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São mais de seis meses sem olhar pela janela do quarto. Períodos de até dez dias sem tomar banho. Os pulsos ralados exercem a função dos pés, que há mais de um ano não respondem aos comandos motores do corpo.
O que começou com um formigamento nos dedos do pé direito, hoje deixa metade dos dois metros de altura de Fernando da Silva Batista, de 41 anos, sem mobilidade.
Servidor público afastado pelo INSS, Fernando trabalhava como pintor da Prefeitura de Santos.
De um dia para o outro, começou a sentir os dedos do pé direito formigarem. Em um intervalo de duas semanas, toda a perna direita já não respondia aos seus comandos.
Em questão de um mês e meio, a paralisação passou para a perna esquerda. Hoje, ele conta só com o movimento dos braços para as necessidades básicas do seu dia a dia.
Necessidades básicas que não incluem nem mais um banho por dia, porque para isso Fernando depende da visita de um amigo para ajuda-lo, já que mora só com sua mãe, de 78 anos, que não tem condições para o auxiliar.
Fernando já vive sem sentir as pernas há um ano e quatro meses. Ele percorreu pelo menos três hospitais de Santos, passou pela mão de diversos médicos, já realizou os mais diferentes exames, e o que mais o angustia é que médico nenhum descobre do que ele sofre.
“Fiquei 15 dias internado na Santa Casa de Santos, dois dias no (hospital) Guilherme Álvaro, já passei até pelo hospital da Zona Noroeste, mas ninguém descobre o que eu tenho”, conta o ex-pintor.
Sem sentir as pernas, Fernando mal sai de seu quarto, hoje em um apartamento no bairro Saboó, em Santos. Antes, ele morava em uma casa no Morro do São Bento. Por causa da dificuldade de acesso ao local, ele teve que se mudar para um prédio com elevador. “Mas eu só saio de casa quando eu tenho que fazer algum exame ou passar por algum médico. Senão, minha vida é dentro desse quarto”, diz ele.
O cômodo não conta com estrutura nenhuma para uma pessoa com deficiência física. A cama também não tem função. O colchão onde Fernando fica a maior parte do tempo está no chão, assim como o telefone e a televisão, para que ele possa ter fácil acesso aos aparelhos.
O colchão no chão é para facilitar a locomoção esporádica de Fernando pelo resto do apartamento. Quando ele precisa, literalmente se rasteja pelo assoalho do imóvel.
O ex-pintor tem uma cadeira de rodas. Emprestada. Ainda assim, quase não usa, porque um dos apoios para os pés está quebrado.
Atendimento domiciliar
A prefeitura de Santos oferece um programa de atendimento domiciliar e Fernando já utilizou o benefício.
De acordo com a Administração Municipal, a seção dispõe de 65 funcionários de atendimento direto aos pacientes, entre médicos, enfermeiros, auxiliares e técnicos de enfermagem, assistentes sociais, fisioterapeutas, nutricionistas e farmacêutico. Há cerca de 1 mil pacientes sendo acompanhados, dos quais cerca de 90% idosos.
Mas Fernando diz que o atendimento que recebeu em casa não é eficaz para seu problema. “Ninguém sabe o que eu tenho, médico nenhum descobre, então o pessoal que vem aqui da Prefeitura não pode me passar nenhum tipo de medicamento, para mim não adianta nada. Eu preciso que alguém descubra o que eu tenho”, apela.
Vereador se mobiliza e quer ajuda
O caso de Fernando chegou ao vereador santista Jorge Vieira da Silva Filho (PR), o Carabina. O parlamentar quer buscar ajuda.
Em entrevista ao Diário do Litoral, Carabina se diz impressionado com o caso do ex-pintor e pretende falar pessoalmente com o Secretário de Saúde de Santos, Marcos Estevão Calvo. “Esse rapaz precisa de um médico em casa. Vou sentar com o secretário de Saúde para conseguirmos um neurologista, ou qualquer outra especialidade, para acompanhar o problema dele de perto. Alguém precisa descobrir o que ele tem”, ressalta o parlamentar.
Carabina conta que acompanha a história de Fernando e sua saga por hospitais da Cidade em busca de um diagnóstico há alguns meses.
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