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Não adianta a vizinhança reclamar. Em Guarujá, parece que alguns feudos se mantêm firmes e sem o menor pudor na hora de agir. Agora, os moradores mais abastados do bairro do Guaiúba resolveram não só colocar barreiras nas ruas (como na Walter Narciso do Amparo), contrariando a vontade da maioria dos moradores do entorno, como também chumbar vasos nas calçadas, dificultando o acesso de idosos e portadores de necessidades especiais.
Mais do que a falta de noção de cidadania, a arbitrariedade atinge a casa da insensibilidade. Por meio de um regramento definido pela direção da Associação de Bairro do Guaiúba, o portador de necessidade especial só tem 15 minutos para embarcar ou desembarcar do veículo que o traz à praia.
O leitor está surpreso com essa turma que segue na contramão dos avanços da legislação e do mundo civilizado? Pois ela vai mais além: conforme placa afixada nas novas barreiras de alvenaria, até a Prefeitura de Guarujá é proibida de entrar fora do horário estipulado. Serviços públicos, como recolhimento de lixo, só pode das 7 às 21h.
Essa questão não é nova em Guarujá. Ano passado, o DL publicou a questão das barreiras. Mas, se valendo de uma lei discriminatória e que só existe na Pérola do Atlântico — conhecida como a de Microrregião Urbana — os poucos privilegiados do Guaiúba conseguiram “dar de ombros” aos vizinhos e instituir um novo “apartheid”, em pleno 2013.
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Como sempre, por se tratar de casas de veraneio, os responsáveis pela “obra” não foram localizados. Em 2012, após reportagem do DL, a Prefeitura arrancou uma cancela de madeira no mesmo lugar, por meio de uma retroescavadeira. Como agora, a barreira interrompia o trânsito, tornando a rua uma área particular. Um pouco diferente de agora, a barreira anterior havia sido construída sem dar acessibilidade a deficientes físicos. O mesmo ocorria com outra na Rua Antonio Benedito de Moura, que era de ferro e foi removida pela Prefeitura. As atuais dão acesso só em um dos lados.
A Polícia Ambiental — que tem sede a 300 metros do local — continua tendo dificuldades de mobilização. As viaturas, por exemplo, têm que trafegar pelo calçadão da praia, pondo em risco a vida das pessoas e burlando as leis de trânsito. O mesmo ocorre com as viaturas da Polícia Militar, da Guarda Municipal, ambulâncias e carros de bombeiros que, com as barreiras, para entrar na Rua Walter Narciso do Amparo têm que dar uma grande volta, usando o calçadão como malha viária.
Hoje, se uma família quiser pisar na areia, tem que deixar o carro longe e caminhar a pé até a praia. “Isso só existe em Guarujá. Se isso ocorresse em Santos, a situação seria diferente, pois lá existe civilidade. Lá, todos pagam impostos e têm os mesmos direitos. Aqui, ninguém faz nada. Uma vergonha. Um grupo de moradores faz o que quer, coloca barreira, vaso para impedir acesso e até faz placa com o logotipo da Prefeitura”, disse moradora.
Uma jovem, que passava de bicicleta, também não concorda com a situação. “Atrapalhar a passagem de pedestres é um absurdo. Isso não deveria acontecer. É preciso respeito com os outros”.
Velhas tentativas
A tentativa de restringir a circulação de veículos não é novidade no Guaiúba. Há aproximadamente 10 anos, a associação do bairro tentou utilizar a mesma lei municipal para inibir a circulação de ônibus municipais na Avenida Humberto Prieto Peres — principal via de acesso à praia.
Por algumas semanas, os ônibus não puderam circular no bairro. Mas, depois de muitos protestos da população, principalmente de caseiros, domésticas e outros tipos de trabalhadores, o prefeito Maurici Mariano, autor da iniciativa, teve que recuar e solicitar que a empresa de ônibus restabelecesse os itinerários.
Apesar de inúmeras associações de bairros tentarem usar a lei das microrregiões urbanas para impedir o acesso ao bairro por não moradores, a lei acabou não tendo a eficácia. Somente o Guaiúba insiste em utilizar a legislação.
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