Cotidiano

Em busca de um sonho, músico vende CD a preço livre no semáforo

Renan Rocha sonha com uma carreira musical e já chegou a receber 15 centavos pelo seu álbum

Publicado em 25/07/2015 às 22:54

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Bastou um violão ocioso e vontade de aprender para o garoto de 9 anos se apaixonar pela música. Este é o início da história do cantor Renan Rocha, morador de Cubatão, que tenta apresentar suas composições em um semáforo, em Santos. Quem já passou pela Avenida Afonso Pena, próximo à Conselheiro Nébias, já deve ter escutado os acordes de uma música meio praiana, meio rock, meio reggae. Mas a verdade é que muitos caminhos já foram trilhados para que Renan apresentasse seu trabalho no sinal.

Quando criança, a paixão pela música foi incentivada por um de seus irmãos – o dono do violão ocioso -, o mesmo que o colocou na aula de bateria. Renan foi autodidata nas cordas, com ajuda das revistas de cifras que o irmão comprava. “Fui vivendo assim. Junto com meus irmãos tive bandas de pop rock. Mas conforme todos foram crescendo e criando responsabilidades, a música foi ficando para trás. Para mim, nunca ficou”, conta.

Mesmo querendo seguir a carreira musical, Renan foi para a faculdade. Enquanto a cabeça estudava as disciplinas de Publicidade, o coração continuava se entregando à música. Mesmo desistindo de levar uma carreira musical a sério naquela época, Renan continuou compondo. O tempo passou e o peso das responsabilidades começou a pesar, o que fez o já publicitário viajar para Belo Horizonte, Minas Gerais, para trabalhar na área de formação.

O irmão incentivador também estava lá e era ele, mais uma vez, que iria reacender em Renan a vontade de seguir uma carreira musical. “Um dia, ele me chamou para cantar na escola em que trabalhava. Fiz uns covers, mas ele insistiu para eu cantar uma música própria. No começo, eu neguei. Mas depois pensei: ‘já estou aqui, por que não?’ Enquanto eu cantava músicas da Legião Urbana ou Capital Inicial, eu não tive tanta resposta do público. Só que quando eu apresentei e toquei minha música, todos – cerca de mil pessoas – aplaudiram e fizeram a maior festa. Foi o que me motivou a seguir o meu sonho”, relembra Renan.

A partir deste dia, a Publicidade não ia conseguir segurar Renan por muito tempo. Primeiro, ele juntou dinheiro e gravou um EP – um disco com até 18 minutos. Depois, decidido a tentar uma carreira musical, Renan pediu as contas, juntou o dinheiro da rescisão com o que tinha guardado e voltou para São Paulo.

A missão era gravar um CD. No entanto, o músico tinha um obstáculo: a mãe. “Tive que enrolar. Falei que estava voltando porque consegui um emprego melhor em São Paulo, mas na verdade estava gravando o CD. É como estas coisas demoram, ela começou a me pressionar e perguntar quando ia começar a trabalhar. Eu dizia que eles iam chamar. No dia que o CD ficou pronto, disse para ela que a empresa tinha me chamado e fui para São Paulo buscar os CDs”, conta.

O músico já conseguiu receber metade do que investiu na gravação dos CDs (Foto: Matheus Tagé/DL)

Era o recomeço. Renan pagou R$ 4.500 em cinco mil cópias. E ele já sabia o que ia fazer com todas elas. “Quando cheguei em casa com as caixas, mostrei para a minha mãe e contei tudo para ela. Ela ficou preocupada como toda mãe, principalmente com a minha segurança, mas expliquei e disse que este era o meu sonho. No final, ela aceitou e, hoje, me apoia”.

Com os CDs em mãos, Renan colocou seu plano em prática. Fez um cartaz com canetão e cartolina, parou com seu violão no semáforo e começou a vender sua música pelo preço que o comprador quisesse pagar. O valor do CD já variou de 15 centavos a R$ 20. Para ele, o valor é o que menos importa: “Quero que as pessoas conheçam minha música”.

A experiência no semáforo, que já dura seis meses, fez Renan colecionar histórias – boas e ruins. Há pessoas que pagam pouco, mas, depois de ouvir, voltam e pagam mais pelo CD. Há pessoas que se emocionam de verdade com o que ele canta e compõe. E também há pessoas que não entendem o que ele faz. “A história que mais me emocionou foi a de uma menina que comprou meu CD, ouviu no carro, voltou ao local onde eu fico e disse que queria outro para presentear o namorado, que mora em Mato Grosso. Ela se emocionou com uma música que fala justamente sobre o amor à distância”, lembra.

E até das experiências negativas, Renan tira um aprendizado. “Teve um dia em quem estava oferecendo os CDs aos motoristas e uma menina passou de bicicleta gritando ‘vai trabalhar, vagabundo’. Aquilo doeu e, por segundos, pensei se estaria fazendo a coisa certa. Mas logo em seguida, os motoristas me apoiaram – compraram o meu CD e disseram para eu não ligar para o que ela tinha falado. Isso me fez perceber que realmente estou ali pela minha música”, conta.

E ele continua: Renan já se prepara para gravar um novo CD no final do ano. Com as vendas no semáforo, o músico já conseguiu recuperar metade do que ele investiu no CD, mas todo o dinheiro arrecadado vai ser usado na gravação do segundo álbum. “Eu vejo que as pessoas gostam da minha música. Não foi fácil começar. Sofri e ainda sofro muito preconceito. As pessoas fecham o vidro do carro, acham que eu sou mendigo. Mas eu não desisti e continuei pelas pessoas que compraram e gostaram da minha música. Hoje, tem gente que passa por lá e mostra o CD ou aumenta o som para eu ouvir que eles estão escutando a minha música. Isso não tem preço para mim”.

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