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A decisão do soldado Bradley Manning de viver como uma mulher e mudar seu nome para Chelsea cria um desafio para o Exército norte-americano, já que ele foi condenado a 35 anos de prisão por um tribunal militar pelo maior vazamento de informações secretas da história dos Estados Unidos.
Um dia depois da sentença, proferida na quarta-feira, Manning anunciou sua decisão e afirmou querer iniciar um tratamento hormonal. Os transtorno de gênero do soldado - a sensação de ser uma mulher presa num corpo masculino - foi apresentada pela defesa durante o julgamento de Manning. Uma fotografia do soldado usando uma peruca loira e batom foi apresentada como evidência.
Mas a decisão, anunciada na manhã seguinte à sentença, surpreendeu muitas pessoas e coloca o Pentágono de frente com questões sobre onde e como Manning será aprisionado. O ex-analista do Exército fez a declaração de sua decisão na quinta-feira, em comunicado fornecido ao programa "Today", da rede NBC.
"Como uma transição para a próxima fase da minha vida, eu quero que todos conheçam meu verdadeiro eu. Eu sou Chelsea Manning e sou mulher. Tendo em vista que sinto isso e tenho sentido desde a infância, quero começar a terapia hormonal o mais rápido possível", diz o documento, que pede que as pessoas usem o pronome feminino quando se referirem a Manning. O comunicado estava assinado por "Chelsea E. Manning" e tinha uma assinatura.
O advogado do soldado, David Coombs, disse ao "Today" que espera que os oficiais da prisão militar de Fort Leavenworth, no Kansas, providenciem o tratamento hormonal requerido por Manning, que geralmente envolve altas doses de estrogênio para desenvolver os seios e outras características femininas.
Mas o porta-voz de Leavenworth, George Marcec, disse na noite de quinta-feira que se ele quer ser chamado de Chelsea na prisão, a mudança de nome deve ser aprovada no tribunal e, então, uma petição dever ser submetida ao Exército para que os registros do soldado sejam alterados.
George Wright, porta-voz do Exército no Pentágono, disse que o Exército não fornece tal tratamento ou a cirurgia de troca de sexo. Ele afirmou que soldados atrás das grades têm acesso a psiquiatras e outros profissionais de saúde mental.
Já o advogado Coombs disse que fará "tudo o que puder" para garantir que Manning consiga o tratamento. Organizações como a American Civil Liberties Union, a Human Rights Campaign e outros grupos de defesa de gays, bissexuais e transgêneros disseram que Manning tem direito ao tratamento.
"Nos Estados Unidos é ilegal negar atendimento médico aos prisioneiros. Isto está estabelecido em jurisprudência", disse Mara Keisling, diretora-executiva do National Center for Transgender Equality. "O Exército pode afirmar que isso não é uma questão de saúde, mas tem o peso da medicina e da ciência contra eles."
Uma política do Escritório Federal de Prisões, que passou a vigorar no ano passado, exige que prisões federais ofereçam tratamento, dentre eles o hormonal se necessário, para prisioneiros diagnosticados com desordem de identidade de gênero, mas o escritório supervisiona apenas prisões civis.
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