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Embora quase não saísse de casa e estivesse fora de cena desde "Toma Lá, Dá Cá" (2009), o humorístico da TV Globo em que vivia a lésbica caricata Deise Coturno, Norma Bengell nunca foi esquecida por seus pares, que lamentaram sua morte nesta quarta-feira, 09, e lembraram sua trajetória múltipla, de atriz, cantora, diretora e musa dos anos 60. Ela tinha 78 anos e estava internada desde sábado na Clínica Bambina, no Rio. Seu quadro era de câncer no pulmão, mas ela recusou tratamento, segundo contaram parentes e amigos. O corpo será cremado nesta quinta-feira, 10, e suas cinzas serão jogadas na pedra do Arpoador, local escolhido por ela.
Norma acompanhou a sofrida batalha da companheira, a produtora Sônia Nercessian, contra um câncer, e por isso preferiu não passar por sessões de quimioterapia. Sônia morreu em 2007, depois de 35 anos de relacionamento, e Norma, que descobriu estar doente há seis meses (já em estágio avançado), por conta do surgimento de uma trombose, nunca se recuperou.
Outros dissabores eram a decadência física - só se deslocava de cadeira de rodas desde que sofreu quedas em casa, em 2009 - e a falta de trabalho, causada não só pela imobilidade, mas também pelo problema fiscal nunca sanado decorrente do filme "O Guarani" (1996). As dificuldades financeiras a abalaram muito, mas a reparação recebida do governo federal por sua condição de perseguida política na ditadura a aliviou (foram R$ 100 mil, parcelados).
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Amigos tentaram convencê-la diversas vezes a combater o câncer, mas ninguém conseguiu. O cineasta Silvio Tendler confirmou que Norma desistira da vida. "Ela estava deprimida desde a morte da Sônia, que era seu esteio. As pessoas falam que seu grande amor foi (o ator italiano) Gabriele Tinti (seu marido), e se esquecem da Sônia. Norma tinha uma vida difícil, sem dinheiro".
Tendler está tocando um projeto da amiga, um documentário sobre o cartunista J. Carlos (1884-1950). Como tinha nome sujo, Norma não podia captar recursos. Um projeto pronto e que sairá este ano é a biografia escrita pela atriz por 15 anos, e organizada pela produtora Christina Caneca. Chama-se "Norma" e sairá pela editora NVersos. "Ela estava entusiasmada com o livro, só falava nisso", disse Christina.
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