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No último domingo, dia 11, Dia das Mães, os familiares e amigos da dona de casa Fabiane Maria de Jesus se organizaram em passeata para pedir paz à cidade do Guarujá. Cerca de 100 pessoas se reuniram com cartazes e camisetas com a foto da mãe de 33 anos. O cunhado, na última semana, já previa que a adesão do movimento não seria tão grandiosa quanto o número de agressores e expectadores da barbárie que aconteceu no último dia 3 de maio. “Se tiveram coragem de filmar e presenciar aquela violência, por que não participar da passeata? O bairro não merece a imagem que foi pintada na mídia por causa do espancamento da Fabiane”, questionou o cunhado da vítima, José Nildo das Neves, em entrevista ao DL.
O objetivo da ação, além de pedir paz para o bairro onde aconteceu a violência, era conscientizar a população para que este tipo de crime não volte a ocorrer. “O que nós estamos querendo aqui é abrir a cabeça dessa população que justiça não se faz com as próprias mãos. Toda ação tem uma reação. Eu já ficava indignado de ver pessoas de outras famílias sendo agredidas.
Estamos tentando organizar uma passeata pela paz no domingo (dia 11) para tentar limpar a imagem da cidade e eu espero aquelas centenas que assistiram aquele circo de horrores, inclusive aquelas mães que levaram seus filhos para assistir aquela barbaridade, que levem agora seus filhos para pedir pela paz. Eu só estou cobrando justiça, sem agressão”, explica.
Por mais que tentem, a família de Fabiane não consegue entender os motivos que levaram a população do bairro Morrinhos a tal brutalidade. “Não existe palavra no vocabulário mundial que defina o que essas pessoas fizeram com a minha cunhada. A minha família não quer dinheiro. Lá na frente, vocês podem me cobrar. A gente vai entrar com processo para angariar fundos porque a gente quer dignidade humana. Mas a minha cunhada não teve o direito de falar e nem se defender. A primeira entrevista que eu dei, protegendo o meu irmão que estava emocionalmente abalado, eu clamei, perante a Constituição brasileira, o direito de defesa dos meliantes que fizeram isso com a Fabiane. Eu fui o primeiro a pedir justiça limpa e clara. Estamos aqui procurando justiça para que não aconteça com outra família brasileira”, conta.
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José Nildo garante que a família teve apoio de poucas pessoas após a morte da dona de casa e se defende contra acusações de que todo movimento seja fruto de politicagem. “Nós estamos sendo acusados de palhaçada política. Só que aqui não tem nenhum palhaço. Nós somos pessoas sérias, pessoas trabalhadoras. Eu coloco como palhaçada porque quando o meu irmão precisou ninguém apareceu para ajudar. Ninguém, nem os Direitos Humanos. Se ela fosse realmente a sequestradora, os Direitos Humanos seriam os primeiros a aparecer. Até hoje (dia 8), ninguém apareceu para falar com a minha família. Estes são os verdadeiros palhaços. Na hora de defender bandido, eles vão lá, mas na hora de defender cidadão de bem, eles não aparecem. Se isso aqui fosse politicagem, eu seria o primeiro a expulsar eles da minha porta. Três políticos da cidade mandaram uma coroa de flores e mais nada. Está difícil lutar sozinho”, lamenta.
Além disso, o cunhado de Fabiane afirma que não aceita a desculpa de que as pessoas que agrediram a dona de casa sejam mal educadas ou sofrem com a desigualdade social. “Muita gente fala da nossa educação e da desigualdade social do nosso País, mas é fácil reclamar da educação do País. É fácil por a culpa no professor. Uma coisa que eu sempre bato na mesma tecla: educação vem de casa. A escola te ensina o caminho para ser um bom profissional. Não justifica morar na palafita ou no morro e ser agressor. Nós viemos do morro e moramos em área plana hoje com muita luta da família. Nós temos profissão e vivemos nossa vida honestamente. Desigualdade social não significa que você tem que ser violento para conseguir as coisas. Quanta gente mora na palafita, trabalha, cria os filhos, educa e não é violento? Colocar a culpa desta barbárie na educação ou na desigualdade social é hipocrisia. O que leva à violência é falta de caráter, família destituída com pai e mãe que não mostram o que é certo e o que é errado. Agora imagina como estarão, daqui cinco ou dez anos, aquelas crianças que assistiu aquele circo de horrores. Ai quando vai uma reportagem lá no bairro, o povo diz que sofre por causa da desigualdade social. É ser muito hipócrita”, argumenta o eletricista de manutenção.
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É fácil perceber a emoção nas palavras do irmão de Jaílson das Neves ao falar da cunhada. É fácil perceber a revolta em seus olhos ao se lembrar dos vídeos com as agressões que Fabiane sofreu. No entanto, ao falar dela, José Nildo garante que o carinho que os familiares e amigos demonstraram durante o velório descrevem o que a mãe de Yasmin (10 anos) e Ester (1 ano) era. “No dia do velório, que estava cheio, me perguntaram quem era a Fabiane. Eu apontei para a quantidade de gente que estava lá e disse que aquela imagem valia mais do que mil palavras. Inclusive apontei para a minha avó, de 87 anos, que estava lá segundo a barra da minha mãe. Quem bateu na Fabiane em nenhum momento pensou nas pessoas que magoaria, que ela tinha avó, mãe, filhos e amigos que a amavam”, se emociona, garantindo que o único desejo da família é a justiça. “Nós só pedimos justiça limpa e clara, não vamos partir para a violência. E tomamos cuidado, porque qualquer palavra mal usada por gerar mais conflitos”.
Observatório da Imprensa debaterá a polêmica
A morte de Fabiane levantou polêmicas e discussões sobre a disseminação de notícias, ou melhor, boatos compartilhados nas redes sociais. A dona de casa foi linchada por seus vizinhos que registraram o fato em vídeo. Ela foi confundida com uma sequestradora de crianças de um retrato falado extraoficial publicado na página “Guarujá alerta”, do Facebook. A página, com mais de 55 mil seguidores é uma referência na região pobre, como uma prestadora de serviço para a população local.
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O caso da dona de casa chocou a sociedade, mas não é raro. Só neste último ano seis “justiçamentos” receberam destaque da grande mídia. Por isso, o Observatório da Imprensa quer analisar o assunto sob o ponto de vista da responsabilidade da mídia formal e informal na amplificação dos casos de violência. Hoje, o programa “Observatório da Imprensa na TV” irá debater o assunto e contará com o depoimento da reportagem do Diário do Litoral sobre o caso. O programa será exibido às 20 horas, na TV Brasil, canal 2, na TV aberta. A reprise passará à meia-noite.