Cotidiano
O significado histórico da cena, bem como seu impacto político, foram no entanto contidos por um cerimonial rigoroso, que não abriu espaço para discursos e manifestações improvisadas
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Com salva de 21 tiros de canhão, na presença da presidente Dilma Rousseff e de três ex-presidentes - José Sarney, Fernando Collor e Luiz Inácio Lula da Silva - e com os comandantes militares batendo continência, os restos mortais do ex-presidente João Goulart tocaram nesta quinta-feira, 14, o solo da capital federal, 37 anos depois de morto e quase 50 depois de deposto, em 1964. O significado histórico da cena, bem como seu impacto político, foram no entanto contidos por um cerimonial rigoroso, que não abriu espaço para discursos e manifestações improvisadas.
Depois de uma exumação que consumiu 18 horas, em São Borja, terra natal de Jango, como era conhecido, o corpo do ex-presidente seguiu em avião militar da FAB nesta quinta, cedo, rumo à Base Aérea de Brasília. Ficará na capital federal até 6 de dezembro - data de sua morte, em 1976, na Argentina -, quando então voltará a São Borja para ser reenterrado, daí com as honras devidas a chefe de Estado. A análise vai para apurar se ele morreu de causas naturais ou vítima de envenenamento.
Dentro do Hércules da FAB, peritos, equipes de apoio e o prefeito de São Borja, Farelo de Almeida, acompanharam o corpo. O aguardavam na base a presidente Dilma ao lado de boa parte de seu ministério, membros da Comissão Nacional da Verdade, incluindo o atual presidente, o jurista José Carlos Dias, e uma centena de ocupantes de cargos de destaque, entre eles, o presidente do Senado, Renan Calheiros, e o governador de Brasília, Agnelo Queiroz.
O caixão original chegou dentro de uma urna de madeira de 140 quilos e foi depositado no hangar principal da base, para uma celebração fúnebre oficial. Dilma entrou no hangar acompanhando a viúva de Jango, Maria Thereza Goulart, que sentou-se entre a presidente e Lula, tendo Sarney e Collor na mesma fileira. O único presidente da redemocratização a não comparecer à homenagem foi Fernando Henrique Cardoso, que não foi por razões de saúde.
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O gesto mais aguardado pelos presentes aconteceu: comandantes militares de hoje batendo continência ao chefe da Nação que foi deposto por seus antecessores nas forças armadas, em 1964. Emocionada, Dilma, por sua vez ex-perseguida pelo regime militar, também cumpriu o protocolo. Junto com a viúva de Jango, depositou uma coroa de flores sobre o caixão. E foi o único gesto da presidente na solenidade.
Mais cedo, em sua conta pessoal no microblog Twitter, Dilma escreveu que a recepção dos restos mortais do ex-presidente é um "gesto histórico" e destacou que Jango foi o "único presidente a morrer no exílio".
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Após a cerimônia, os restos mortais de Jango seguiram em van da Polícia Federal para o Instituto Nacional de Criminalística, onde continuará o processo de análise.
A ministra Maria do Rosário, da Secretaria de Direitos Humanos, agradeceu o esforço realizado na véspera pela equipe internacional de peritos e reiterou que conta com a determinação de Dilma para a elucidação da causa de morte de Jango.
Mais uma vez questionada sobre os custos da exumação, ela respondeu: "Vamos declarar todos eles. E serão menores do que os da ditadura, que custou muitas vidas".
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