Cotidiano

Dono de academia critica postura do PSB e sobrevive com solidariedade de amigos

Após 11 meses, Benedito Juarez Câmara reabre academia e diz que partido falta com respeito às vítimas de Santos

Pedro Henrique Fonseca

Publicado em 09/08/2015 às 01:23

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A queda do avião que matou o candidato à presidência Eduardo Campos (PSB), em Santos, completa um ano nesta quinta-feira (13). Neste Papo de Domingo, Benedito Juarez Câmara, proprietário da academia Mahatma, recorda o dia 13 de agosto de 2014, relata que contou com a solidariedade de amigos para sobreviver e critica a postura do PSB em relação ao caso.

Câmara negou uma proposta de indenização feita pelos advogados do empresário pernambucano João Carlos Lyra, um dos proprietários da aeronave Cessna PR-AFA, que caiu no bairro do Boqueirão. O comerciante cobra, além da reforma do local, o lucro cessante e danos morais.

Após permanecer com a academia fechada por 11 meses, ele busca, aos poucos, se reerguer. Hoje, possui cerca de 100 alunos, número bem abaixo dos 750 que já possuiu o estabelecimento. Mas Juarez, como gosta de ser chamado, é taxativo, irá até o fim para reerguer a academia e conseguir o que acha justo pelos danos sofridos. Confira:

Diário do Litoral: Como foi aquele dia para o senhor?

Juarez - Eu começo aqui (na academia), às 7 horas. Dei duas aulas e a atividade terminou por volta das 9 horas. Fiquei conversando com um amigo lá nos fundos, onde caíram os escombros. Depois, como de costume, fui para casa tomar café com minha esposa para, mais tarde, voltar e dar outras aulas. Eu estava na cozinha e ouvi um barulho de uma turbina arregaçando, uma vibração e o impacto. Falei para minha mulher que tinha caído um jato por perto e ela pensou que eu estava louco. Pedi para ela ligar para a academia. Quando ela ligou, a menina não conseguia nem responder e já havia pessoas ligando para o Corpo de Bombeiros. Avisaram que estava pegando fogo nos fundos da academia Mahatma, na Rua Alexandre Herculano e que era um fogo escuro, muito preto e um cheiro forte. Saí correndo de casa que nem um doido e quando cheguei um funcionário meu já estava retirando as pessoas, eu dei mais uma olhada nos banheiros para ver se havia alguém. Só tinha dois garotos lá no fundo da academia, que eu não sei quem eram, e que tentavam apagar o fogo. Eu gritei para eles saírem porque vi, por cima da água da piscina, uma nata de querosene. Se pegasse fogo ali seria complicado porque tem prédios aos lados e todos os apartamentos têm botijões de gás. Uma reação em cadeia seria terrível. Quando todos saíram, eu tranquei a porta e esperei os Bombeiros chegarem.

DL - Por quanto tempo a academia permaneceu fechada?

Juarez - Permanecemos fechados durante 11 meses. Durante este tempo nós só sobrevivemos com ajuda do Colégio Stella Maris, que cedeu uma sala para nós e aturou a gente lá. Já outro amigo ajuda, até hoje, cedendo a piscina da academia Fênix duas vezes por semana. Nossa sobrevivência foi desta forma. Outras coisas, como a reforma, foram com ajuda de amigos e alguma coisa que a gente consegue para poder colocar no refazer da academia. Para conseguirmos reabrir a academia, todo o equipamento que está lá dentro, algo em torno de R$ 300 mil, foi cedido em consignação e só vamos pagar a partir do meio do ano que vem. Isso é bastante difícil de acontecer, mas temos amigos de longa data que ajudaram. A gente sobreviveu com solidariedade das pessoas.

DL - Como foi o tratamento da Prefeitura com relação à academia?

Juarez - A Prefeitura e os órgãos municipais deram uma assessoria espetacular. O prefeito esteve aqui no pósacidente. Foi na casa de cada família para conversar e ver as dificuldades de todos. Colocou o jurídico da Prefeitura à disposição dos moradores para ver o que precisaria ser feito. Deu assistência psicológica e médica. Toda a infraestrutura que uma prefeitura pode dar foi dada. O que a Defesa Civil fez no pós-acidente de limpar todos os apartamentos e casas, refazer muros para manter a privacidade dos vizinhos, também foi feito. Da comarca de Santos nós tivemos apoio total.

DL - E como foi essa relação com outras partes envolvidas como o PSB?

