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As declarações à imprensa do diretor presidente do Hospital Santo Amaro e assessor parlamentar do vereador Hugo Duppre (PSDB), Urbano Bahamonde Manso, dando conta que sua atuação no hospital é política; que são os diretores, e não ele, que tocam a unidade; que não recebe salário e que, por não ter vínculo empregatício, é dispensado de cumprir expediente, causou desconforto em Guarujá e em Santos.
Nessa sexta (5), algumas pessoas consultadas pelo DL se mostraram indignadas com a "simplicidade" com que o responsável pelo único e mais importante hospital da Pérola do Atlântico, reconhecido por suas quase permanentes crises econômicas e administrativas, além de servir de palco de casos polêmicos.
O mais recente foi o caso da jovem enfermeira Jaquelane Silva Oliveira, internada para uma cirurgia de artroscopia de joelho — corrigir alguma alteração dentro da articulação — e acabou na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) com uma embolia pulmonar — obstrução das artérias dos pulmões por coágulos e problemas cardíacos (coração).
Outro caso polêmico, também relacionado ao joelho, foi o da operação da paciente Tatiane Andrade da Silva, de 24 anos. A jovem deu entrada no centro cirúrgico para colocar um pino no joelho direito, porém a operação foi realizada no joelho esquerdo. O caso foi parar na Delegacia Seccional do Município e também será submetido ao Conselho de Ética Médica do hospital.
"Na condição de advogado, de coordenador da Comissão de Saúde Pública da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)/SP de Guarujá, mas, principalmente, na condição de cidadão guarujaense, vejo como ato de deboche o fato de o presidente do Hospital Santo Amaro, ser comissionado no gabinete de um vereador em Santos", afirmou Airton Sinto.
O advogado afirma que "a coisa fede mais quando o presidente-assessor alega que o acúmulo das funções não compromete suas atividades no sofrido hospital, sob o argumento de que sua atuação é política. Talvez seja por este motivo — política ao invés de Gestão eficiente — que a saúde pública no Guarujá é motivo de tantas ações judiciais, erros médicos, mortes e desespero da população", finaliza.
"Sem entrar no mérito da ilegalidade ou não de o presidente ocupar cargo de assessoria de um vereador de Santos, é importante ressaltar que para ser presidente do único hospital da Cidade é preciso compromisso com a população, pacientes, funcionários e corpo clínico do HSA. Todos consumidores finais dos serviços", afirma o advogado e presidente da Comissão de Direito do Consumidor da OAB, Welinton Andrade Silva.
"A dupla função ocupada pelo presidente, servindo ao Hospital e ao vereador, nos parece conflitiva, imoral, e não condizente com a grandeza da importante função que já foi do saudoso Cônego Domenico Rangoni. Renunciar à presidência do HSA é o mínimo que a sociedade guarujaense espera do senhor Urbano. Afinal, a instituição precisa de um gestor com dedicação plena, que melhore o atendimento aos usuários do hospital", completa Andrade.
O professor Valter Batista de Souza afirma que é "inadmissível que o único hospital geral de nossa Cidade seja administrado de forma amadora. O Santo Amaro é a única opção de atendimento médico para milhares de pessoas. Ter um gestor que não assume suas responsabilidades ou que se divida nesta função, é um desrespeito com a comunidade"
Ele completa: "se precisa trabalhar, largue imediatamente o cargo no hospital, no qual alega não ser remunerado. Se ele é apenas uma peça de um jogo político, não fará falta por aqui, dedique-se a Santos e ao vereador de lá! A saúde de Guarujá está sofrendo e precisa de toda dedicação".
Presidente – assessor
Ontem, o presidente-assessor disse à Reportagem que, na verdade, utilizou a expressão "política" para justificar sua ascenção à presidência da instituição, que ocorre mediante pleito entre os associados, e não como uma contratação profissional. "Estão previstas, no estatuto da entidade, funções de representação da entidade perante órgãos públicos, em juízo ou fora dele, convocar assembleias e assinar documentos", confessando que não existe a função política no mesmo estatuto.
Urbano Manso garante que não há favorecimento algum de correligionários de vereadores, secretários, empresários e outros representantes da sociedade no hospital e que participa de reuniões diárias com os diretores executivos e gestores da unidade — profissionais remunerados. "A Diretoria Executiva tem por obrigação dedicar-se integralmente às atividades hospitalares ofertadas 24 horas por dia à população", concluiu.
Prefeitura
A Prefeitura de Guarujá informa que a relação com o Hospital Santo Amaro (HSA) é de contratualização de alguns serviços e o contrato é seguido rigorosamente na íntegra, não havendo dispositivo solicitando exclusividade de funcionários e ou voluntários. Todos os repasses feitos ao HSA pelos governos (estadual e federal) e pelo Município atingem o montante de R$ 2,7 milhões.
Importante ressaltar que o Hospital Santo Amaro é uma entidade filantrópica e o presidente da mantenedora atua voluntariamente, assim como não há obrigatoriedade de cumprir horário de expediente comercial, diferentemente dos funcionários e diretores da instituição.
Denúncia
O caso foi denunciado anonimamente e, na última quinta-feira (4), publicado com exclusividade pelo DL. Advogado por formação, Manso teve sua nomeação publicada no Diário Oficial de Santos no último dia 27. A Reportagem ligou para os dois locais que Manso “bate cartão”. No HSA, ele trabalha segunda, quarta e sexta-feira somente no período da tarde e, terças e quintas-feiras, período integral.
Apesar de ter que trabalhar oito horas na Câmara de Santos, mesmo dando expediente de segunda à sexta-feira no Hospital Santo Amaro (HSA), em Guarujá, e não ter sido o nome reconhecido por um colega de gabinete, o vereador Hugo Duppre (muito criticado na Internet) tentou justificar ontem a contratação do diretor presidente da unidade hospitalar alertando que o assessor trabalha na parte da manhã, em projetos na área da saúde e meio ambiente.
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