Cotidiano

Depoimento cita propina da Odebrecht

As declarações reforçaram que o italiano Valter Lavitola intermediou o pagamento dessas propinas pagas pela empresa brasileira pela obra do metrô daquele país

Publicado em 17/03/2015 às 14:17

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Depoimentos feitos à Justiça italiana mencionam o suposto pagamento de propinas da Odebrecht no Panamá para garantir um contrato público. As declarações reforçaram que o italiano Valter Lavitola intermediou o pagamento dessas propinas pagas pela empresa brasileira pela obra do metrô daquele país.

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Lavitola falou do envolvimento da empresa brasileira ao repórter espanhol Joan Solés, numa declaração que acabou se transformando em um dos elementos do processo contra o italiano. A entrevista, publicada no Panamá nos dias seguintes ao encontro, levou a Justiça italiana a convocar o jornalista para depor. As declarações de Lavitola tornaram-se evidências contra ele mesmo no processo que corre em Nápoles e reforçaram a suspeita de participação da Odebrecht no esquema. A revelação faz parte dos autos do julgamento que corre na Itália, foi aceita pelo Tribunal de Nápoles e não foi questionada por Lavitola.

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No domingo, o jornal O Estado de S. Paulo revelou que a Procuradoria Antimáfia da Itália abriu investigação contra a Odebrecht num caso de corrupção no metrô do Panamá. Ela seria uma de muitas empresas envolvidas no esquema supostamente criado pelo ex-presidente do país Ricardo Martinelli. Por se tratar de uma operação da Antimáfia, o caso corre em sigilo, segundo informaram fontes ligadas ao processo. Nesse sistema, nem os investigados são informados.

Lavitola, na verdade, é o grande alvo das investigações. Provar que ele recolhia as propinas, de quem quer que seja, é a meta maior da divisão Antimáfia. Na apuração do caso, porém, as autoridades se depararam com a Odebrecht. Em nota ao jornal O Estado a Odebrecht declarou que "desconhece qualquer investigação relacionada à obra do metrô do Panamá". Também ressaltou que "nega veementemente que tenha feito o pagamento de suposta propina para Valter Lavitola". A empresa destaca que "o Consórcio Línea Uno, no qual a Odebrecht faz parte, disputou legitimamente a licitação, de acordo com as regras do edital, e foi declarado vencedor por obter pontuação superior ao consórcio concorrente".

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Entrevista

A entrevista de Lavitola a Solés foi feita no dia 19 de junho de 2013. O italiano o recebeu em sua casa, em Roma, enquanto estava em prisão preventiva domiciliar. Naquele mesmo ano, o jornalista foi convocado a prestar depoimento e narrou todos os detalhes da conversa. No dia 26 de outubro de 2013, Solés declararia à Justiça italiana como encontrou com Lavitola e como ele narrou, numa conversa que durou cinco horas, que o esquema não incluía apenas empresas italianas no pagamento de propinas.

"Ele (Lavitola) fez referência à parte mais importante daquela renda, que vinha de uma propina do contrato da Metropolitana do Panamá (o metrô) a uma empresa do Brasil", disse o jornalista diante da Justiça. A empresa brasileira que venceu a licitação foi a Odebrecht. O Ministério Público reforçou a pergunta, para saber se Lavitola teria dito que era intermediário "não apenas de empresas italianas, mas também do Brasil. A resposta foi: "Sim".

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"E qual era a consequência disso?", questionou a Justiça. Em sua resposta, Solés apontou que o italiano declarou que "conhecia todo o dinheiro que confluía a essas contas cifradas em um paraíso fiscal". Em outro trecho, o repórter relata que Lavitola havia dito que "o contrato (do metrô) foi concedido aos brasileiros por um preço muito superior". "E falamos dos desvios de propinas a contas correntes cifradas", relatou.

"Acredito que ele (Lavitola) tenha dito que US$ 300 milhões correspondiam à propina do metro", declarou aos juízes. Segundo uma transcrição da conversa, Lavitola declarou que, "em quatro anos, muito havia vindo do Brasil, do metrô". E mencionou que "teriam US$ 850 milhões ou US$ 900 milhões em contas bancárias cifradas". Lavitola admitiu que organizava o pagamento das propinas e direcionava os valores a paraísos fiscais. Vinte por cento do dinheiro ficava com ele pelos serviços. A declaração foi aceita pelo tribunal que, em fevereiro, condenou Lavitola. 

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