acidente, mas não obteve retorno.
Uma tomografia em Gabriel não teria detectado nada de anormal. Porém, 48 horas depois, Janeide percebeu que um dos olhos de Gabriel começou a inchar. O menino ficou estrábico (perdeu o paralelismo entre os olhos) e, em um novo exame, foi diagnosticado traumatismo craniano leve.
Em setembro de 2012, Gabriel perdeu totalmente a visão. “Descobri sozinha ao ver Gabriel enfiar a mão dentro de uma panela”, contava a mãe, demonstrando, por intermédio da expressão facial, o momento mais difícil de sua vida.
Após uma bateria de exames, os médicos nada detectaram em Gabriel, que já se recusava a andar, talvez por não conseguir enxergar. “Ele passou a colocar a mão na cabeça e fazer gestos como se estivesse sofrendo uma dor intensa. O médico dizia que não era nada, mas uma mãe conhece quando seu filho está sofrendo”, contou Janeide.
Depois de várias idas e vindas a convênios, hospitais, ambulatórios e outros equipamentos de saúde da região, sempre em busca de respostas para o problema de Gabriel, Janeide seguiu, com poucos recursos, para São Paulo (Capital), onde só encontrou alento na Universidade Paulista de Medicina.
Após três dias dentro do hospital-escola, Janeide ouviu que Gabriel corria risco de morte por ser diagnosticado com um tumor no cérebro, em que a perda da visão teria sido, até então, a última consequência. Na ocasião, os médicos disseram que era preciso uma operação urgente em Gabriel.
Em 5 de outubro daquele ano, Gabriel iniciou a primeira de uma série de punções lombares — coleta de excesso de líquido da medula — que estaria subindo para a cabeça do menino, causando pressão intracraniana e dores quase que insuportáveis, só amenizadas com a implantação de um dreno para impedir o fluxo do líquido para a cabeça, cirurgia já realizada. “A cegueira de meu filho poderia ser evitada, caso houvesse um diagnóstico logo após o acidente”, completava Janeide.
Em 30 de maio, Janeide, que vive com o marido (motorista de ônibus) e mais três filhos na Água Fria, estava aguardando a possibilidade de ser contemplada com uma casa dentro de um dos programas habitacionais oferecidos pelos governos estadual e federal.
E o sonho começou a ser concretizado ontem. “Estou muito feliz e não sei como agradecer todos que me estenderam a mão”, disse Janeide, por telefone, momentos antes de assinar o contrato.
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