Juarez - Foi uma situação, é muito triste e muito desrespeitosa. O PSB foi de um caráter péssimo. Num primeiro momento foi dito que as vítimas seriam indenizadas. O Marcio França disse que ia fazer tudo direito. Pouco tempo depois, eles negaram. Pedi uma tutela antecipada minha e da minha família e eles recorreram. Agora, pediram para recorrer na questão das pessoas que possuem Justiça gratuita. Tudo isso numa tentativa de obstrução de Justiça. Um vice-governador que pretende ser governador e, na época, era tesoureiro do partido. Um tesoureiro de partido não sabe das contas do partido? Até hoje eles não prestaram contas no TSE. Não tem nada sobre o avião, ele não existe. É um avião fantasma. Não sabe de nada que aconteceu, quem é dono, nada. Nem ele, nem os Campos. O irmão do Eduardo (Antônio Campos) é um advogado que tem escritório, basicamente, nas principais capitais do Brasil. Você acha que um indivíduo desse não sabe como eram as contas? Como foi a locação do avião? Um avião de R$ 30 milhões. É um absurdo isso. É achar que o pessoal é trouxa. Hoje ficam com joguinhos. A tentativa do partido é botar a sujeira para debaixo do tapete, chamar o pessoal de trouxa, um desrespeito total. Isso causa revolta. Perda de dinheiro, valores ou de pessoas queridas por doença, você administra. O que não dá para administrar é desrespeito. Estão chamando os eleitores de palhaço e acham que vão aceitar uma balela dessas.

DL - O João Carlos Lyra fez propostas de indenização...

Juarez - Fez para mim também. Nem perguntei sobre porque eu perderia a paciência com o advogado contratado pelo Lyra. Quando começamos a conversar, ele veio com uma ideia de intimação. Disse-me que eles tinham um perito muito bom, que ele ia avaliar tudo. Eu falei para ele: Contrata uma construtora da confiança de vocês e manda refazer toda academia e põe ela do jeito que estava funcionando. A partir daí, a gente vai falar de lucro cessante porque a academia estava nova. Um ano e pouco antes, eu tinha a academia alugada, com todos os detalhes fotografados em três dimensões que foi assinado pelos locadores e isso está em contrato, registrado em cartório. Eu tinha um recebimento pelo total da academia, dos alunos e funcionários. Então, que atualizasse aqueles valores até o dia 13 de agosto e, dali para frente passaria a me pagar aquilo por mês até que eu chegasse a atingir novamente o número de alunos que eu tinha. Daria a liberdade total para, a partir do momento que eu começasse a funcionar, mês a mês, ele deixasse de pagar na proporção de alunos que entrassem até que eu atingisse o número de alunos que estavam antes do acidente. Ele não queria discutir isso. Então, falei para ele conversar com meus advogados.

DL - Sobre os R$ 800 mil que eles dizem ter pagado?

Juarez - Quem fez acordo, perdeu dinheiro e muito. Esses acordos foram feitos da seguinte forma: ‘você não reclama de mais nada e irá pagar multa se revelar quanto recebeu’. Você acha que alguém decente faz isso? Alguém bem intencionado? Eles querem despertar a curiosidade dos outros para aceitar qualquer coisa que pagarem. Se eles esperarem isso de mim, estão perdidos. Agora que eu estou me reerguendo eu irei até o fim.

DL - O que falta para a academia funcionar como antes do acidente?

Juarez - Preciso terminar a parte das piscinas porque eu perdi o encanamento da média e da grande. Estou refazendo o forro das piscinas. Vou levar dois meses ou mais para refazer isso. Falta essa parte e, após isso, os alunos voltarem. Estão aqui, por volta de 100 alunos e eram cerca de 750 alunos.

DL - Como está o processo judicial?

Juarez - Nós pedimos a tutela antecipada e a juíza de Santos deu. Determinou R$ 10 mil até as coisas se acomodarem, até o final do processo. O PSB recorreu e em 2ª instância eles ganharam. Estamos tocando a ação. Entramos agora uma ação por lucro cessante. E posteriormente iremos entrar com ação por perdas e danos.

DL - O senhor pensou em desistir e fechar a academia?

Juarez - Há 40 anos eu tenho academia e já passei por todos os dias de crise. Cheguei a alugar a academia para experimentar. Farei 70 anos e estava com o freio de mão um pouco puxado. Talvez alugasse o prédio, pensei nisso durante um período. Mas, ao longo do tempo, umas séries de coisas foram acontecendo. Isso aqui foi algo que fiz e criei. Entrar aqui e ver tudo deteriorado... Parece que você sucumbiu. Pensei em revigorar, fazer as coisas como eram ou até melhor. Quando eu vi a solidariedade das pessoas e o que falavam para mim todos os dias, isso voltou a dar ânimo para recomeçar e, agora, ela (academia) está ficando bonita, com equipamentos. Isso mostra o quanto você é querido e o quanto as pessoas acham que você faz algo de importante para a Cidade.

Confira, nesta quinta-feira (13), a cobertura do Diário do Lioral sobre os desdobramentos envolvendo o acidente que vitimou Eduardo Campos

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