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Mudança hormonal, de pensamento, comportamento, e uma necessidade de auto-afirmação e aceitação pelo grupo. Para ser aceito, o adolescente usa artifícios. E, muitas vezes, o passe para pertencer ao grupo de “amigos” é fazer uso de bebida e drogas ilícitas.
Nessa fase onde ganham força conflitos pessoais, complexos, crises existenciais, o peso de uma família desestruturada, muitos adolescentes encontram na droga a fuga da realidade e um prazer momentâneo. Uma ilusão de diversão e felicidade.
Os usuários acreditam que são jovens demais para morrer e que nada vai acontecer com eles. Esse pensamento acaba por aumentar ainda mais o risco de um final trágico. Entorpecidos eles se afundam cada vez mais neste mar de riscos à saúde física, mental e espiritual até perceberem que perderam tudo o que tinham, inclusive sua dignidade.
Esse é o começo da história de vida de muitos dependentes químicos, que assim como rapidamente encontraram uma pseudo felicidade, rapidamente se viram num pesadelo aparentemente sem fim de perdas e danos. Mas, para acordar desse pesadelo e retomar uma vida saudável é fundamental ter convicção.
O Centro de Referência em Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod), vinculado à Secretaria de Estado da Saúde divulgou, na última semana, um levantamento preocupante. Uma pesquisa feita com 112 adolescentes atendidos pelo órgão no período de 2007 a 2009, com idades entre 12 e 18 anos, aponta que 67% apontaram a maconha como a droga mais consumida, 59% dos usuários têm entre 14 e 16 anos, e 2% experimentaram droga com apenas 7 anos de idade.
O estudo mostra ainda que o crack é a droga mais consumida por 11% dos entrevistados, assim como a cocaína é apontada por outros 11%. Em seguida vêm os inalantes com 4% da preferência, álcool e mesclado, 3%, e tabaco, 2%.
O presidente do Centro de Apoio e Recuperação de Dependentes de Drogas (CACTOS), Marcelo Souza do Nascimento, enumera três fatores que contribuem para o consumo de entorpecentes pelos jovens. São eles: o apelo publicitário de bebidas alcoólicas que usam personalidades como o jogador Ronaldo — um ídolo do futebol —, família desestruturada e o sentimento de aceitação na juventude.
Marcelo diz ainda que o consumo de bebida, cigarro e outras drogas acontece cada vez mais cedo, entre crianças de apenas 10 anos de idade. Marcelo afirma que partindo da dependência do álcool e do cigarro, é apenas um passo para a maconha, daí vem a migração para o crack ou cocaína, ecstasy, entre outras drogas, consumidas conforme o poder aquisitivo de cada dependente químico.
As classes sociais variam, mas o drama dos dependentes para sair do vício é o mesmo, comenta Nascimento. Segundo ele, como se já não bastasse os problemas para a saúde com risco até de um óbito com o consumo de apenas uma substância, é comum o usuário fazer o cruzamento de duas ou mais drogas, principalmente em baladas de casas noturnas.
“Para obter equilíbrio, o usuário consome cocaína, que é estimulante e dá um pico de tensão, com álcool, que é uma droga depressora do sistema nervoso central e estabiliza a tensão causada pela cocaína. Além disso, o usuário também mistura álcool com energético. As conseqüências podem ser drásticas para o organismo”, afirma Marcelo.
Nascimento lembrou ainda que a Baixada Santista já registrou mortes por desidratação decorrentes do consumo de pílulas de ecstasy. O presidente do CACTOS explica que aproximadamente 35% a 40% dos dependentes químicos que procuram tratamento, vão até o fim e se recuperam.
“Para iniciar o tratamento é preciso ó usuário aceite que é dependente químico e queira tratar a dependência. A pressão da família que leva o parente para o tratamento sem que ele queira pode ser desastrosa”. Porém, Marcelo enfatizou: “aqueles que querem tratamento se recuperam 100%”.
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