Cotidiano

Crise grega pode atrasar a recuperação da economia mundial, dizem economistas

Nesta terça-feira, as atenções do mundo financeiro estão voltadas para a Grécia, que precisa pagar a parcela € 1,6 bilhão devida ao Fundo Monetário Internacional

Pedro Henrique Fonseca

Publicado em 30/06/2015 às 14:53

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A crise grega pode atrasar a recuperação da economia global, incluindo o Brasil, com risco de colapso de moedas. A avaliação é do professor de Finanças do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibemec-Rio) Gilberto Braga.

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Nesta terça-feira, as atenções do mundo financeiro estão voltadas para a Grécia, que precisa pagar a parcela € 1,6 bilhão devida ao Fundo Monetário Internacional (FMI). A expectativa é que haja um acordo, mas o país pode deixar de pagar e indicar que está abandonando a zona do euro.

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Segundo o professor, é difícil dimensionar as consequências da saída da Grécia do bloco. “Poderia haver uma ruptura completa do sistema da União Europeia”. O professor destaca que há um esforço para ceder e manter a Grécia na União Europeia, mas sem que credores “passem a mão na cabeça” do país.

Para o Brasil, Braga considera que a crise pode desestimular investimentos estrangeiros, devido ao clima de desconfiança. “Os investidores ficam mais cautelosos na decisão de investir. Já não temos um cenário favorável no Brasil, devido às condições econômicas e à crise política”. Além disso, a oportunidade de o Brasil vender mais produtos ao exterior, aproveitando a alta do dólar, também é afetada. “É um balde de água fria nesse esforço [de aumentar as exportações brasileiras]”, disse.

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O economista Róridan Duarte, do Conselho Federal de Economia, destaca que, de imediato, o impacto para a economia grega é avassalador, com graves consequências no bloco. Embora, avalie que se os gregos aceitarem as condições colocadas pela troika – palavra russa que denomina três comitês, no caso a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu (BCE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) ) - continuarão com problemas para o comprimento dos acordos, que inclui, entre outras itens, aumento de impostos, elevação na meta de superávit primário e a elevação da idade mínima para as aposentadorias para os homens para 67 anos.

“De imediato, a Grécia teria de substituir o euro pela antiga moeda do país - o dracma - mas o reflexo maior seria para a própria zona do euro”, disse.

Segundo ele, os países da periferia do euro teriam problemas com o contágio que isso poderia ocasionar. “Já se sente isso, principalmente no sistema financeiro, com a queda nas bolsas. Portugal, Espanha, Irlanda e até mesmo a Itália podem ser afetados”, acrescentou.

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Com relação ao Brasil o efeito maior seria em relação às expectativas, incluindo os agentes financeiros. Ele lembra que, desde o início da crise, em 2008, parece ser bem nítido que a resposta que a Europa tem dado é insuficiente se comparada com outros blocos econômicos.

“Estados Unidos, Reino Unido, China buscaram mais uma resposta de estímulo à economia, de retomada do crescimento: política monetária ativa, com o aumento da moeda em circulação. A Europa procurou o caminho inverso. Uma receita ortodoxa e está colhendo os frutos disso”, pondera.

Na avaliação do economista, quem se beneficia dessa receita, dentro da Europa, foram os países centrais, como a Alemanha e França. Mas a periferia, como ele define Portugal, Espanha, Irlanda, sofreu e continua sofrendo as consequências da retração devido à resposta frágil à crise.

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Róridan Duarte destaca que alguns analistas acreditam que, a depender das consequências, a crise pode chegar na Itália contagiada pela ligação que a economia italiana tem com a grega no comércio exterior, pela proximidade, pelo fluxo de turistas etc.

Para o Brasil, um dos problemas seria a possibilidade de mais elevação nas taxas de juros. Isso já começa a aparecer no horizonte futuro porque a curva das taxas já começa a reagir a essa problemática na Europa. Para o economista, se isso vier a acontecer o risco é de uma correria para ativos mais seguros, como dólar e títulos do tesouro americano. Sobretudo com a possibilidade e a perspectiva de subida dos juros nos Estados Unidos. A atratividade que esses ativos têm, analisa, seria potencializada levando a uma saída maior de dólar do Brasil em direção a outros ativos mais seguros. Esse seria, assim, o reflexo mais direto para a economia.

Existe porém um reflexo indireto que não é desprezível, segundo ele. “O retardo na recuperação da economia mundial seria muito prejudicial para o Brasil nesta altura do campeonato. A gente está tentando retomar o comércio exterior e buscando redirecionar o motor da economia para o comércio exterior e isso seria um baque neste momento”.

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Duarte diz que, no seu modo de ver, a Grécia fez a coisa certa porque colocou o elemento político e democrático na decisão. Tradicionalmente, esses organismos como o FMI, Banco Europeu e a própria Comissão Europeia tomam decisões de cúpula e burocráticas.

“Há um contrato, tem de pagar. Que não pagar [está sujeito a] determinadas sanções. Mas o governo grego foi eleito justamente para não ceder a essas pressões e evitar esse receituário”, disse.

Acrescentou que, democraticamente, o governo grego chamou a população, introduzindo um componente político e democrático para que a decisão seja submetida a um referendo.
Ele ressalta que o próprio o ministro grego da Economia, George Stathakis, já antecipou que, se a população decidir acatar as medidas da troika, será para outro primeiro ministro porque ele não fica.

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Em um cenário mais otimista, espera-se que o FMI ceda em alguns pontos, que antes pareciam inegociáveis e tente voltar à mesa de negociação. Por outro lado, o governo já sinaliza suspender o referendo se as negociações forem em outras bases, o que seria um bom sinal para os credores.

Para os brasileiros que pensam ir à Grécia nos próximos dias, o economista destaca que em situação de crise, normalmente, os gastos nesses lugares ficam mais baratos para os turistas. Existe porém um olhar sobre a possibilidade de distúrbios e falta de moeda. Um problema, porém, residual.

O vice-presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav) Nacional, Leonel Rossi Junior, disse que a crise não deve afetar a ida de brasileiros para o país. “Pelo contrário, a Grécia está muito barata. Não existe grande problema. Houve algumas passeatas, mas foram 13 mil pessoas. E os turistas já vão com hotel marcado e em grupos. Muitos viajam de navio, ficam três dias em Atenas e depois vão visitar as ilhas”, disse Rossi Junior. Ele acrescentou que a única precaução é levar dinheiro em espécie para o caso de ter alguma dificuldade de fazer saques.

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De acordo com Rossi Junior, a Grécia não está entre os países que mais atraem os brasileiros. Dos 17 milhões de turistas que aquele país recebe por ano, 40 mil são brasileiros. Os principais destinos dos brasileiros são Itália, França, Portugal, Suíça, disse Rossi Junior.

Segundo Rossi Junior, o que deve reduzir em 7% o turismo dos brasileiros ao exterior este ano é a crise econômica brasileira. “Não é o dólar o problema. Há uma inquietude dos brasileiros em relação ao seu emprego e seus negócios. Estão mais precavidos para gastar com automóveis, eletrodomésticos e viagens também”, disse.

Gastos públicos elevados e descontrole das contas, entre outros motivos, levaram a Grécia à atual situação. País incluído na zona da euro, a Grécia terminou recorrendo à troika tomando empréstimos de mais de 100 bilhões de euros em 2010 e colocando a população em um grande aperto financeiro. A situação só piorou. No início do ano, Alexis Tsipras, líder da legenda radical de esquerda Syriza, venceu as eleições prometendo renegociar a dívida com os credores internacionais, além da política de austeridade.

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