O projeto começou quando a artista de rua Aline Benedito, a Fixxa, convidou a dentista Luciana Oliveira para montar o Procomum / Nair Bueno/DL
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Em tempos em que é possível encontrar em Santos farmácias de grandes redes a cada esquina, uma dentista e uma artista/arte-educadora decidiram resgatar aquilo que há de mais ancestral na cura de doenças: as plantas medicinais.
É nos fundos da casa do Instituto Procomum, nº 52 da Rua Sete de Setembro, no bairro Vila Nova, em Santos, que funciona há um ano um jardim medicinal com mais de 20 tipos de plantas diferentes que muito provavelmente você já encontrou pelo caminho, mas não sabia que chás, xaropes, tinturas (preparação que extrai os princípios ativos das plantas medicinais usando álcool), enxaguantes bucais e preparações para banhos de assento e escalda-pés poderiam ser feitos a partir delas.
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"O Pop Rua Medicinal nasceu para ajudar as pessoas a identificar quais plantas de jardim, que muitas vezes nascem espontaneamente, podem ser usadas com fins medicinais e ensinar como esses medicamentos naturais são feitos", explica a dentista e pesquisadora em Odontologia natural, Luciana Oliveira, de 47 anos.
O projeto começou quando a artista de rua Aline Benedito, a Fixxa, de 39 anos, que é adepta da medicina natural e sempre utilizou as plantas em suas criações, convidou a dentista para montar o projeto no Procomum.
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Onde antes só havia um pé de limão e uma aroeira, virou casa de espécies como guaco, perpétua, orégano, bálsamo, erica, melissa, arruda, maria-sem-vergonha, doril, guiné, maria-mole, lavanda, entre outras. Na casa também foi criada uma pequena farmácia, onde Luciana realiza suas pesquisas e tem um estoque para a preparação dos medicamentos.
"É o resgate da cultura que está esquecida. Quando as pessoas ficam doentes, não interessa muito a causa, mas sim fazer passar a dor e é importante prestar atenção porque a doença é o corpo falando. As plantas devolvem a autonomia do cuidado consigo e tiram aquela ideia de que só o conhecimento acadêmico é válido, além de ser uma forma de remédio muito mais acessível, necessitando somente de água, planta e álcool (aguardente), no caso das tinturas", esclarece Luciana.
A pesquisadora ressalta que algumas plantas são tóxicas se consumidas em grande quantidade, por isso é importante estudar antes de fazer uso. "Não é porque um chá é natural que pode ser bebido à vontade. Geralmente o consumo ocorre três vezes ao dia, pela manhã, pela tarde e à noite", alerta.
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No Brasil foi criada pelo Ministério da Saúde, em 2006, a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos e, em 2008, o Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. O objetivo de ambos é "garantir à população brasileira o acesso seguro e o uso racional de plantas medicinais e fitoterápicos, promovendo o uso sustentável da biodiversidade, o desenvolvimento da cadeia produtiva e da indústria nacional".
POUCO UTILIZADA.
O interesse de Luciana pela medicina natural surgiu há seis anos, quando ela se tornou alérgica a aditivos químicos.
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"Tive uma urticária muito agressiva que gerou muitas feridas, ficava com o corpo coçando 24 horas por dia. Foram dois anos indo a diferentes médicos que só me receitavam corticoide, anti-inflamatórios e antialérgicos. Digo que a doença me "curou", porque através dela eu mudei o olhar até para o meu trabalho", conta.
"Vi que não queria mais a odontologia convencional, em que o paciente chega, você faz o procedimento, passa um remédio e pronto. O ser humano é muito mais do que isso. Passei a pesquisar sobre odontologia natural e hoje receito somente chás, tinturas, enxaguantes que o paciente mesmo pode fazer etc.
Luciana lamenta que são poucos os médicos e dentistas, profissionais autorizados a prescrever medicação, que utilizam esse tipo de cuidado com a saúde. "Muitos não acreditam na medicina natural, mas é preciso reconhecer que o conhecimento não está somente nas mãos dos que usam aventais brancos".
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Em maio deste ano, o projeto deu início oficialmente às oficinas abertas ao público, que ocorrem uma vez por mês e ensinam como identificar as plantas e preparar os medicamentos. Toda terça-feira, às 18h, há práticas de autocuidado. A programação pode ser vista nas redes sociais: Instituto Procomum, no Facebook, e Procomum, no Instagram.
ARTE COM PLANTAS.
Muito mais do que curar uma dor de cabeça ou um resfriado, a intenção de Fixxa é que as plantas ajudem a curar as dores da alma.
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"O Pop Rua Medicinal será utilizado como arteterapia. O principal propósito é conduzir os participantes a se descobrirem e fortalecer suas condições psicológicas com a arte, que por si só, possui propriedades curativas", explica.
As plantas do quintal serão os modelos para os desenhos que depois serão transformados em lambe-lambe, linguagem de arte de rua que consiste em papel jornal colado na parede com cola de polvilho. A iniciativa tomará as ruas assim que um carrinho ateliê ficar pronto.
"Os pôsteres confeccionados servirão de material artístico para a intervenção de um mural que será feito na Bacia do Mercado, lugar que necessita de arte".
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