Cotidiano

Dia de caos para o bairro do Boqueirão

Bola de fogo, chuva de vidros, janelas quebradas, desespero. Moradores e vizinhos ao local do acidente só buscavam respostas e amparo

Publicado em 14/08/2014 às 11:32

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Antes mesmo de saberem que a tragédia de ontem vitimava o candidato à Presidência Eduardo Campos, os moradores da Rua Vahia de Abreu, no Boqueirão, em Santos, só queriam respostas sobre o que havia realmente acontecido. Com informações desencontradas, a população tentava se proteger e ajudar como podiam.

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A Reportagem do Diário do Litoral também chegou ao epicentro da confusão que se instalou no bairro, minutos depois do horário exato do acidente com poucas informações confirmadas. No entanto, já havia a especulação de que o ex-governador de Pernambuco seria uma das vítimas.

Na rua, o desespero e o espanto estavam estampados nos rostos dos moradores. “Eu preciso ir até lá, minhas filhas estão dentro do prédio”, gritava uma mãe desesperada atrás de notícias  com os policiais que faziam o bloqueio do local do acidente. Os próprios moradores tentavam se amparar. “Não passem o bloqueio. Há risco de explosão”, avisavam.

Próximo ao local do acidente, funcionários de uma escola tentavam saber o que tinha acontecido. “Eu estava na cozinha da escola. Foi tudo muito rápido. Ouvi um estrondo muito forte e vi uma bola de fogo. Só consegui pensar nas crianças”, explicou a cozinheira da escola.

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 >BLOQUEIO - Polícia manteve as ruas bloqueadas para facilitar trabalho de socorristas e bombeiros (Foto: Matheus Tagé/DL)

Já a subgerente de vendas Karolina Potomatti previu em sonho a tragédia que aconteceria no Boqueirão na manhã de ontem. “Sonhei, há duas semanas, que isso aconteceria. Acho que pelo medo, pois todo dia, por conta dos vários helipontos que têm nos arredores, helicópteros passam muito próximos dos prédios. Por volta das 10 horas, senti minha casa tremer, o avião passou muito próximo do meu telhado. Logo depois ouvi a explosão”, conta.

Muitos curiosos logo lotaram as ruas ao redor do local. Mas o bloqueio da Polícia Militar foi intenso durante todo o dia. Os moradores das residências atingidas precisavam implorar para passar por eles. Todos buscando informações de parentes, vizinhos e de seus pertences.

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Acompanhando toda a movimentação das autoridades estava a autônoma Miriam Martinez, uma das moradoras dos edifícios atingidos. “Ouvi o estrondo, vi o fogo e sai correndo. Só consegui pensar nisso. Estava em casa com minha irmã e dois cachorros, que desapareceram na confusão. Sei que a minha cozinha está pegando fogo, meu irmão entrou no apartamento. Moro nesta rua (Vahia de Abreu) há oito anos, nunca pensei viver algo assim”, contou a idosa, que tremia de nervoso.

Quem estava ao redor ouviu o barulho e correu para saber o que tinha acontecido. “Estava no escritório (na Washington Luiz) quando ouvi o barulho. Quando cheguei ao local, as pessoas estavam saindo de casa de camisola. A impressão que dava era que um botijão tinha explodido”, explicou o jornalista Marcelo Bragança.

Já o advogado José Carlos Fernandes estava na academia – um dos locais atingidos - no momento da queda do avião. Ele conta que não havia muitas pessoas no local e que a aeronave atingiu a parte dos fundos do estabelecimento, onde ficam as piscinas. “Ouvimos um barulho e pensamos que fosse a explosão de gás. Saímos apressadamente sem ferimentos, mas estou preocupado com um professor e um aluno que estavam na piscina naquele momento”, disse.

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Ele conta também que uma professora teve o rosto ferido por estilhaços. “Ela estava com uma criança e a mãe perto da piscina”, disse. O impacto da queda danificou os vidros da academia e de imóveis próximos.

A cozinheira Roseli Andrade de Lima, moradora de um dos edifícios atingidos, fala em chuva de destroços. “Vi uma bola de fogo e senti um cheiro forte de querosene. Uma chuva de vidros, destroços caindo. No começo achei que era uma explosão de gás. O avião caiu no quintal. Era uma chuva de vidros quando olhei pela janela”, conta.

Interdição

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A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) mobilizou uma equipe de 30 componentes, entre operadores e chefias, nas ações no Boqueirão por conta da queda da aeronave. Utilizando 12 veículos (viaturas e motos), os agentes fizeram interdições, bloqueios e monitoramento da fluidez do trânsito na área, além do apoio logístico para os serviços de socorros das equipes dos Bombeiros, Defesa Civil e polícias Federal e Militar.

A ocorrência na Rua Vahia de Abreu com Alexandre Herculano resultou na interdição temporária, pela CET, do Washington Luís (Canal 3, sentido Praia/Centro) com a Rua Goiás, sendo liberado após as 12 horas. As equipes da CET também fizeram monitoramento na Avernida Francisco Glicério nas esquinas com a Vahia de Abreu, Washington Luiz e Conselheiro Nébias.

As interdições nas ruas Vahia de Abreu com Francisco Glicério e Alexandre Herculano, entre o Canal 3 e a Rua Armando Salles de Oliveira, continuarão hoje. A CET recomenda aos motoristas que evitem transitar pela área e vias próximas.

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“Pensei que fosse um tufão”

Um dos repórteres do Diário do Litoral vivenciou bem de perto o primeiro desastre aéreo deste gênero da Região. O estudante de Jornalismo Rafael Ramos, de 22 anos, relata o que viveu na manhã desta quarta-feira histórica: “por volta das 9h40, estava na sala da minha casa, na Rua Alvorada, travessa da Vahia de Abreu, quando senti um vento muito forte seguido de um impacto que se propagou no ar quebrando todas as janelas da sala. Por sorte, a cortina segurou a chuva de vidro que entrou na sala e deixou leves ferimentos na minha vó (Maria José Golegã Ramos, de 80 anos) que estava sentada ao lado da janela. A princípio, pensei que fosse algum fenômeno da natureza, tufão, algo do tipo. Após recolher os vidros do jardim fui até o quintal procurar mais algum dano, foi quando achei algo que pareceria parte de uma turbina de avião e mais alguns pedaços de metal extremamente quentes. Ao sair na rua me deparei com viaturas do Corpo de Bombeiros, ambulâncias e as informações de que uma aeronave havia caído no local”.

 

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