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Bruno Gutierrez
Ser inserido no mercado de trabalho tem sido uma luta para o técnico de rede Laerte Basílio de Oliveira, de 38 anos. Deficiente auditivo, ele alega que sofreu preconceito enquanto trabalhava em uma empresa terceirizada, que realiza serviços para um banco, em Santos.
Oliveira diz que tinha sido contratado para uma função, mas foi mandado para outra por ser deficiente. “Eu fui fichado como técnico de rede, mas o encarregado me mandava retirar entulho, consertar câmera de monitoramento. Tive que trabalhar em um local de risco, sem ter nenhum equipamento de segurança”, disse.
Se sentindo constrangido e insultado, o profissional chegou a gravar uma conversa com o encarregado pelo serviço. “Na gravação, ele me diz que se soubesse que eu era deficiente, nem tinha me contratado. Ele gritava muito comigo. Falava diversas grosserias”, contou.
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Laerte trabalhou por duas semanas na empresa, antes de ser demitido. Por tudo que passou, ele decidiu entrar com uma ação trabalhista por danos morais. Enquanto o caso corre na Justiça, ele segue na busca por emprego. “Eu sou trabalhador! Só quero trabalhar. Quero uma oportunidade”.
O problema é compartilhado também pela administradora Viviani de Castro Maldi, de 35 anos. Desde o ano passado trabalhando em uma empresa que presta serviços empresariais, ela fala sobre as dificuldades para encontrar emprego. “É complicado. Normalmente querem pessoas que falem ao telefone e que se comunique com o público em geral. Para um deficiente auditivo isto é inviável. A impressão é de que as pessoas que contratam mal leem os currículos ou não têm noção de que os deficientes auditivos possuem algum tipo de limitação”.
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Viviani revelou que já sofreu bulling por parte de um um ex-colega de trabalho em outra empresa, mas que também existem companheiros que ajudam. Para a administradora, falta uma maior divulgação sobre a deficiência auditiva.
“A informação não é massificada. As empresas, muitas vezes, esquecem que temos competências, e que podemos de alguma forma agregar valor à organização. Como em todas as empresas algumas pessoas não são atenciosas, e não têm a devida paciência com os portadores de deficiências. Mas é uma coisa comum que temos que aprender a relevar”.
Ela acredita que ainda existe o preconceito em relação a deficientes no mercado de trabalho, e que as empresas preenchem as vagas destinadas a eles de qualquer forma. “A percepção é que as cotas são preenchidas de qualquer maneira, e esquecem do desenvolvimento profissional. De uma forma geral, percebo que existe um preconceito para com os portadores de deficiência. O ideal seria as empresas entenderem um pouco mais cada tipo de deficiência para que dentro da empresa possam utilizar essa mão de obra. No meu caso, por exemplo, sou formada em Administração de Empresas e não consigo um emprego onde eu possa me sustentar sem o auxílio de parentes”.
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Lei de cotas
A lei de contratação de Deficientes nas Empresas, de 24 de julho de 1991, diz que uma empresa com 100 ou mais funcionários está obrigada a preencher de dois a cinco por cento dos seus cargos com beneficiários reabilitados, ou pessoas portadoras de deficiência. Até 200 funcionários, a cota é de 2%. De 201 a 500 funcionários, esse número sobe para 3%. Em uma empresa de 501 a 1000 funcionários, a meta é de 4% e de 1001 em diante funcionários, o local é obrigado a ter 5% do quadro ocupado por deficientes.
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