Cotidiano
Luís Felipe Schmidt Soares de Oliveira saiu somente nesta sexta-feira (23) do hospital, após ser seguido e atropelado por uma viatura da polícia, na última terça-feira (20)
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Depois do conhecido caso envolvendo a morte do auxiliar de limpeza da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Ricardo Ferreira Gama, cujos policiais podem ser indiciados por prevaricação e abuso de autoridade, um novo episódio deve tirar o sono do Comando da Polícia Militar: a agressão, supostamente sem motivos, ao estudante Luís Felipe Schmidt Soares de Oliveira (18 anos), morador da Rua General Rondon, no bairro da Aparecida.
Luís Felipe saiu somente sexta-feira (23) do hospital, após ser seguido e atropelado por uma viatura da polícia, na última terça-feira (20), minutos depois dos policiais suspeitarem do rapaz que, por estar com fone de ouvido, não escutou a ordem para parar a bicicleta. Felipe está com escoriações profundas no abdômen, perna direita e nos dois cotovelos.
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Era por volta das 19 horas quando o rapaz estava andando de bicicleta pela Rua Prefeito Antenor Bue. Depois de cumprimentar uns amigos, Luís Felipe disse que, por estar ouvindo música, não ouviu os policiais darem ordem para que ele parasse. “Eu apenas senti o carro da polícia batendo na roda traseira da bicicleta. Para não machucar meu rosto e peito, eu projetei os braços e cai de bruços. A viatura subiu com uma das rodas nas minhas costas”, revela o rapaz na sala de sua casa.
Felipe chegou a gritar para que os policiais dessem ré no veículo, mas não foi ouvido. Os policiais ainda teriam segurado o carro sobre o corpo do rapaz e o agredido com palavras de baixo calão. “Eles disseram: e aí bandido, estava fugindo por quê?”, disse o rapaz, que ainda não foi socorrido pelos policias que vieram de auxílio, mas pelo Corpo de Bombeiros, ficando em observação por 48 horas no hospital.
Revolta
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A família está revoltada. A mãe de Luís Felipe, a advogada Patrícia Maria Soares de Oliveira, vai processar o Estado. Ela mostra o boletim de ocorrência (11618), registrado como acidente de trânsito, em que os policiais ainda teriam simulado uma versão de Luís Felipe. O inquérito será conduzido pelo 3º Distrito Policial.
“Vou processá-los (policiais) por tentativa de homicídio e omissão de socorro. Mesmo que meu filho fosse um bandido, não é assim que a polícia deve agir. Se estavam desconfiados, deveriam passar a bicicleta e abordar meu filho. Não passar por cima dele”, afirma Patrícia, que diz que o Estado será penalizado.
Polícia se defende
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Em nota oficial, a Assessoria de Imprensa da Polícia Militar informa que o rapaz teria desobedecido uma ordem legal de parada, começando a pedalar “de pé”, imprimindo mais velocidade na bicicleta, tentando fugir, sendo que se desequilibrou, atingindo a lateral da viatura e caiu ao chão. Os policiais teriam tentado desviar a viatura, que acabou causando escoriações nos membros inferiores e na região do abdômen.
O acionamento do socorro especializado fora feito imediatamente pelos policiais militares utilizando o rádio da viatura em comunicação direta com a Central de Operações PM, seguindo protocolo de atendimento de ocorrência de traumas em decorrência de acidentes de trânsito.
Toda a ocorrência foi devidamente apresentada no 3º Distrito Policial, resultando na apreensão da bicicleta para perícia, bem como foi elaborado o Boletim de Ocorrência de lesão Corporal Culposa pela autoridade policial competente.
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A Polícia explica que as abordagens a bicicletas foram intensificadas diante do fato de que, ultimamente, nos bairros da Aparecida, Embaré e Ponta da Praia, tem se verificado e registrado que infratores têm se utilizado de bicicletas para praticar roubos e fugir preferindo, entre suas vítimas, estudantes adolescentes, mulheres e idosos.
No mês de agosto, segundo a Polícia, já houve três prisões em flagrante de roubo em que os infratores subtraíram telefones celulares e utilizaram bicicletas para fugir, e em duas delas os infratores eram adolescentes.
O Comando do 6º Batalhão de Polícia Militar do Interior (BPMI) instaurou Inquérito Policial Militar a fim de garantir transparência e a lisura necessárias para apuração de todos os fatos, entretanto, os policiais militares foram remanejados para exercerem outro tipo de função dentro dos programas de policiamento existentes na Instituição.
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Quem matou Ricardo Gama?
Vale a pena lembrar que, no último dia 31, três policiais militares abordaram o auxiliar de limpeza da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Ricardo Ferreira Gama, de 30 anos, próximo ao campus Vila Mathias da instituição.
Dois dias depois de ser abordado próximo à Unifesp, Ricardo foi assassinado com oito tiros na Rua Silva Jardim. A abordagem, encerrada com o auxiliar de limpeza ferido no rosto, foi gravada pelos estudantes com celulares e gerou uma grande polêmica entre estudantes, dirigentes de ensino e comunidade em geral.
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Os três policiais serão ouvidos na próxima terça-feira (27), a partir das 16 horas, pelo delegado titular em exercício do 4º Distrito Policial (DP) de Santos, Rubens Nunes Paes, que já adiantou que não há nenhum indício de participação desses policiais no homicídio. Com as oitivas, o delegado pretende esclarecer supostas irregulares na abordagem de Ricardo.
Um dos questionamentos do delegado será relacionado ao motivo dos policiais terem colocado no talão de ocorrência da corporação que apresentaram o caso no 4º DP, após o auxiliar ser socorrido no Pronto-Socorro Central, sendo que a apresentação não ocorreu. Os depoimentos dos policiais serão confrontados com o de testemunhas da abordagem.
Na hipótese de comprovado que houve irregularidades, os policiais ficariam sujeitos a indiciamento por abuso de autoridade e prevaricação, que consiste em retardar, deixar de praticar ou praticar indevidamente ato de ofício. De acordo com o delegado, apesar das diversas diligências que já foram realizadas, por enquanto, ainda não há nenhum suspeito.
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