Cotidiano

Covid-19: onda de contaminação atinge professores da Baixada Santista

Depois do retorno às aulas presenciais, somente em duas escolas da Baixada, 14 professores se contaminaram. Um faleceu.

Carlos Ratton

Publicado em 03/03/2021 às 07:00

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Os relatos mostram preocupação dos que ainda não foram atingidos e desespero dos já contaminados e que lutam pela vida nos hospitais da região / Marcos Santos/USP Imagens

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A Covid-19 está atingindo em cheio educadores da Baixada Santista. Em menos de uma semana, duas professoras - de uma creche em Santos e outra de uma escola estadual em Guarujá - resolveram entrar em contato com a Reportagem para contar o drama ao qual elas e colegas estão passando. Elas pediram o anonimato. Um professor de 40 anos faleceu uma hora depois de ser transferido para o Hospital Santa Amaro, em Guarujá.

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Os relatos mostram preocupação dos que ainda não foram atingidos e desespero dos já contaminados e que lutam pela vida nos hospitais da região. Exemplos do que deve estar ocorrendo, ainda silenciosamente, em inúmeras escolas, porque os professores têm medo de se identificar por conta da possibilidade de serem punidos - no caso dos concursados - e, em alguns casos, perder o emprego nas unidades conveniadas no meio da pandemia.

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Um dos relatos é de uma professora da Creche Casa Mágica, localizada à Rua Ricardo Pinto, em Santos, conveniada da Prefeitura. Uma professora, que já apresentou sintomas de Covid, revela que a unidade atende do Berçário ao Jardim de Infância e que cerca de cinco professoras contraíram a doença.

"O tapete higiênico foi usado somente nas primeiras semanas de retorno às atividades. Duas professoras estão afastadas e três estão trabalhando normalmente. A creche não segue as normas de segurança e não é fiscalizada. Não há máscaras e nem distanciamento. As aulas seguem com cerca de 10 alunos por sala. Os funcionários estão preocupados e a ordem da Direção é negar que pegou Covid, inclusive nas redes sociais", revela.

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GUARUJÁ.

Em Guarujá, a situação ainda é mais grave e ocorre na Escola Estadual Ignácio Miguel Estéfno, Avenida Desembargador Plínio de Carvalho Pinto, na Enseada, em que nove professoras já foram afastadas por Covid-19. O professor Paulo Henrique Camargo, de 40 anos, faleceu na última segunda-feira à tarde depois de ter ficado uma semana no Pronto Atendimento Médico (PAM).

"Abriu vaga no Hospital Santo Amaro, ele foi transferido para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI), mas foi tarde demais. Outro professor conseguiu se recuperar após internação no Hospital Vitória, mas encontra-se com síndrome pós-Covid, com fraqueza nas pernas, braços e cansaço extremo. Outro também encontra-se com Covid juntamente com a filha e a esposa. Todos têm menos de 45 anos", afirma a educadora.

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A Direção da escola resolveu suspender as aulas ontem para uma reunião, em luto à morte do professor e para higienização. A professora revela que o medo da nova variante está gerando pânico entre os funcionários. Não há segurança para compartilhar banheiro ou sala dos professores, pra comer ou beber água. Trabalhar com máscara hospitalar e o face shield por horas também é extremamente exaustivo. As salas não apresentam ventilação adequada.

"Há muitos casos escondidos pelas escolas. Eu trabalho de face shield e máscara hospitalar porque comprei. O face shield distribuídos pela escola é de material inferior e não oferece a segurança necessária. Na teoria, tudo é muito simples mas, na prática, o retorno as aulas está virando um filme de terror. A impressão que tenho é que jogaram a gente num campo de batalhas com uma tropa de inimigos invisíveis", relata.

No último dia 25, professores de Santos, apoiados pelo Sindicato dos Funcionários Públicos Municipais de Santos (Sindserv), realizaram uma greve de 24 horas para tentar sensibilizar Prefeitura e Governo do Estado sobre o perigo das aulas presenciais.

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SECRETÁRIO E SINDICATO.

O secretário estadual da Saúde de São Paulo, Jean Gorinchteyn, disse ser favorável à suspensão das aulas presenciais nas escolas.

"Isso é um tema que estamos discutindo. Se estamos entendendo que as pessoas estão ameaçadas frente ao vírus, frente a um colapso, temos de avaliar a circulação das pessoas em situações que poderiam ser evitadas e uma delas é a escola", disse Gorinchteyn na manhã de ontem, em entrevista à Rádio CBN.

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Ontem, o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) divulgou uma lista de casos de contaminação por Covid-19 em pessoas que trabalham presencialmente nas escolas estaduais: são 1730 casos em 803 escolas. Há casos também nas escolas particulares.

PREFEITURA.

A Prefeitura informou, pela Secretaria de Educação (Seduc), que durante a visita à creche Casa Mágica, feita ontem, foi verificado que os professores usam máscara e face shield e o tapete sanitizante estava sendo utilizado, de acordo com os protocolos sanitários vigentes. Além disso, não foi observado aglomeração em nenhuma das salas.

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A entidade está com dois profissionais afastados, um com diagnóstico de dengue e outro chikungunya.

Finaliza garantindo que todas as escolas seguem os protocolos sanitários de segurança e receberam itens de proteção individual e materiais de higienização. O Estado não respondeu à Reportagem.

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